6,4 quilómetros separam o Emirates Stadium, em Islington, e o Tottenham Hotspur Stadium, em Haringey. A rivalidade entre Arsenal e Tottenham, essa, consiste numa separação abismal. Começou no início do século XX, quando os primeiros se mudaram para o norte de Londres, onde os segundos já estavam. Nesse momento, em 1913, nasceu precisamente o North London derby — um dos jogos mais ansiados e disputados do futebol europeu. Este domingo, era dia de mais um, o número 188.
E o teórico favoritismo do Tottenham não tinha precedentes. Para além de assentar num histórico de seis jogos seguidos sem perder em casa contra o Arsenal, a maior série sem derrotas contra o principal rival desde os anos 60, a equipa de Mourinho está nesta altura no topo da Premier League e tem sido o conjunto mais regular desta temporada em Inglaterra. Já o Arsenal, enterrado no 15.º lugar, está a realizar o pior arranque de Campeonato desde o início dos anos 80. Nunca, na história do North London derby, a balança tombou tanto para o lado do Tottenham.
6 – Tottenham are unbeaten in their last six Premier League home games against Arsenal (W4 D2) since a 0-1 loss in March 2014. It’s their longest unbeaten home league run against the Gunners since a run of nine between January 1960 and January 1968. Tide. pic.twitter.com/EA0M2MTV2M
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E Mourinho tinha noção disso. Depois de um empate contra o LASK que não deixou de garantir o apuramento para a próxima fase da Liga Europa, antes de umas alfinetadas a Jürgen Klopp e Pep Guardiola para lembrar que o Tottenham começou a jogar de três em três dias antes de Liverpool e Manchester City o fazerem, o treinador português esteve na Web Summit. Para lá de receber de António Costa o prémio “Inovação no Desporto”, Mourinho garantiu que está longe de abandonar o futebol.
“Tenho 57 anos, sou muito novo no que toca ao meu trabalho, por isso, não ficaria surpreendido se ainda tivesse 10 ou 15 anos à minha frente. Existe uma diferença entre o sucesso e uma carreira bem sucedida. Acredito sempre que há uma diferença gigante. O sucesso é um momento. O sucesso pode estar relacionado com o teu talento mas pode ser apenas o resultado do facto de estares no sítio certo, no momento certo, à hora certa. Outra coisa é uma carreira bem sucedida, que está baseada no que acontece ano após ano após ano. Sempre quis esse tipo de carreira. É parte do meu ADN. Se eu adoro o que faço, se me sinto fresco, é essa a minha motivação”, disse o técnico dos spurs, que garantiu mais à frente que é “humilde”.
Cannot wait for this one ????
Will north London be ⚪ or ????? #TOTARS pic.twitter.com/8GCxp7QC09
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“Sei que as pessoas provavelmente não pensam isto sobre mim mas eu considero-me uma pessoa muito humilde, estou sempre a tentar aprender, estou sempre a tentar ser melhor e este é um tipo de trabalho onde só a experiência pode tornar-nos melhores. Acredito mesmo que hoje sou muito melhor do que era há 10 ou 20 anos. Toda a gente diz que a minha carreira é longa, o que é verdade, mas eu não vejo o fim. Sinto exatamente a mesma paixão, o mesmo desejo de aprender todos os dias. Acho que é um prazer. O meu cabelo branco não tem nada a ver com o stress!”, terminou José Mourinho, numa afirmação que não deixa de ser a base do enorme momento do Tottenham e de todas as expectativas que os adeptos dos spurs começam a construir para a atual temporada.
Este domingo, o treinador português foi surpreendido pela ausência de Ndombele, que foi baixa de última hora, mas teve a confirmação dos regressos de Lloris, Alderweireld, Reguilón e Harry Kane, quatro jogadores que estiveram em dúvida para a receção ao Arsenal. Lo Celso aparecia no meio-campo para substituir o francês e, do outro lado, Mikel Arteta continuava sem ter Pépé, ainda castigado, e David Luiz, a recuperar do grave choque com Raúl Jiménez, no fim de semana passado, que levou o mexicano do Wolves para o hospital.
It's great to have you back! ????#THFC ⚪️ #COYS pic.twitter.com/5EEVYb30lw
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Com cerca de dois mil adeptos nas bancadas, o Arsenal começou melhor, com mais posse de bola e totalmente instalado no meio-campo adversário, mas não aguentou sequer um quarto de hora sem deixar clara a principal fraqueza: a equipa de Arteta não sabe perder a bola. Os gunners tinham a linha inicial de construção muito subida, com os setores espaçados e a apostar principalmente no jogo pelas alas, mas ficavam totalmente desorganizados assim que perdiam a bola em zonas adiantadas. E o Tottenham só precisou de uma oportunidade para abrir o marcador. Contra-ataque rápido dos spurs, Kane recebeu de costas para a baliza na zona do meio-campo e lançou Son em velocidade; o sul-coreano avançou, tombado na esquerda, e atirou um remate perfeito em jeito que não deu qualquer hipótese a Leno (13′).
A equipa de Mikel Arteta continuou a lógica que tinha apresentado até então, com posse de bola e a empurrar o Tottenham para o último terço, mas não tinha qualquer presença na faixa central e permanecia sem capacidade para criar oportunidades de golo. E a história anterior repetiu-se. Perda de bola do Arsenal na grande área adversária, transição em velocidade dos spurs pelos pés de Lo Celso e com vantagem de quatro para dois jogadores, Son tocou para Kane e o avançado inglês fuzilou por completo a baliza do Arsenal (45+1′). Antes até de o árbitro apitar para o intervalo, nos últimos instantes da primeira parte, Arteta tirou Partey e lançou Ceballos, numa clara tentativa de ter fluxo ofensivo pelo corredor central.
They've been at it again so far!
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Na segunda parte, o Arsenal colocou em prática exatamente a mesma lógica: teve mais bola, jogou quase sempre no meio-campo adversário e encostou o Tottenham à própria baliza. O problema era que a organização defensiva dos spurs não permitia qualquer oportunidade aos gunners — tirando uma aproximação de Lacazette, que foi mesmo o melhor elemento da equipa de Arteta — e fez com que praticamente nada acontecesse durante o segundo tempo. O Arsenal cruzava muito mas os defesas do Tottenham afastavam todas as inquietações, o Tottenham nem se preocupava em atacar e o Arsenal tremia sempre que uma transição rápida parecia evoluir. Ben Davies e Joe Rodon entraram de um lado, Bellerín entrou do outro mas nada mudou.
No fim, o Tottenham confirmou o favoritismo, respondeu à vitória do Chelsea já este fim de semana e segurou a liderança da Premier League e derrotou o principal rival. Harry Kane e Son Heung-min chegaram aos 30 golos construídos em conjunto, só superados pela dupla Lampard/Drogba na história do futebol inglês, e o capitão dos spurs tornou-se mesmo o melhor marcador de todos os North London derbies, chegando aos 11 golos e superando Adebayor, que representou as duas equipas. 1+1 é igual a 2, Kane+Son é igual a golo. E os cabelos brancos de Mourinho não são mesmo sinal de stress.