A organização ambientalista ANP/WWF defendeu esta segunda-feira que Portugal pode assumir um papel “mais interventivo” pelo ambiente ao presidir ao Conselho Europeu no primeiro semestre de 2021, para o qual vai apresentar “uma lista de desejos” ao Governo.
A dirigente da organização, Ângela Morgado, afirmou numa conferência de imprensa virtual que essa lista, que será divulgada mais à frente, vai orientar as exigências da Associação Natureza Portugal/Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF), que conta que Portugal vá “querer ter um papel mais interventivo” pelo ambiente e biodiversidade, atendendo à iniciativa que tem tido nas questões ambientais, apesar da sua “menor dimensão”.
Num balanço de 2020, a ANP/WWF referiu que devido ao confinamento mundial imposto como reação à pandemia da Covid-19, o dia em que o mundo esgotou os recursos que era capaz de produzir durante o ano surgiu em agosto, um mês mais tarde do que em 2019, mas este foi também o ano em que se descobriu que o mundo perdeu 68 por cento das populações de espécies vertebradas nos últimos 50 anos.
Entre o mais negativo do ano que está a terminar, a ANP/WWF destaca o adiamento da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP26), em que se iriam rever os compromissos do Acordo de Paris de 2015, que passou para 2021.
Para o encontro previsto para a cidade escocesa de Glasgow em dezembro de 2021, a ANP/WWF destaca as contribuições nacionalmente determinadas que os países vão ter que apresentar para cumprir as metas do Acordo (manter o aquecimento global no fim do século abaixo de dois graus a mais do que na era pré-industrial), mas já admite que “vão ficar aquém do que a ciência acha necessário“, referiu outra responsável da organização, Catarina Grilo.
Outro aspeto negativo, apontam, foi o adiamento da diretiva que suspende o recurso a plásticos de uso único na restauração.
De positivo, assinalam a moratória na mineração em mar profundo e o aprofundamento do Pacto Ecológico Europeu, apresentado pela Comissão Europeia no fim do ano passado, com iniciativas como “Do prado ao prato”, que relaciona agricultura sustentável, manutenção da biodiversidade e alimentação.
A ANP/WWF olha com expectativa para a possibilidade de finalmente ser aprovada em 2021 uma lei do Clima, com cinco propostas admitidas na Assembleia da República e a possibilidade admitida pelo ministro das Infraestuturas, Pedro Nuno Santos, de se poder fazer uma avaliação ambiental estratégica sobre o projeto do novo aeroporto do Montijo.
No que toca ao Plano de Recuperação e Resiliência para a crise provocada pela pandemia, saúdam o investimento previsto de 668 milhões de euros na floresta, mais de mil milhões em mobilidade sustentável e 620 milhões na eficiência energética dos edifícios.
Contudo, criticam os 171 milhões alocados para a barragem do Pisão e os 833 milhões para infraestruturas, considerando que não são precisas mais estradas.
Para o ano que vem, a ANP/WWF vai concentrar-se também em iniciativas como o impulso à preservação do lince ibérico, a limpeza do lixo marinho em Porto Santo e pesca sustentável.