O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde e titular da pasta da Defesa Nacional cabo-verdiana, Luís Filipe Tavares, demitiu-se esta terça-feira do cargo. Em causa estará uma reportagem da SIC que revelou que o cônsul honorário Caesar DePaço apoiou e financiou o partido de extrema-direita português Chega. A decisão de Luís Filipe Tavares já foi confirmada e aceite pelo Executivo cabo-verdiano.
O multimilionário português, Caesar DePaço, foi apresentado como cônsul honorário de Cabo Verde em Palm Coast na Florida, Estados Unidos, no início de 2021. Segundo a reportagem da SIC, o emigrante português terá doado mais de 10 mil euros, valor máximo permitido por lei, ao partido de André Ventura. Terá ainda financiado o Canelas, clube onde jogou Fernando Madureira, líder da claque do FC Porto, Super Dragões.
A reportagem denunciou ainda alguns negócios duvidosos de Caesar DePaço e a ligação de membros do Chega à Fundação DePaço, fundada em 2020, mas sem estar ainda registada formalmente.
André Ventura, líder do Chega, reagiu a demissão dizendo que Cabo Verde devia preocupar-se com “a política interna” do país e “não se preocupar com o crescimento do Chega em Portugal ou os seus apoiantes”, conforme noticiou o Correio da Manhã.
Demissão aceite, mas sem indicar o motivo
O pedido de demissão de Luís Filipe Tavares, esta terça-feira, já foi aceite pelo primeiro-ministro cabo-verdiano. Mas a nota emitida por Ulisses Correia e Silva não avança o motivo oficial para a saída, a três meses da realização de eleições legislativas.
A note refere que o primeiro-ministro “aceitou e apresentará, na sequência”, ao Presidente da República, “o nome do novo ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro da Defesa”.
“O Governo agradece a dedicação e o espírito de missão demonstrado pelo Dr. Luís Filipe Tavares durante o período em que esteve a desempenhar os elevados cargos governativos”, concluiu-se na nota.
Oposição cabo-verdiana pede explicações ao Governo
A presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, exigiu esta terça-feira explicações do Governo cabo-verdiano sobre a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, após uma reportagem em Portugal ter associado o governante, Luís Filipe Tavares, à extrema-direita portuguesa.
“A situação parece ser tão grave que quero crer que não terei percebido bem! Então, um dos maiores financiadores do Chega [partido político português] é cônsul honorário de Cabo Verde na Florida, EUA”, questionou a líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), numa mensagem colocada esta terça-feira na sua conta oficial na rede social Facebook.
“Qual a relação de Cabo Verde com a extrema-direita Portuguesa? Minha gente, estamos a falar da extrema-direita. Um potencial financiador da extrema-direita em Portugal e que está a representar o nosso país? A situação é grave demais”, escreveu Janira Hopffer Almada, acrescentando que o Governo “deve explicações”.
“E não é admissível que o ministro das Relações Externas [Negócios Estrangeiros] se limite a dizer que desconhece o ‘historial’ do Cônsul de Cabo Verde, porque não as pediu”, afirmou ainda a líder do PAICV.
A demissão de Luís Filipe Tavares, que é um dos vice-presidentes do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) ocorre no mesmo dia em que o Presidente cabo-verdiano marcou a data das eleições legislativas para 18 de abril e das presidenciais para 17 de outubro.