A Polícia Federal do Brasil confirma que nenhum dos passageiros do avião que transportava meia tonelada de cocaína escondida na fuselagem está retido no Brasil, mas explica ao Observador que foi pedido a João Loureiro para que não deixasse o território brasileiro. “Ele não está retido no Brasil, mas foi solicitado que aguardasse no Brasil”, revela ao Observador fonte oficial daquela polícia, que questionada sobre se o antigo presidente do Boavista é suspeito, respondeu: “Os factos estão sendo analisados, logo não o confirmamos como suspeito”.

Dentro do jato privado, seguiam outros cidadãos portugueses e de outras nacionalidades, sendo que os tripulantes da aeronave não só não ficaram retidos como já regressaram à Europa.

Neste momento, quanto aos restantes passageiros, explicou a Polícia Federal, o que se sabe é o seguinte: “O cidadão espanhol retornou para a Europa, um português está no Brasil e será ouvido esta sexta-feira e o terceiro passageiro embarcou em Salvador e foi para São Paulo e não retornou com a aeronave”.

Antigo presidente do Boavista diz que já tinha desistido de regressar naquele jato

João Loureiro, recorde-se, era um dos passageiros do avião com destino a Portugal que ficou retido no dia 9 no aeroporto da Bahia depois de ter sido encontrada meia tonelada de cocaína escondida no seu interior. À SIC, o antigo presidente do Boavista garantiu esta quinta-feira ser completamente alheio à situação. Até ao momento, apurou o Observador, nenhum dos passageiros foi detido, dado que a polícia não os encontrou em flagrante delito.

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Já esta sexta-feira, à Lusa, João Loureiro acrescentou que já tinha desistido de regressar a Portugal naquele avião antes sequer da apreensão, insistindo que é “alheio” à situação. “Ia regressar a Portugal nesse voo [onde foi apreendida a droga] junto com vários outros passageiros, mas já tinha desistido de o fazer” antes de o assunto ser espoletado, afirmou o jurista, numa mensagem escrita à Lusa. Defendeu ainda que, na altura da operação policia em Salvador, estava em São Paulo.

João Loureiro não refere que é vontade das autoridades que permaneça no Brasil, explicando que fez questão de por “mote próprio” e antes de voltar falar com as autoridades brasileiras enquanto testemunha. “Acredito que talvez o tenha sido devido ao meu pedido para que houvesse uma inspeção rigorosa ao avião”, rematou.

Segundo a lei brasileira, os responsáveis por transporte de carga ilícita desta natureza poderão responder pelos crimes de tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico. A pena, em cúmulo jurídico, pode chegar a 25 anos de prisão.

O caso foi tornado público na semana passada, quando a Polícia Federal do Brasil anunciou a apreensão de meia tonelada de cocaína escondida num avião particular que se preparava para descolar da pista do Aeroporto Internacional de Salvador com destino a Portugal, no dia 9 de fevereiro.

A droga foi encontrada depois de o piloto da aeronave ter comunicado à torre de controlo que os seus comandos de voo indicavam algum tipo de problema de funcionamento e de terem sido chamados mecânicos que acabaram por descobrir parte da droga e relataram à Polícia Federal. Um dos problemas para a falta de estabilidade poderia, afinal, ser o peso acrescido da droga, sabe o Observador.

Após o piloto acusar a ocorrência de alerta de pane durante o voo para a capital baiana, mecânicos inspecionaram a aeronave e acabaram encontrando parte da droga, sendo acionada, imediatamente, a Polícia Federal”, informou aquela polícia no passado dia 10.

Especialistas criminais federais e cães treinados para detetar drogas da Polícia Civil permitiram que fossem “encontrados na aeronave outros esconderijos onde estava o resto da droga”, que estava dividida em comprimidos marcados com logótipos de marcas desportivas famosas.

A imagem da apreensão divulgada pela Polícia Federal brasileira

Os três tripulantes foram levados para as instalações da polícia para serem ouvidos, adiantou ainda a Polícia Federal em comunicado. Ao que o Observador apurou, o piloto do avião terá nacionalidade portuguesa, assim como uma assistente de bordo.

A droga foi encaminhada à Superintendência Regional da Polícia Federal, para onde também foram conduzidos os tripulantes, a fim de prestarem depoimento”, refere a mesma nota.

João Loureiro garante não ter sido ouvido e o comunicado daquela polícia de dia 10 também não fazia referência a qualquer audição nas primeiras horas de passageiros. Mas, mesmo que ainda não tenha sido, o antigo presidente do Boavista deverá ser inquirido no âmbito deste processo.

O alerta sobre o passageiro espanhol e o convite de uma empresa brasileira

O avião tinha partido do Aeroporto de Tires no dia 27 de janeiro, fez escala em Cabo Verde, parou em Salvador da Baía e seguiu até ao destino final, São Paulo, noticiou a SIC. Nele, seguiam cinco pessoas: três tripulantes, João Loureiro e um cidadão espanhol sobre quem já havia um alerta de vigilância discreta, emitido pelo departamento da Judiciária que investiga o tráfico de droga.

O filho de Valentim Loureiro garantiu à SIC que não conhecia o cidadão espanhol e que foi ao Brasil num avião privado pago por uma empresa brasileira que o queria contratar como consultor. O advogado adianta que começou a desconfiar de que algo estava errado porque o voo de regresso, inicialmente previsto para 1 de fevereiro, foi sendo adiado. Além disso, à chegada já tinha havido problemas com caixas de vinho que iam a bordo, o que o levou, no dia 6 de fevereiro a enviar uma mensagem — que mostrou à SIC — ao comandante do avião a pedir que fossem “rigorosos na inspeção da carga”.

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O regresso a Portugal estava marcado para dia 9 de fevereiro e, além de João Loureiro e do cidadão espanhol, iriam viajar dois empresários de futebol: Bruno Carvalho Santos e Hugo Cajuda que não terão aparecido, porque terão decidido regressar num voo comercial. Segundo a SIC, os tripulantes já foram ouvidos e tiveram ordem para regressar a Portugal, mas João Loureiro diz ter optado por ficar no Brasil porque não quer passar a ideia de que está a fugir.

Avião tinha autorização para voar para Portugal ou não? Polícia Federal e Governo português em desacordo

À agência espanhola Efe, a Polícia Federal do Brasil confirmou que o avião particular já tinha autorização para voar para Portugal, o destino final. Mas, na passada quarta-feira, o Governo português desmentiu essa informação e garantiu que o pedido de autorização foi rejeitado, sem adiantar o motivo. Num comunicado enviado à agência Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) adiantou que “o pedido de autorização para a viagem na aeronave em apreço foi indeferido pelo MNE”.

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A reação de Bolsonaro à apreensão da Bahia

A aprensão foi comentada pelo Presidente do Brasil no seu Twitter, no passado domingo. Jair Bolsonaro elencou esta e outras apreensões e concluiu da seguinte forma: “Prejuízo ao crime organizado”.