O Centro de Apoio a Idosos de Portimão deu a possibilidade a todos os órgãos sociais, incluindo o Conselho Fiscal cujos membros não têm qualquer contacto com os idosos, de serem vacinados contra a Covid-19. Contactada pelo Observador, a Autoridade Regional de Saúde (ARS) diz desconhecer o caso, mas reconhece que tem “havido várias situações deste género” e sublinha que apenas os utentes e os funcionários que com eles têm contacto direto integram o grupo prioritário da vacinação nesta fase. Um dos vacinados terá sido o diretor da instituição que, confrontado com a denúncia, não quis dizer quem foi efetivamente vacinado.

O Observador apurou, porém, que alguns recusaram a ideia. Foi isso que revelou o presidente do Conselho Fiscal do lar, que diz que, de facto, foi abordado pela direção para ser vacinado. “Eu não fui vacinado porque não quis. Os meus colegas do Conselho Fiscal também não foram”, explicou Carlos Bicheiro, admitindo que esta oportunidade foi dada a todos os órgãos sociais da instituição, não sabendo quais deles aceitaram.

Bicheiro, que é também o coordenador do Gabinete de Estudos do PSD de Portimão, defendeu ao Observador que, nesta fase, além dos idosos e de quem lida com eles, só “os corpos dirigentes da nação, como o Presidente da República, o Governo, o Presidente da República e os presidente dos tribunais supremos” deviam ser vacinados. “Nunca, em condição alguma, os corpos sociais”.

O Observador contactou José Figueiredo Santos, presidente da direção do Centro de Apoios ao Idoso — e também líder da bancada do PS na Assembleia Municipal –, para perceber se tinha sido efetivamente vacinado, assim como outros membros dos órgãos sociais. A resposta foi dada por mensagem escrita.

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O responsável explicou que o Centro de Apoio ao Idoso de Portimão assiste cerca de 260 idosos e que, até agora, não registou qualquer surto de Covid-19 ou mesmo casos positivos da infeção. E garantiu que cumpriu o Plano de Vacinação e as orientações da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, que preveem a vacinação de “todos os idosos, profissionais , parte dos corpos gerentes essenciais ao funcionamento presencial na instituição (também eles de risco), e que têm contacto direto e ativo com os idosos, com as instalações que os mesmos frequentam e utilizam”

“No âmbito do enfrentamento responsável dos surtos nos lares, no universo dos 260 idosos assistidos, aproximadamente, sem casos de COVID-19, nós cumprimos o que está estabelecido no Plano de Vacinação e nas orientações da CNIS, ao abrigo dos quais foram vacinados todos os idosos, profissionais , parte dos corpos gerentes essenciais ao funcionamento presencial na instituição (também eles de risco), e que tem contacto direto e ativo com os idosos, com as instalações que os mesmos frequentam e utilizam”, disse por mensagem ao Observador.

Figueiredo Santos garante que nenhum dos funcionários deixou de ser vacinado “com exceção, por determinação das Autoridades de Saúde, dos que se encontravam de baixa e os funcionários ligados a valência de crianças (CATRAIA), a ser objeto de vacinação oportuna”.  O Centro tem uma valência de acolhimento temporário de menores em risco.

Já o presidente da Autoridade Regional de Saúde (ARS) do Algarve disse ao Observador desconhecer esta situação.  Paulo Morgado explicou que cada instituição manda à ARS uma lista dos funcionários e utentes a vacinar e que depois é feita uma verificação para perceber se há, de facto, contacto direto com os utentes idosos, de acordo com as funções discriminadas na lista.

“A vacinação inclui diretores técnicos que estão permanentemente nas instituições e não membros da Direção que apenas lá se deslocam esporadicamente“, explicou Morgado. Ainda assim, reconheceu saber “que tem havido por aí varias situações deste género”, sem saber se foi isso que se passou no Centro de Apoio ao Idoso de Portimão. “Se aconteceu, foi alguma que se incluiu erradamente na lista, não são essas as instruções”, afirmou.

Por outro lado, o presidente da ARS diz que o que pode acontecer pontualmente é serem administradas vacinas que possam sobrar. Ou seja, há casos em que os enfermeiros chegam ao local e trazem vacinas para funcionários ou utentes que por alguma razão, como doença, não podem receber vacinas. E, neste casos, como não as podem trazer de volta, administram as doses a alguém que não estava previsto.

“Vamos preparados para vacinar 70 pessoas, mas depois só 67 é que estão disponíveis. Sobram três e não vamos desperdiçar. Pode acontecer situações desse género. Se não forem dadas naquele momento, desperdiçam-se, não se podem transportar de volta para o centro de saúde. O frasco dá para seis doses, mas só administramos uma ou duas por exemplo. Às vezes há um aproveitamento das vacinas que sobram”, disse.

O Observador insistiu então com Figueiredo Santos, para perceber quem efetivamente tinha sido vacinado. O responsável pela direção respondeu que as “pessoas abrangidas” pela vacinação “são objeto de proteção pessoal de dados”, não lhe cabendo a ele divulgar os nomes que integraram a lista entregue à ARS .

Esta quinta-feira, o coordenador do Plano de Vacinação contra a Covid-19, Francisco Ramos, anunciou que a Inspeção Geral da Saúde vai passar a fazer auditorias à vacinação para perceber se os critérios estabelecidos para os grupos prioritários estão a ser cumpridos. Isto numa altura em o Governo decidiu alargar a vacinação a todos os idosos com mais de 80 anos, independentemente de terem outras doenças ou não.

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Foi também o dia em que o INEM esteve no centro de uma polémica, por também ter vacinado doentes não prioritários, segundo a Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil, que acusou o presidente do INEM de ter  requisitado “dezenas de vacinas a mais para imunizar funcionários do instituto, prestadores de serviços e colaboradores externos, parte dos quais seus amigos pessoais, violando as indicações do plano de vacinação” contra a Covid-19.

O INEM explicou, porém, que estas vacinas foram doses sobrantes aos profissionais que dão suporte à atividade de Emergência Médica, para evitar o desperdício.

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