Numa “prova vertical” são provados diferentes anos de produção de um mesmo vinho — é coisa para ter várias garrafas em cima da mesa e, assim, constatar em primeira mão a evolução de uma referência ao longo dos anos (há anos mais quentes e anos mais frios, outros mais secos ou chuvosos, sendo que o clima interfere no resultado final). Agora, imaginemos uma garrafa de vinho que reúne várias colheitas num só rótulo: foi o que fez a Casa Relvas para comemorar o 15° aniversário do Herdade de São Miguel, o primeiro vinho alguma vez produzido pela empresa alentejana.

Pai e filhos caminham lado a lado e produzem vinhos da Casa Relvas no Alentejo

O Herdade de São Miguel Resumo de 15 Vindimas resulta precisamente de um lote de 15 colheitas, de 2003 a 2017. É o reencontro, numa só garrafa, de 15 anos de trabalho na vindima e de evolução em garrafa. “Decidimos fazer uma coisa extravagante”, começa por dizer Alexandre Relvas, o filho. “Abrimos à volta de 100 garrafas, provámos o vinho sem o levar à boca [avaliaram através do cheiro] e juntámos as 15 vindimas. Pensámos em lançar o projeto no ano passado, mas achámos na altura que o vinho ia melhorar com mais um ano de garrafa e assim aconteceu”, explica.

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O vinho está à venda por 60 euros (preço indicativo)

O pensar e idealizar o lote foi relativamente simples. Cheirar as muitas garrafas foi, no entanto, um pouco mais exigente. Descobriram-se alguns vinhos com TCA, mas poucos, e outras surpresas marcaram o processo, como os anos 2006 e 2010 que, tendo sido atípicos na região dos montados, deram origem a vinhos mais elegantes. Ainda assim, o Herdade de São Miguel Resumo de 15 Vindimas tem predominância de 2005 e 2011, colheitas mais intensas mas que, em conjunto, funcionam bem.

Alexandre Relvas, o pai (e um dos acionistas do Observador), comprou um monte alentejano para ser casa de família aos fins de semana. Aos 100 hectares de sobreiros que plantou acrescentou, em 2001, 10 hectares de vinha. O primeiro vinho foi fruto de um “hobby” que cerca de 20 anos depois cresceu: em 2019 produziram-se 6 milhões de garrafas, o que se traduziu numa faturação de 12 milhões de euros. Os irmãos Alexandre e António Relvas são hoje os rostos mais visíveis do projeto — em enologia e viticultura, respetivamente —, cuja primeira colheita data de 2003.

O vinho que é um resumo e também uma espécie de prova vertical em si é, ao mesmo tempo, uma celebração e um agradecimento — algumas das 1.000 garrafas serão oferecidas a quem trabalha na empresa. Há um valor emocional associado à referência que sai para o mercado a 60 euros (preço indicativo).