A agência de notação financeira Fitch Ratings disse esta quarta-feira que a emissão de dívida pública da Costa do Marfim, de mil milhões de euros, mostra que os mercados estão novamente abertos para a África subsaariana.
A emissão de dívida da Costa do Marfim confirma que alguns emissores da África subsaariana já são capazes de voltar a emitir dívida nos mercados internacionais para colmatarem as suas necessidades de financiamento no próximo ano”, lê-se num comentário a esta emissão de dívida feita na semana passada.
Com uma taxa de juro de 5% e com pedidos de investidores cinco vezes superiores à oferta, a Costa do Marfim emitiu mil milhões de euros com uma maturidade a 12 anos, tornando-se, assim, no primeiro país da África subsaariana a regressar aos mercados em contexto de pandemia de Covid-19.
Apesar da emissão ter sido “um sucesso”, esta agência de notação financeira detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions alerta que “países com um perfil de crédito mais fraco podem enfrentar um prémio mais elevado do que antes da pandemia do novo coronavírus, o que pode desencorajar o seu regresso aos mercados”.
A emissão da Costa do Marfim foi a primeira dos países da África subsaariana, embora outros países africanos e do Médio Oriente, como o Egito, o Barein ou o sultanato de Omã já tivessem ido aos mercados durante a pandemia.
Antes da pandemia prevíamos que Angola, Benim, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Quénia, Nigéria e África do Sul fossem aos mercados em 2020, mas só o Gabão e o Gana conseguiram emitir dívida antes do choque da pandemia, em fevereiro e março, respetivamente, e a partir daí todos os países da África subsaariana cancelaram as emissões previstas devido ao fecho, na prática, dos mercados”, escrevem os analistas da Fitch Ratings num comentário à emissão de dívida da Costa do Marfim.
O apoio dos credores institucionais internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), ajudou a colmatar o défice de financiamento para muitos países, e a Fitch estima que a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), lançada em abril pelo G20, vai manter 9,3 mil milhões de dólares (7,6 mil milhões de euros) nos países africanos analisados por esta agência de rating.
O FMI também desembolsou cerca de 13,5 mil milhões de dólares [11,1 mil milhões de euros] para os países avaliados pela Fitch em 2020 e alguns países, como a Namíbia, Nigéria e África do Sul, pediram financiamento do FMI pela primeira vez em décadas ou, nalguns casos, desde sempre”, acrescentam.
Em 2021, concluem os analistas, “vários outros soberanos africanos deverão emitir dívida em moeda estrangeira devido à melhoria das condições financeiras” e à aceitação de juros mais baixos por parte dos investidores.
O montante total das emissões, no entanto, deverá ser menor do que nos anos anteriores, não contando com 2020, que foi anormalmente diminuto devido à pandemia. “A emissão de títulos, ainda assim, deverá ficar mais abaixo dos anos anteriores, em parte refletindo o aumento do financiamento dos credores oficiais”, concluem os analistas da Fitch Ratings.