Rui Rio e outros 11 deputados do PSD que foram incluídos na lista enviada por Eduardo Ferro Rodrigues a António Costa afinal não serão vacinados nesta fase contra a Covid-19. O Presidente da Assembleia da República responsabiliza o grupo parlamentar do PSD e acusa os sociais-democratas de não terem comunicado em devido tempo — e tal como ficara combinado em Conferência de Líderes — quem deveria ou não ser vacinado já nesta fase.
Depois de a notícia do Observador, onde se dava conta do nome dos 50 deputados que se mostraram disponíveis para ser vacinados, ter sido publicada, já perto da meia-noite de sexta-feira, vários deputados do PSD fizeram chegar ao Observador protestos sobre a forma como estavam abusivamente incluídos na lista enviada por Ferro a António Costa.
Mas tudo começou com uma falha de comunicação no próprio grupo parlamentar do PSD. Ao longo do dia de sexta-feira, de acordo com o que o Observador conseguiu apurar, foram vários os deputados que enviaram emails a Adão Silva, presidente da bancada, a dizer que entendiam que não deviam ser considerados prioritários na vacinação.
Foi o caso de André Coelho Lima, vice-presidente do partido e vice-presidente da bancada parlamentar, da deputada Clara Marques Mendes, e de Pedro Roque, e presidente dos TSD, que garantiram ao Observador que o nome deles tinha sido colocado à revelia da sua vontade na referida lista.
Esta manhã, chegaram ao Observador mais protestos de deputados do PSD. Confrontado com o que estava a acontecer, o líder parlamentar do PSD, Adão Silva — que era o responsável por fazer a ponte entre os deputados e Ferro Rodrigues — assumiu num primeiro momento ao Observador que a “lista está obviamente errada”, que “há 12 nomes que não devem figurar porque pediram expressamente para não ser vacinados” e que “já foi emitida uma nota ao gabinete do presidente da Assembleia da República”. Já antes disso, perante a indignação de vários membros, Adão Silva deu esta garantia aos deputados do PSD que o ia fazer.
Entretanto, o partido divulgou uma nota onde se retifica a lista inicial. Assim, dos 19 nomes iniciais, não serão vacinados nesta fase: Rui Rio, Adão Silva, Luís Marques Guedes, Firmino Marques, Pedro Roque, Paulo Rios de Oliveira, José Silvano, Helga Correia, Afonso Oliveira, André Coelho Lima, Clara Marques Mendes e Isaura Morais.
Contas feitas, vão ser apenas 38 os deputados vacinados e não 50, como consta da lista enviada por Ferro Rodrigues a António Costa.
Ao Observador, fonte do gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues aponta diretamente o dedo ao grupo parlamentar do PSD, dizendo que o partido foi “avisado várias vezes” que deveria enviar a lista, que havia um prazo claro — no final do plenário de sexta-feira –, e que o grupo parlamentar social-democrata “não chegou sequer a enviar” a lista dos deputados que abdicavam de receber a vacina.
Por isso, e seguindo o protocolo definido em Conferência de Líderes, Eduardo Ferro Rodrigues assumiu que todos aqueles que, no PSD, obedecessem aos critérios pré-definidos pela Assembleia estavam dispostos a ser vacinados, incluindo Rui Rio, que sendo líder do maior partido de oposição é considerado a oitava figura do Estado.
O deputado do PSD Fernando Negrão, por exemplo, que sendo vice-presidente da Assembleia da República tinha direito a constar da lista de prioritários, fez saber ao gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues que não queria ser vacinado já nesta fase. José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, fez o mesmo. Na ausência de respostas por parte do grupo parlamentar do PSD, Eduardo Ferro Rodrigues limitou-se a seguir o que fora definido.
Na sexta-feira à noite o Observador revelou a carta onde Ferro Rodrigues indica os nomes dos 50 deputados que foram considerados prioritários para levar a vacina. Nessa missiva, há 19 deputados do PSD (quando apenas 7 autorizaram que o seu nome seguisse na lista). Pior: no mesmo texto, o presidente da Assembleia da República deixa claro que naquela lista só estão os deputados que não se opuseram a tomar a vacina. E destaca isso com as seguintes palavras:
“A lista nominativa anexa inclui, assim, os titulares deste órgão de soberania considerados prioritários, de quem não foi recebida indicação contrária à sua inclusão nesta relação, assumindo-se, dessa forma, a predisposição para a sua vacinação”.
O aviso de Pedro Roque
O presidente dos TSD e da 10ª comissão parlamentar, Pedro Roque, explica ao Observador que deu ao grupo parlamentar uma “resposta inequívoca” e que, além dele, “surgem também nesta lista outros deputados do PSD com postura idêntica”. Numa nota enviada ao Observador, Pedro Roque volta a deixar claro: “Não aceito ser vacinado antes dos grupos da 1a prioridade, incluindo os próprios maiores de 80 anos.”https://observador.pt/especiais/quem-sao-os-deputados-que-vao-tomar-a-vacina-50-dos-230-estao-na-lista/
O Observador teve ainda acesso ao email que Pedro Roque enviou para os serviços do Grupo Parlamentar do PSD dirigido a Adão Silva, onde diz logo no primeiro ponto: “NÃO pretendo ser incluído em lista de vacinação de deputados com base na carta do PM ao PAR e no Despacho 1090-D/2021 emanado pelo Gabinete do PM.”
Mais do que isso, Pedro Roque dizia ainda nesse email enviado ao líder parlamentar às 10h25 de sexta-feira que este “privilégio — inusitado e não solicitado — é simbolicamente justificador e legitimador de comportamentos inqualificáveis que estão a verificar-se na sociedade portuguesa, de Norte a Sul, em que se verificam escandalosas e imorais ultrapassagens das prioridades de vacinação definidas, como o caso divulgado ontem pela Comunicação Social relativamente à Segurança Social de Setúbal”.
O mesmo Pedro Roque pedia à direção do grupo que tivesse “atenção redobrada relativamente às implicações políticas deste assunto”, acrescentando ainda que a “pior mensagem que, enquanto representantes, podemos passar para a cidadania é a da quebra do contrato social, da coesão e a instauração do império do “salve-se quem puder”. “Se o Governo não consegue ver isto ao menos que nós o façamos.”