Uma bola de fogo passou na madrugada de segunda-feira pelo céu no sul de Portugal, onde a luz, provocada por um meteorito, acabou por se extinguir. A bola de fogo, que percorreu o sudoeste da Península Ibérica, foi observada por um projeto científico espanhol a uma velocidade de 227.000 quilómetros por hora. À Rádio Observador, o astrofísico que observou o fenómeno explica que a bola de fogo se destruiu sobre o distrito de Évora, mas garante que foi possível observá-la no Porto.
O acontecimento foi detetado pelos sensores do projeto SMART, do Instituto de Astrofísica da Andaluzia (IAA-CSIC), dos observatórios astronómicos de Calar Alto (Almeria), Sevilha e La Hita (Toledo). Segundo a análise do principal investigador do projeto SMART, José María Madiedo, do IAA-CSIC, a bola de fogo foi registada às 3h49 de segunda-feira. Os responsáveis pelo projeto registaram o acontecimento num vídeo, onde mostram algumas imagens da bola de fogo e explicam a localização onde foi possível observá-la.
O fenómeno ocorreu quando uma rocha de um asteroide entrou na atmosfera terrestre a uma velocidade de cerca de 227.000 quilómetros por hora e, devido à sua grande luminosidade, pôde ser vista numa grande parte do sul e centro de Espanha. Nas redes sociais, Madiedo afirma que “as imagens mais espetaculares gravaram-se em Sevilha” onde foi possível ver a rocha com uma cor “verde-azulada”.
La roca estalló al final de su trayectoria generando un súbito aumento de brillo de la bola de fuego que convirtió la noche en día durante un instante @abcdesevilla @elCorreoWeb @RamonRMM @diariosevilla @Canvazmar @mjguzman40 @Efeciencia @EPAndalucia @20m @europapress pic.twitter.com/UT1w5qzeGz
— Jose Maria Madiedo (@jmmadiedo) November 16, 2020
À Rádio Observador, o astrofísico espanhol afirma que a bola de fogo se destruiu sobre o distrito de Évora mas foi possível avistá-la até no Porto.
Às 2h49, hora de Portugal, avistou-se uma bola de fogo muito brilhante que iluminou o céu noturno, sobretudo na parte sul da Península Ibérica. Nessa zona, foi muitíssimo mais brilhante do que no resto. Foi tão luminosa que pôde ver-se em praticamente toda a Península Ibérica.”, disse.
José María Madiedo explica que a bola de fogo surgiu a uma altitude de cerca de 132 quilómetros a oeste de Andaluzia e avançou desde Espanha até ao sul de Portugal, onde se destruiu a 61 quilómetros de altura do distrito de Évora.
José Maria Madiedo: “Bola de fogo destruiu-se em Évora e foi vista até ao Porto”
O brilho causado pela explosão “foi tão enorme que a noite se converteu em dia” no sul dos dois países e foi possível observá-lo a “uma distância de 500 quilómetros”.
Até ao Porto, seguramente foi vista [a explosão]. Porque a bola de fogo foi tão grande que teve que ser vista a uma distância de mais de 500 quilómetros. Muito provavelmente foi visto em todo o Portugal”, enaltece.
O astrofísico garante que a rocha se destruiu completamente a grande altitude, não havendo assim “restos perigosos” no solo português.
https://twitter.com/amigos_calar/status/1328470708163371008
Os detetores do projeto SMART operam no âmbito da Rede Meteorológica e de Observação da Terra do Sudoeste da Europa (SWEMN), que visa monitorizar continuamente o céu, com o intuito de registar e estudar o impacto na atmosfera terrestre de rochas de diferentes objetos do Sistema Solar.
Bolas de fogo têm sido comuns em Espanha, mas não em Portugal
Nas últimas semanas, estes acontecimentos não têm sido incomuns no céu de Espanha. No dia 7 de novembro, a estação de Valpuesta, em Burgos, detetou uma bola de fogo a sobrevoar a Zona Media de Navarra por volta das 23h51 (22h51 na hora de Lisboa) a 115.000 quilómetros por hora, segundo conta o jornal local Diario de Navarra. Há cerca de duas semanas, a 1 de novembro, o projeto SMART detetou outra bola de fogo a sobrevoar Espanha por volta das 19h53 locais. Segundo o Diario de Cadiz, foi possível observá-la na região de Castela-Mancha.
No entanto, segundo José María Madiedo, o que distingue o fenómeno observado na madrugada de segunda-feira é o seu “brilho”.
Já em Portugal, bolas de fogo tão grandes são raras, explica o astro-fotógrafo do Observatório Dark Sky Alqueva, Miguel Claro, à Rádio Observador. Apesar de o Observatório registar “vários fenómenos” noutros países, em Portugal é raro observarem “bolas de fogo e bólides”.
Por vezes são pequenos detritos, pode até ser uma pequenina pedrinha, pode até ser do tamanho um grão de areia. Quando estamos a falar de uma bola de fogo, já é uma pedra relativamente maior que causa um impacto na atmosfera, que causa aquela fricção e aquela espetacularidade que podemos ver no vídeo“, explica.
Miguel Claro, que esteve a trabalhar durante a madrugada, não garante ter visto a bola de fogo em questão mas admite que viu algo que o chamou à atenção: “uma estrela muito brilhante que deixou um rasto de fumo”.
Por sua vez, o antigo diretor do Observatório, Rui Agostinho, explica que este fenómeno ocorre todos os anos na mesma época mas não costuma ser registado em vídeo e publicado em redes sociais. Esta bola de fogo faz parte de uma chuva de estrelas cadentes, as Leónidas. Nas próximas noites, será possível observar mais bolas de fogo relacionadas com este fenómeno.
Esta chuva de meteoros é conhecida por produzir alguns destes meteoros muito mais brilhantes, popularmente também designado por bolas de fogo. Portanto, quem tiver tempo à noite vá para o campo. Se fugirmos ao céu luminoso de uma cidade, é possível ver uma maior quantidade deles [meteoros]”, afirma.
Mais bolas de fogo. “Ligado à chuva de meteoros, se puder vá para o campo”