Nove em cada dez profissionais de saúde em Portugal desenvolveram anticorpos contra o SARS-CoV-2 logo nas três semanas seguintes à administração da primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech. É o que revelam os primeiros resultados de um estudo conduzido pelo Instituto Gulbenkian de Ciência e pelo Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental e que envolverá 1.200 profissionais desta unidade.
Os primeiros mil profissionais de saúde vacinados ainda em dezembro contra a Covid-19 — médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e técnicos de diagnóstico e terapêutica — foram testados para a presença de anticorpos contra o vírus antes da toma da vacina e três semanas após a primeira administração. Novecentos (ou seja, 90% da amostra) demonstraram ter desenvolvido uma resposta imune induzida pela vacina logo após a primeira dose.
Os mesmos profissionais de saúde vão ser testados novamente três semanas depois de terem tomado a segunda dose da vacina para se estudar a imunidade desenvolvida até àquele momento (altura em que a robustez da resposta imune já será robusta o suficiente para prevenir a doença). No próximo ano, vão repetir os testes para estudar a duração dessa resposta imunitária.
Não é estranho que nem todos os profissionais de saúde tenham desenvolvido uma resposta imune ao vírus à conta da vacina. Como nenhuma vacina tem uma eficácia de 100%, algumas das pessoas inoculadas vão ficar protegidas contra o SARS-CoV-2. Mas com o atingimento da imunidade de grupo, mesmo quem não desenvolveu uma resposta imune fica indiretamente mais protegido contra o vírus.
Este estudo à efetividade da vacina é uma das vertentes de um conjunto de projetos de vigilância do vírus SARS-CoV-2 em profissionais de saúde, que está a ser levado avante pelo Instituto Gulbenkian de Ciência desde a primavera do ano passado. Jocelyne Demengeot, investigadora da Gulbenkian, garante que “os dados que obtivemos comprovam que a vacina está a cumprir o seu primeiro objetivo: estimular o sistema imunitário resultando no desenvolvimento de anticorpos específico do vírus”.
O registo da resposta dos profissionais de saúde à vacina é recomendada pela Organização Mundial da Saúde para monitorização do fármaco. Os resultados finais do estudo vão ser entregues ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que comunicará as descobertas ao Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. Os dados podem vir a ser utilizados no planeamento de recomendações globais sobre a vacinação contra a Covid-19.
João Faro Viana, diretor do Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, é um dos voluntários deste estudo e garante que esta é “é uma forma simples de demonstrar a sua eficácia, fundamental para dar segurança e confiança aos profissionais de saúde”. Mencionou também que os Serviços Farmacêuticos do hospital, em colaboração com a Comissão de Farmácia e Terapêutica, está a monitorizar possíveis reações adversas.
Mas não basta. Carlos Penha-Gonçalves, investigador da Gulbenkian envolvido na implementação do estudo, avisou que é preciso monitorizar a aplicação da vacina “em diferentes contextos e diferentes populações, para garantir aquilo a que os cientistas chamam de ‘evidência no mundo real’“. Por isso é que a Gulbenkian tenciona alargar o estudo a outros grupos da população, com diferentes vacinas, desta vez a nível nacional e em parceria com outros hospitais e autarquias.