O Chega aproveitou as eleições Presidenciais para “tomar o pulso à implantação local” pelo país. O partido vai pela primeira vez a autárquicas e apesar de haver “consciência” de que os resultados vão ser diferentes da corrida a Belém, mantém a ambição. O coordenador autárquico, Nuno Afonso, explica ao Observador que o partido liderado por André Ventura tem duas grandes metas: “O principal objetivo é concorrer a todas as 308 concelhias do país” com “bons resultados”; outro é conseguir ser a “terceira força política” neste ato eleitoral.

A oito meses das eleições já há candidatos escolhidos, pessoas a serem sondadas, mas também dificuldade em conseguir nomes para alguns locais do país e muito secretismo envolvido. Certo é que, desta vez, a cara do partido não vai a votos. Costuma-se dizer na gíria popular que não há duas sem três, mas André Ventura vai quebrar o ditado e não vai ser candidato nestas autárquicas. Depois de levar o Chega ao Parlamento nas legislativas e de ter ficado em terceiro lugar nas presidenciais, André Ventura vai ficar de fora. Houve ainda as eleições europeias, mas nessas o Chega não foi a votos, apesar de André Ventura ter dado a cara pela coligação Basta.

A formação de candidatos às autárquicas

Para meter a máquina a mexer, o Chega está a montar uma estratégia assente em três grandes núcleos — Norte, Centro e Sul. No fim de semana 20 e 21 de março, o Chega vai realizar três Convenções Autárquicas com o intuito de discutir “as linhas programáticas do partido” e também “para que toda a gente tenha a ideia do que tem de defender, que não haja dúvidas e que as coisas sejam uniformes pelo país”. Nuno Afonso, o coordenador autárquico do Chega, explica que se trata de “dar alguma formação autárquica” por ser possível que alguns dos candidatos nunca tenham estado na política antes do desafio destas eleições.

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O partido está à procura de mini-Andrés Venturas? “Não é fácil arranjar candidatos com experiência, nem mini-Andrés Venturas”, admite o responsável. Apesar disso, uma fonte do Chega Lisboa traça o perfil que se espera de um candidato autárquico para o partido. “Alguém que não tenha rabos de palha, que esteja bem visto na sociedade, que não tenha tido problemas graves com a justiça, alguém visto como uma pessoa honesta”, descreve, lembrando que o partido tem “consciência do escrutínio”.

Porta fechada por “vergonha ou medo”

Não tem sido fácil para o Chega conseguir candidatos, mesmo em locais onde alcançou bons resultados nas Presidenciais. Nuno Afonso admite que tem havido “dificuldade” porque há pessoas que têm “vergonha ou medo de dizer que apoiam André Ventura e o Chega”. É o caso de Mourão, no Alentejo, por exemplo, em que o Chega conseguiu bons resultados, mas não está a conseguir alguém que dê a cara pelo partido. Esse tipo de discurso, crê o coordenador, “dificulta muito em termos de candidatos autárquicos”. Em locais onde há problemas em arranjar candidatos, a estratégia vai ser apostar em pessoas que não são da zona.

O partido “não fecha a porta a ninguém”, independentemente do espectro político. Cabem pessoas “do CDS ao PCP”, como André Ventura tem dito, mas nos nomes que já estão escolhidos para estas autárquicas, “não há grandes nomes que tenham vindo do PSD e do CDS”.

Chega recusa coligações e quer “símbolo em todos os boletins de voto”

Aliás, após o acordo autárquico firmado entre sociais-democratas e centristas, o Chega recusa a existência de coligações pré-eleitorais. O partido quer “o símbolo em todos os boletins de voto”. “Haverá seguramente acordos pós-eleitorais. Coligações, quanto muito, talvez na Madeira e nos Açores porque são situações diferentes, mas mesmo aí a tendência será não fazermos coligações”, assegura o coordenador. O Chega diz já ter sido sondado por partidos e rejeitou.

Com a lupa em Lisboa, duas fontes do partido admitem que há “dois nomes em cima da mesa”, mas nenhum deles ligado diretamente à política. Um dos elementos do Chega diz ao Observador que são “pessoas conhecidas”, porém não envolvidas na política. Apesar de o candidato à câmara da capital não estar escolhido, já há “dois concelhos fechados em Lisboa”. No caso da cidade do Porto ainda se está longe de fechar um candidato, ao contrário da maioria das câmaras do distrito, que estão “quase todas” fechadas.

Apesar de as distritais terem uma palavra importante, em casos como Porto, Gaia, Sintra, Setúbal ou Lisboa a direção do partido quer ter um um maior peso na escolha.

Nuno Afonso diz que o partido tem “consciência” de que os resultados nas autárquicas não vão ser “os mesmos resultados do que nas Presidenciais”. “Se ganharmos alguma câmara é uma vitória muito grande, o que esperamos é conseguir bons resultados, vereadores, deputados municipais, nas assembleias de freguesia. Ganhar uma câmara ou junta de freguesia é um bónus muito grande”, realça.

Neste momento, estão a ser feitas pesquisas para perceber onde o Chega “tem mais implementação”, os locais nos quais “tem mais força”, bem como os sítios em que o partido “tem de trabalhar mais”.