Pelo menos 2,3 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária em Tigray devido ao conflito que começou naquela região etíope há três meses, enquanto o acesso à área permanece muito restrito, disseram agências da ONU.

“Uma quantidade crescente de carga humanitária tem conseguido chegar a Tigray, mas sem as nossas equipas e acesso, não chegará às pessoas que mais precisam dela, especialmente nas zonas rurais”, disse o porta-voz do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários, Jens Laerke, numa conferência de imprensa.

A assistência humanitária conseguiu chegar à capital regional, Mekele, e aldeias ao longo da estrada de acesso à mesma, que é controlada por forças do governo federal. No entanto, o acesso às zonas rurais, que não são controladas pelo governo e onde vivem dois terços da população, está completamente bloqueado, tanto para as agências da ONU como para as organizações não-governamentais, devido à falta de licenças das autoridades.

“As negociações da ONU com o governo revelaram-se improdutivas, mas as autoridades compreendem a deterioração que pode ser causada por continuar a limitar a ajuda humanitária”, disse Laerke. A situação alimentar é muito grave porque o conflito começou durante a época da colheita e houve relatos de falta de produtos essenciais nos mercados, levando a níveis elevados de subnutrição, que já estava a aumentar antes dos combates devido às consequências da pandemia de Covid-19.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por seu lado, o porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Babar Baloch, alertou para a deterioração da situação dos refugiados eritreus, 20.000 dos quais se encontram em zonas onde não há acesso, tais como os dois campos localizados no norte da região de Tigray.

Cerca de 4.000 eritreus chegaram aos campos de refugiados do sul, onde o ACNUR está presente, e relataram ter de se alimentar com folhas de árvores devido à escassez de alimentos e terem testemunhado mortes e raptos por pessoas armadas nos campos do norte.

Também relataram a presença de forças eritreias na zona que estão a forçar alguns dos refugiados a regressar à Eritreia, enquanto outros decidiram regressar, dada a situação de insegurança na Etiópia. Mais de 70 trabalhadores humanitários estão à espera em Adis Abeba para poderem entrar em Tigray e distribuir ajuda e algumas equipas da ONU e de ONG chegaram a Mekele e estão a receber autorizações para sair da cidade, embora o seu número ainda seja insuficiente.

O primeiro-ministro, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz de 2019, lançou uma ofensiva no início de novembro contra as autoridades regionais dissidentes do Tigray, com as quais as tensões vinham crescendo há meses. Mais de dois milhões de pessoas estão deslocadas.