O abrandamento das medidas e dos cuidados na época do Natal e o maior número de contactos entre as pessoas poderão ser a explicação para o número elevado de novos contágios registados esta quinta-feira, defenderam especialistas.
“Este aumento que está a acontecer pode ser devido à não testagem na altura do Natal, o que eu duvido. Se não tiver esse efeito, deve-se ao maior número de contactos, são as duas possíveis explicações. O facto de ser tão grande pode dever-se ao planalto que é muito alto”, defendeu Pedro Simas.
O virologista explicou à agência Lusa que, atualmente, Portugal tem um “planalto na média diária dos 3.200 casos” o que, no seu entender, “é muito alto, é 10 vezes maior do que o planalto do verão, ou seja, nunca houve um risco tão grande de transmissão” do vírus.
“Qualquer comportamento que leve a um maior contacto entre as pessoas resulta num aumento de transmissão e de novas transmissões e agora estou preocupado, porque os números de hoje ainda são pré-Natal, portanto, o efeito Natal e Ano Novo só se vai ver em janeiro”, acrescentou Pedro Simas.
No entender do epidemiologista Filipe Froes, os números de hoje, 7.627, “poderão ser um reflexo do período do Natal, altura em que muitas pessoas desvalorizaram as medidas de prevenção e controle, como o uso de máscara e o evitar ajuntamentos”.
“O Natal foi há uma semana e ainda poderá haver um acréscimo de números nos próximos dias e as infeções que possam ter ocorrido no Natal, algumas ligeiras ou assintomáticas, podem dar nos dias subsequentes cadeias de transmissão”, avisou.
Neste sentido, Filipe Froes disse acreditar que o país poderá “já estar perante o reconhecimento de novos casos, fruto da festividade do Natal e que, no fundo, era aquilo que não se queria, mas, infelizmente, aconteceu”.
Filipe Froes explicou ainda que “houve pessoas a fazerem testes dias antes do Natal e, com base nesse resultado, pensaram que estariam mais seguros” e, nesse sentido, o epidemiologista considerou que “podem ter aliviado na adoção de medidas de prevenção e controlo”.
O resultado [dos testes] só é válido numa janela temporal de algumas horas e a sua realização não justificava, não impedia, não favorecia o aliviar das medidas de proteção e controlo, ou seja, os testes deram uma falsa sensação de segurança”, esclareceu.
Tendo em conta os números de hoje, os dois especialistas assumiram, em declarações à agência Lusa, que “os primeiros dias de janeiro vão apresentar números elevados de novos casos” e o epidemiologista prevê uma média superior a 8.000 casos diários.
“Os números de hoje devem-nos fazer refletir e temos mais um motivo para nos contermos nas festividades do ano novo e para nos contermos nos próximos dias”, apelou Filipe Froes que prevê, para “mais tarde um aumento de casos em enfermaria e cuidados intensivos e, mais adiante, em número de óbitos”.
Pedro Simas defendeu ainda que “a vacinação é o início do fim, mas é um percurso muito importante” e, no seu entender, “é a fase mais importante de todas e nunca houve um risco tão grande em Portugal e em todo o mundo”.
“Para além de estarmos num planalto muito alto, a imunidade populacional é muito baixa. Em Portugal anda à volta dos 85% a 90% de pessoas que são suscetíveis, ou seja, o risco de transmissão é muito elevado. Nunca houve tanto risco. O primeiro trimestre é vital para salvar vidas humanas, temos de ter muito cuidado”, defendeu.