“É, provavelmente, a mais importante alteração” ao plano de vacinação. A partir da próxima semana, quem tiver mais de 80 anos de idade, tenha doenças ou não, será vacinado contra o vírus da Covid-19, como já vinha há muito sendo pedido pela Ordem dos Médicos. Se for necessário, haverá enfermeiros a fazer vacinação ao domicílio. O anúncio foi feito esta quinta-feira por Francisco Ramos, o responsável pela execução do plano nacional de vacinação contra o novo coronavírus, que, para além de anunciar alterações, fez o balanço do primeiro mês desta campanha. Outra novidade é que também os titulares de cargos políticos e de órgãos de soberania passarão a ser prioritários. Embora esta decisão fosse esperada, Francisco Ramos clarificou que há 2 mil doses reservadas para este grupo, onde se incluem membros do Governo e autarcas, o que permitirá que mil pessoas sejam vacinadas.

“Aquilo que está previsto, e tendo sido determinado que a execução do despacho do primeiro-ministro compete à task force, é que nas próximas semanas as vacinas que há para administrar a esse grupo serão suficientes para mil pessoas. O que será trabalhado nos próximos dias é perceber as prioridades indicadas por cada órgão”, explicou em conferência de imprensa. Dessa lista fazem também parte, por exemplo, a provedora de Justiça ou a procuradora-geral da República.

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Questionado pelo Observador sobre se os ministros que já foram infetados com o vírus da Covid-19 vão, ou não, ser vacinados nesta fase, Francisco Ramos relembrou a diretriz válida para todos os cidadãos. “Quem já teve a doença e já recuperou da doença não será vacinado nesta fase. É o que consta das normas.” Assim, da lista de 11 ministros considerados prioritários por António Costa (Economia, Negócios Estrangeiros, Presidência, Finanças, Defesa, Administração Interna, Justiça, Trabalho, Saúde, Ambiente e Infraestruturas), quatro não serão vacinados. São eles Ana Mendes Godinho, João Leão, Pedro Siza Vieira e João Gomes Cravinho.

Depois de nos últimos dias se multiplicarem as notícias de não prioritários a serem vacinados fora da sua vez, o coordenador da task force para o plano de vacinação lamentou esse “desvio” de critérios. “Este é um plano que é uma gigantesca operação e começou há um mês, não começou há um ano. Suponho que são casos esporádicos, mas são perturbadores”, resumiu, quando confrontado com os diferentes casos denunciados.

Por isso, e para evitar mais situações similares, a solução já tem forma, explicou: caberá à Inspeção Geral da Saúde fazer uma auditoria para perceber como estão a ser aplicados os critérios da vacinação dos grupos prioritários. Da mesma forma, a IGS irá também analisar como estão as entidades de saúde a adotar medidas para evitar desperdício.

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Questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de virem a ser definidas sanções para eventuais incumprimentos, Francisco Ramos disse apenas que “não compete à task force” abordar essa situação.

Duas doses da vacina já foram administradas a 74 mil pessoas 

Até ao final desta semana, 74 mil pessoas já terão completado a vacinação com o fármaco da Pfizer em Portugal, o que significa terem tomado as duas doses necessárias para a inoculação, num total de 148 mil doses. Segundo o balanço apresentado por Francisco Ramos, entre as pessoas já vacinadas contam-se 57.500 profissionais de saúde (115 mil doses).

Para além destes, neste primeiro mês de vacinação, há ainda mais 183.500 pessoas que tomaram a primeira dose da vacina: 178.100 a da Pfizer, 5.400 a da Moderna, aguardando ainda pela administração da dose seguinte.

No total, foram administradas 262 mil doses de vacinas em Portugal das mais de 400 mil que o país recebeu, a maioria delas da Pfizer. Números exatos, foram 377.770 doses da vacina da Pfizer, a que se somam 19.500 para os arquipélagos dos Açores e da Madeira e, ainda, 8.400 doses da vacina da Moderna.

Segundo as contas de Francisco Ramos, no final de março estarão 810 mil pessoas vacinadas em Portugal — ou seja, com as duas doses administradas — enquanto que outras 520 mil já terão feito a primeira dose. Para o mesmo espaço temporal, o coordenador da task force espera ter cerca de 100 mil profissionais de saúde do setor público já vacinados, 90 mil dos quais com as duas doses tomadas. Ainda entre profissionais de saúde, mas olhando agora para o setor privado e social (que não fez parte da primeira fase de vacinação), Francisco Ramos aponta para nessa data ter 50 mil profissionais com a vacinação iniciada e mais de metade, 30 mil, com a vacinação completa.

Outro grupo que fez parte das prioridades iniciais, utentes e funcionários de lares de idosos, terá no final de março a vacinação completa, os únicos para quem o coordenador da task force faz esta previsão. Nas 9 semanas que faltam até ao final de março, o antigo secretário de Estado diz ainda esperar ter 40 mil vacinados no grupo que inclui Forças Armadas e bombeiros, 21 mil com vacinação completa.

Sobre os grupos que começam esta segunda-feira a ser vacinados — maiores de 80 anos e pessoas entre os 50 e os 79 anos com morbilidades — a previsão é de que entre os mais idosos 300 mil terão iniciado a vacinação (metade com as duas doses tomadas), enquanto que para os segundos (600 mil) espera-se que metade desta população esteja inoculada e a outra metade em abril. Destes (mais de 50 anos), 12 mil pessoas já iniciaram a vacinação.

Sobre o alargamento da rede de vacinação, Francisco Ramos considerou ser demasiado cedo para falar em ter farmácias ou profissionais do setor privado a vacinar utentes. “O nosso principal obstáculo é a escassez de vacinas e até isso ser ultrapassado é prematuro estar a falar do alargamento da rede de centros de vacinação.” O objetivo, detalhou, é que durante o mês de fevereiro haja pelo menos um ponto de vacinação em cada Agrupamento de Saúde e, numa segunda fase, em todos os concelhos. Mas isso também depende da quantidade de vacinas para o fazer, observou.

Quanto a reações adversas à vacina, foram registadas 1.332, como tumefação dos braços e dor de cabeça. “Não houve até hoje nenhuma notificação de reações que não estivessem previstas” para a vacina, sublinhou. “Este valor de 0,65 reações adversas por 100 vacinados é um valor que está em linha com os dados provisórios que conhecemos do resto da Europa”, concluiu Francisco Ramos.