Diego Armando Maradona está, literalmente, “a descansar em paz”. Desde que foi enterrado junto aos pais, Don Diego e Doña Tota, nos Jardins da Bela Vista, a 45 quilómetros da cidade de Buenos Aires, o cemitério privado tem estado debaixo de um forte dispositivo policial – e assim ficará, até que a família considere que está na altura de abrir ao público aquilo que muito provavelmente se vai tornar um local de culto e procissão em homenagem a um dos maiores ícones da história do país, como destaca o Olé. A operação começou na madrugada de dia 26, tendo vindo a ser reforçada sempre que existe um ajuntamento maior de adeptos nas imediações do local.
Até lá, no caminho, há um pouco de tudo (e cada vez mais): cartazes, tarjas, camisolas. A partir de certa altura, a passagem só é autorizada para quem for visitar algum familiar de forma comprovada, algo que já estava em vigor em setembro devido às restrições pela pandemia: marcações agendadas, número restrito de pessoas, períodos que são inferiores a uma hora. O protocolo assim que a família do antigo astro argentino permita o acesso de adeptos ao local, que não será a curto prazo, já se encontra a ser estudado e de acordo com as regras sanitárias em vigor. No entanto, o assunto a esse propósito agora é outro e numa história que parece longe de acabar.
Se por um lado a justiça argentina decidiu abrir uma investigação “porque se trata de uma pessoa que morreu em casa e não foi assinada a certidão de óbito, o que não significa que existam suspeitas de irregularidades”, como foi explicado à AFP, por outro as autoridades já passaram na noite desta sexta-feira pela casa de Claudio Fernández e do filho, Claudio Ismael, dois dos três funcionários da agência funerária que tirou fotografias junto do caixão de Maradona antes do velório. “Estávamos a acomodá-lo, preparando-o para o levar e alguém diz ‘Olha para aqui’. olhei, o meu filho é um miúdo e levantou o polegar. Peço respeito e perdão a todos. Fiz o serviço fúnebre do pai do Maradona, do cunhado de Maradona e nunca fiz algo assim. Se nunca lhe fiz isto em vida, sabendo que é meu ídolo, não o faria após a sua morte”, começou por explicar numa entrevista à Rádio 10.
“Recebi ameaças de morte desde aí. Como sou do bairro, todos me conhecem. Dizem que vão matar-me, que que vão partir-me o carro, ameaçam os meus filhos. Não sou assim. Essa foto não foi tirada do meu telemóvel, foi tirada a partir de outro, isso é o pior de tudo. Nunca pensei que iriam publicá-la ou que iriam passá-la a um grupo ou torná-la viral. O Maradona era um ídolo para todos. O que fiz não foi intencional, nem da minha parte nem do meu filho. Chamaram-me da empresa, acusaram-me por algo que não fiz mas a empresa não tem culpa. Se virem bem a foto, chamaram-me e apenas levantei a cabeça, estava a acomodá-lo. O meu filho levantou o polegar. Nada mais, foi instantâneo. O que eu mais queria era deixá-lo como o ídolo que era. Peço desculpa”, acrescentou, não fazendo comentários sobre a possibilidade de ser chamado à justiça mesmo sem que haja uma queixa da família.
Confrontos entre polícia e adeptos no velório de Maradona. Adeptos atiram garrafas
Sobre Claudio Fernández e o filho, tudo se sabe e as próprias autoridades passaram a vigiar os funcionários (ou antigos) funcionários da agência funerária Pinier depois das ameaças. Sobre o terceiro elemento, Diego Molina, nada se sabia. Ou melhor, havia teorias que variavam entre a fuga para um outro local recôndito e… o assassinato, sendo que, depois da mensagem colocada no Twitter com uma fotografia do encarregado pelo velório e a frase “Este é o canalha que tirou uma foto ao lado do caixão do Diego Maradona e pela memória do meu amigo não vou descansar enquanto ele não pagar por esta aberração”, começaram a circular dados privados do mesmo como o número de telefone, a morada ou o local de trabalho – o que deixou em alerta as autoridades locais, até por ser aquele que de forma mais ostensiva se mostrava na imagem, apoiado no caixão e de polegar levantado.
De acordo com o Clarín, as ameaças começaram poucos minutos depois de as imagens se terem tornado públicas, incluindo alegadas movimentações da 12, a claque dos barra brava do Boca Juniors, para saber o paradeiro do funcionário para ter a sua “vingança”. Existiam várias teorias nesta altura em relação a Diego Molina: que continua escondido em casa sem falar com ninguém, que terá fugido para outro local, que está desaparecido, que foi apanhado pelos elementos radicais da claque do Boca, do Argentino Juniors ou do Gimnasia. Na noite desta sexta-feira circulou mesmo um vídeo onde se via as autoridades a retirar um cadáver de um caixote do lixo dizendo que se tratava do funcionário quando, na verdade, era de um chef assassinado em março. Esta manhã apareceu.
Molina deslocou-se a uma esquadra com a advogada. Segundo as autoridades, e no seguimento da publicação das imagens junto do caixão de Maradona, tinha sido pedido os dados pessoais e os contactos telefónicos dos três envolvidos, algo que faltava em relação ao terceiro elemento que tem antecedentes criminais em processos onde foi acusado de usurpação, em 2016, e violência doméstica, já este ano. Não se sabe se Diego Molina, de 40 anos, terá ou não atenção especial por parte das forças policiais nos próximos tempos mas para já aquele gesto irrefletido já fez com que ficasse sem trabalho (embora a funerária tenha argumentado que não pertencia aos quadros, tendo apenas sido contratado para a cerimónia fúnebre de El Pibe) e esteja em vias de ser expulso de sócio do Argentinos Juniors, aquele que foi o primeiro clube como sénior de Diego Armando Maradona na carreira.