A atriz Adelaide João morreu esta quarta-feira em Lisboa aos 99 anos, vítima do novo coronavírus, disse à Agência Lusa fonte da Casa do Artista, onde vivia. É a segunda morte por Covid-19 confirmada na instituição, que tem um surto, depois da de Cecília Guimarães na segunda-feira.

.No dia 25 de janeiro, na página de Facebook, a Casa do Artista indicava que “após onze meses de grande cuidado e dedicação” tinham sido detetados “testes positivos entre os residentes e funcionários”, tendo sido “tomadas todas as precauções e diretrizes indicadas pelas diversas entidades competentes”.

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Maria da Glória Pereira Silva, de nome artístico Adelaide João, nasceu em Lisboa em 27 de julho de 1921 e começou como atriz amadora no grupo de teatro da Philips.

A intérprete iniciou-se no pela mão do pai do ator Morais e Castro e foi buscar o nome profissional aos dois primeiros nomes da mãe e do pai.

Estudou no Conservatório Nacional e, em 1961, partiu para Paris para estudar teatro, com uma bolsa de estudo, tendo trabalhado em teatro com várias companhias francesas já que obteve a carteira de atriz profissional naquele país. Chegou a trabalhar numa companhia de teatro que era dirigida por Ingrid Bergman, como disse em declarações à RTP.

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A atriz integrou o elenco de “A intrusa”, do dramaturgo belga Maurice Maeterlinck, “A Castro”, de António Ferreira, em 1961, e “Eva e Madalena”, de Ângelo César, em 1962.

Em 1961, representou “O consultório”, de Augusto Sobral, no Teatro Nacional D. Maria II, e, um ano depois, “A rapariga do bar”, dirigida por Couto Viana, no Teatro da Trindade pela Companhia Nacional de Teatro.

Em 1965, Adelaide João, volta de vez a Portugal, voltando também para a televisão e integrando a Companhia do Teatro Estúdio de Lisboa, dirigida por Helena Félix e Luzia Maria Martins.

Nos anos seguintes, integrou companhias como o Teatro Experimental de Cascais, Teatro Maria Matos, Casa da Comédia, Empresa Vasco Morgado ou O Bando, de que era cooperante.

No teatro O Bando fez parte do elenco de peças como “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, e “Os anjos”, de Teolinda Gersão, entre outras.

O seu trabalho na televisão repartiu-se por séries, telenovelas, telefilmes e teatro televisivo.

“O fidalgo aprendiz”, de Francisco Manuel de Melo, “A sapateira prodigiosa”, de Federico García Lorca, “A vida do grande D. Quixote”, de António José da Silva, “Schweik na Segunda Guerra Mundial”, de Brecht, foram outras das muitas peças em que participou.

Integrou o elenco de telenovelas como “Vila Faia” (1982), “Origens” (1983), “Chuva na areia” (1985), “Palavras cruzadas” (1987), “Nunca digas adeus” (2001) e “Tudo por amor” (2002).

“Os gatos não têm vertigens”, de António-Pedro Vasconcelos, “A última dança”, “A mulher que acreditava ser presidente dos Estados Unidos”, de João Botelho, “Telefona-me” e “A estreia”, de Frederico Corado, “O processo do rei” e “O fim do mundo”, de João Mário Grilo, “Francisca”, “manhã submersa” e “Amor de perdição”, de Manoel de Oliveira, contam-se entre os filmes em que participou.

O último trabalho de Adelaide João na televisão data de 2014, já depois de ter recebido o Prémio Sophia, na série televisiva “The Coffee Shop Series”, cuja primeira temporada foi transmitida na SIC Radical e, a segunda, na RTP 2.

Maria da Glória Pereira Silva, de nome artístico Adelaide João, nasceu em Lisboa em 27 de julho de 1921 e começou como atriz amadora no grupo de teatro da Philips.

Na televisão, Adelaide João, que no meio teatral era conhecida como Lai Lai, estreou-se na RTP, com “Fim de Semana em Madrid”, em 1960. Na década de 80 contracenou em três novelas: “Vila Faia” (1982), “Origens” (1983) e “Palavras Cruzadas” (1987).

Depois de um hiato de uma década acabaria por regressar ao ecrã dos portugueses, em: “A Loja do Camilo” (2000), “Nunca Digas Adeus” (2001), “Tudo por Amor” (2002), “Os Batanetes” (2004), “Aqui Não Há Quem Viva” (2007), “Um Lugar Para Viver” (2009). Em 2017, recebeu o prémio Sophia pelos seus 50 anos de carreira.

Presidente da República recorda “atriz omnipresente nas últimas décadas”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou esta quarta-feira a morte de Adelaide João, recordando-a como “uma atriz omnipresente nas últimas décadas” em Portugal, a cuja presença os portugueses estavam habituados.

A atriz Adelaide João morreu esta quarta-feira de madrugada, aos 99 anos, na Casa do Artista, em Lisboa, onde residia, vítima de Covid-19.

Numa mensagem de pesar publicada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa endereça “sentidos pêsames” à família da atriz.

Nesta nota, Adelaide João é recordada como “uma atriz omnipresente nas últimas décadas”, referindo-se que tinha “muito mais de uma centena de trabalhos no currículo” e era “quase centenária em idade”.

“E se estávamos tão habituados à sua presença, a verdade é que reencontraremos sempre Adelaide João quando regressarmos às imagens do nosso cinema e da nossa televisão”, acrescenta-se.

Maria da Glória Pereira Silva, de nome artístico Adelaide João, nasceu em Lisboa em 27 de julho de 1921.

Segundo o chefe de Estado, “lembrar os seus trabalhos é fazer o historial do teatro televisivo em Portugal, do Teatro Nacional e das companhias de teatro independentes, das novelas fundadoras”, como “Vila Faia”, “Origens” e “Chuva na Areia”, e também “dos dramas e séries”, como “Eu Show Nico” e “Cláxon”.

Destaca-se ainda nesta mensagem a ligação da atriz ao “cinema de autor desde 1960”, com a participação nos filmes “Dom Roberto”, “O Recado”, “Amor de Perdição”, “Francisca”, “Sem Sombra de Pecado”, “O Bobo”, “O Processo do Rei”.

Adelaide João é descrita como “uma figura eminentemente reconhecível, com uma franqueza e um desembaraço que a tornavam uma atriz cómica por excelência, mas também à vontade em registos mais graves”, e como “uma atriz de elenco, consciente da interpretação como arte coletiva e colaborativa, em que cada ator dá o seu contributo, maior ou mais pequeno, notório ou discreto”.

Em Portugal, já morreram mais de 13 mil pessoas com Covid-19 e até agora foram contabilizados mais de 740 mil casos de infeção com o novo coronavírus que provoca esta doença, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).