Francisco Rodrigues dos Santos venceu a primeira batalha, mas a guerra pela liderança do CDS está longe de estar concluída. Muito longe. A curta diferença — cerca de 31 votos num universo de 265 votantes — ultrapassou as melhores expectativas dos apoiantes de Adolfo Mesquita Nunes, que vão guardar este capital político para embates futuros. O jogo agora será de paciência.
“Foi uma vitória de pirro“, diverte-se um dos mais leais ao challenger. Galvanizados pelo resultado, muitas das tropas de Adolfo Mesquita Nunes queriam avançar já com a recolha de assinaturas para forçar a realização de um congresso eletivo. O antigo vice-presidente de Assunção Cristas, no entanto, não perdeu tempo e mandou congelar todas as movimentações nesse sentido. O tempo ainda não chegou.
No Facebook, Mesquita Nunes ocupou os primeiros parágrafos de um longo texto para dizer taxativamente que respeitará os resultados e a vontade do Conselho Nacional; e terminou dizendo que o seu foco serão as autárquicas.
As entrelinhas são evidentes: Adolfo Mesquita Nunes entende que conseguiu um bolsa de apoios importante neste Conselho Nacional e nada fará para a esvaziar. A convicção entre alguns dos mais próximos do antigo secretário de Estado do Turismo é que este sábado ficou evidente que a direção de Francisco Rodrigues dos Santos tem os dias contados.
As contas são, no entender dos adversários internos, relativamente simples de fazer: apesar de o Conselho Nacional estar, em teoria, alinhado com o líder do CDS, a vantagem conseguida por Francisco Rodrigues dos Santos ficou abaixo do número das inerências e dos membros da própria Comissão Política Nacional, a direção alargada do partido.
Baralhando e dando de novo: mesmo depois de todas as demissões dos últimos dias, há membros na direção de Francisco Rodrigues dos Santos que estão contra o atual presidente.
Ao longo de todo o dia de sábado, os apoiantes de Mesquita Nunes foram oscilando entre um e outro plano: durante a discussão sobre o voto secreto, e já depois de o ex-secretário de Estado do Turismo ter batido com a porta, começou a circular a tese de que a insistência num congresso era o único desfecho possível. Depois disso, e já com a normalidade possível reposta, as contas foram sendo feitas e refeitas.
O resultado curto de Francisco Rodrigues dos Santos na moção de confiança altera tudo. Até às autárquicas a ordem é para que ninguém mexa um músculo; a convicção é a de que a direção de Rodrigues dos Santos, frágil aos olhos dos apoiantes de Mesquita Nunes, cairá por si. Depois, sim, será tempo de avançar.
Vassourada no grupo parlamentar?
O Conselho Nacional deste sábado acabou também por ficar marcado pelo choque frontal entre a bancada parlamentar e Francisco Rodrigues dos Santos. Depois de muitos meses de tensão, com sinais mais ou menos públicos de divórcio, os cinco deputados apareceram nesta reunião ao lado de Adolfo Mesquita Nunes e não pouparam críticas ao líder do CDS.
De parte a parte, ninguém se compromete com um desfecho. Alguns deputados, sabe o Observador, estão dispostos a deixar o cargo se a convivência com o atual presidente do CDS se tornar ainda mais insustentável. Mas será uma solução drástica e de último recurso.
Do lado da liderança de Francisco Rodrigues dos Santos a convicção é a de que o percurso dos deputados João Gonçalves Pereira ou Ana Rita Bessa, ambos eleitos por Lisboa, chegou ao fim. Espera-se que os dois assumam as consequências das posições que assumiram nestes últimas semanas e meses.
Já a saída de Cecília Meireles, que significaria a entrada direta do líder do CDS no Parlamento, é uma solução há muito defendida por vários dos apoiantes do presidente democrata-cristão. Voltou a ser tema deste Conselho Nacional e não é de excluir que a pressão indireta sobre a deputada venha a aumentar.
Aos jornalistas, Francisco Rodrigues dos Santos desvalorizou por completo a hipótese de mexidas na bancada e prometeu um esforço renovado para relançar a relação entre direção do partido e grupo parlamentar.
No núcleo duro do CDS, no entanto, nem todos pensam assim. Ninguém vai empurrar ninguém; mas ninguém entraria em estados depressivos se algumas das vozes mais críticas da atual liderança deixassem o Parlamento.