Ainda antes de ser declarado o estado de emergência, os portugueses começaram naturalmente a ficar cada vez mais tempo em casa, com esse movimento a ter início entre 11 a 17 de outubro, três semanas antes de anunciadas as restrições de mobilidade nos 121 concelhos críticos.

Estas são algumas das conclusões que se podem retirar da análise aos dados da mobilidade dos portugueses, medidos pela PSE, empresa especialista em análise de dados e estatística. “Se nas semanas 40 a 42 o confinamento médio em dias úteis era de 29%, subiu agora, na semana 44 para 32,5% e na semana 45 para 32,7% dos portugueses do universo em estudo”, lê-se no comunicado de imprensa.

Para chegar a estes valores, são analisados os números que correspondem à tendência habitual de ficar em casa, o chamado confinamento natural e que, antes da pandemia ficava, na média semanal, entre os 25% e 28%.

É a partir da semana de 11 a 17 de Outubro, durante os dias úteis, que esse movimento se começou a sentir. “Este movimento de antecipação que se refletiu num aumento de confinamento adicional de cerca de 6% correspondeu ao movimento de cerca de 420 mil portugueses, e foi efetuado  essencialmente pela população ativa entre os 25 e 45 anos”, acrescenta o documento. “Neste movimento de antecipação do dever cívico de confinamento e de obrigatoriedade de  teletrabalho, confinou antecipadamente quem tinha possibilidade de confinar e de ficar em  teletrabalho.”

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A conclusão da PSE é clara: a população que tem possibilidade  de cumprir o dever de confinamento está a fazê-lo e há segmentos da população, os maiores de 60 anos, que contraem a sua mobilidade quando há mais casos de Covid-19. “Foi, aliás, este segmento que mais confinou na semana 45. Em suma, se parte da população ativa antecipou o confinamento, segmentos etários mais elevados responderam ao dever de confinamento.”

Para reduzir a circulação ainda mais e obter “níveis de confinamento superiores”, a PSE só vê duas hipóteses: “Com o encerramento das escolas (terceiro ciclo e superior) ou então com um novo confinamento total (lockdown) que o governo quer evitar”.

“Recolher obrigatório” já é comum entre os portugueses

Outra conclusão que se pode retirar — que põe em causa a dimensão do efeito prático da ordem de recolher obrigatório — é a de que os portugueses já passam muito tempo em casa entre as 23h00 e as 5h00, horário do atual recolher obrigatório. “Mesmo no período pré-pandemia, o confinamento noturno encontrava-se já entre os 88% e os 90% de população”, avança a PSE na nota de imprensa. Em abril, mês do primeiro pico da pandemia, o valor subiu para uma média de 96%.

Esta semana, esse valor voltou a ser atingido depois de decretado o recolher obrigatório e tanto na segunda-feira,  9 de novembro, como na terça-feira, chegou aos 97%.

Em contrapartida, os portugueses não deixaram completamente de sair de casa e a maioria da população ausenta-se do lar pelo menos uma vez por dia. “Durante a semana passada (semana 45), a percentagem de pessoas que saiu de casa pelo menos uma vez foi de 90%”, lê-se na nota, valor que desce para 87% se contarmos apenas com dias úteis.