Pierre Cardin, o célebre designer francês, morreu esta terça-feira aos 98 anos, anunciou a família à agência AFP.
Cardin foi o primeiro a fazer furor nos anos 1960 com a sua moda experimental, ainda que lutasse pelo título de “designer futurista” na moda francesa do pós-guerra com outros nomes conhecidos da praça, como André Courrèges ou Paco Rabanne. O seu trabalho, sobretudo exuberante, tornou-o amplamente famoso um pouco por todo o mundo, em especial na China e na Rússia, acrescenta o meio francês Le Point.
Foi também na transição entre as décadas de 1950 e 1960 que passou a dedicar-se ao pronto-a-vestir em detrimento da alta-costura. Ainda nessa altura, quando não existia a figura de manequim masculino, Pierre Cardin conseguiu encontrar modelos prontos a desfilar em dezenas de alunos universitários — foi o primeiro criador a lançar uma coleção de roupas masculinas (foi também Cardin quem lançou para as passarelas da moda feminina parisiense a primeira modelo japonesa). Outros desfiles ficam para a memória coletiva da moda, como o de 2007 no deserto de Gobi.
O designer — um dos últimos grandes nomes da alta-costura europeia — nasceu a 2 de julho de 1922, em San Biagio di Callalta, perto de Veneza, em Itália. Pietro Cardin, que mais tarde viria a chamar-se Pierre, foi o sétimo filho de um casal de comerciantes pobres que emigraram para França fugindo, assim, do fascismo. Terá sido uma vidente que o colocou no caminho da moda — um destino diferente daquele que sonhava em criança, imaginando-se como ator.
Aos 14 anos deu os primeiros passos numa alfaiataria, na cidade de Saint-Étienne. Já em Paris trabalhou com Madame Paquin, com a criadora italiana Elsa Schiaparelli e também com Christian Dior — segundo o Le Monde, foi o seu primeiro funcionário. Abriria, em 1950, a sua própria maison para então revolucionar a alta-costura: para isso contribuíram as formas abstratas e os tecidos que escolheu usar, dos quais são exemplo o vinil e as peles falsas. As cores e os padrões emprestados da pop art ajudaram a dar visibilidade ao trabalho de Cardin. Trabalho esse que fez dele uma preferência entre estrelas de cinema e aproximou-o de nomes sonantes, como o pintor Salvador Dalí. Desenhou também para Rita Hayworth e teve como musa a atriz Jeanne Moreau, com quem teve laços românticos durante quatro anos.
“Eu sou o único nome livre na moda. Desde a década de 1950, permaneci Pierre Cardin de A a Z. Todos os outros morreram ou passaram para outras mãos”, chegou a comentar, citado pelo Le Figaro, o mesmo meio francês que assegura que os artigos de imprensa escritos sobre Cardin ao longo da carreira ocupavam três quartos do seu escritório, representação do sucesso de um designer que viajou à volta do mundo mais de 35 vezes. Além da moda, Cardin cunhou o seu nome em diversos produtos, de móveis a roupas de cama e acessórios vários, muito antes de Gucci, Calvin Klein ou Dior.
Em janeiro deste ano Pierre Cardin marcou presença no 50.º desfile de alta-costura de Jean Paul Gaultier, o mesmo que assinalou a despedida deste designer. À data da participação, Cardin somava 97 anos.