Qual foi a última vez que comeu tremoços? Provavelmente, num momento de puro ócio e com uma cerveja a acompanhar, que em Portugal mordiscar esta leguminosa raramente dispensa uma bebida fresca. De tal maneira que há quem a chame “o amigo ingrato da cerveja”. Não por não cumprir o seu papel de aperitivo salgado, mas porque o tremoço se trata, na verdade, de um alimento bem mais rico do que o hábito português faz acreditar.

“Nutricionalmente, é riquíssimo”, como assinala Catarina Gorgulho. Com Pedro Godinho Ramos e Alice Trewinnard, dois amigos de longa data, forma o trio português cuja incumbência foi, nos últimos dois anos, elevar o tremoço a snack da moda, suficientemente convincente para conquistar mercados tão exigentes como o Reino Unido, onde os lupin beans são um produto desconhecido para muitas pessoas.

Na última semana lançaram a Tarwi, uma marca de tremoços biológicos que se quer posicionar como opção saudável e prática para os milhões de citadinos que em esforço constante para equilibrar a dieta. “Estamos a falar de um alimento rico em proteína e fibra e baixo em calorias e gordura”, acrescenta Catarina, portuguesa da área da gestão a viver em Londres há cerca de uma década.

Alice, Pedro e Catarina, os fundadores da Tarwi © Divulgação

Rico em proteína vegetal — duas vezes mais do que a maioria das leguminosas e o triplo da que concentra a quinoa –, o tremoço tem sido menosprezado, enquanto alimento e não só. “Queremos reposicioná-lo como ingrediente de uma alimentação saudável, até porque o tremoço é bom para as pessoas e para o ambiente. O facto da planta ajudar a fixar azoto no solo, faz com que seja uma ótima plantação de rotação”, repara Pedro.

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A Tarwi recorre ainda a produtores biológicos localizados no norte do país, na região do Douro. O facto de, em Portugal, esta cultura ser de pequena escala não impediu estes três empreendedores de conseguir obter um produto final totalmente português. Como resume ainda Pedro, o benefício é triplo — vai para os clientes finais, para o ambiente e para a economia.

“Começou em 2019, durante uma conversa casual na praia. Eu e a Alice somos amigas há algum tempo e estávamos a passar o verão juntas. Ambas gostamos de levar um estilo de vida saudável e há muito que tínhamos vontade de fazer algo nesta área. Com o Pedro, que como eu vive em Londres há vários anos, criámos uma equipa, a acreditar que existia espaço para melhorar o ramo da alimentação conveniente”, conta Catarina.

Pedro trouxe a experiência na área do grande consumo. Alice, além de influenciadora com quase 270 mil seguidores no Instagram, tem formação em nutrição. Com um único ingrediente, bastante rico por sinal, criaram a Tarwi (nome pelo qual é conhecido o tremoço na América Latina). Falam na relação de ansiedade que muitas pessoas mantêm hoje com a comida, uma relação sem meio meio termo entre os que vivem obcecados com a própria alimentação e os que as negligenciam. Um “tudo ou nada” agravado pelo excesso de informação sobre produtos e pela dificuldade em manter uma dieta saudável entre as refeições.

É este o aspeto de uma plantação de tremoço. A semente do tremoceiro é depois cozinhada, assumindo a textura e o aspeto com que é consumida © Divulgação

“O mercado da alimentação saudável na Europa foi passando por muitas fases. Neste momento, estamos a voltar aos ingredientes base, mas também à noção do culto real dos alimentos e à sua rastreabilidade. É verdade que consumimos muitas bolachas de arroz, muitos frutos secos e muita fruta desidratada, mas tanto os países nórdicos como França e Reino Unido estão já muito voltados para as leguminosas”, esclarece Pedro.

Manter o produto simples parece ser uma das apostas. Estes tremoços não são consumidos em salmoura, como estamos habituados a ver. Alice explica ainda que a produção biológica faz com que a casca seja menos fibrosa do que o normal e que não seja seja preciso tirá-la. O produto final torna-se, assim, muito mais prático para comer on the go. “É difícil competir com estas características nutricionais. Podemos falar das atuais bolas ou barras energéticas, mas essas têm muito mais açúcar, ingrediente que os nossos snacks simplesmente não têm”, explica Trewinnard.

O lançamento aconteceu no início da semana com três sabores — sal marinho, malagueta e manjericão. Este ingrediente improvável cresce no norte, mas é na região centro do país que o produto é preparado. Por enquanto, o objetivo é conquistar o mercado nacional, onde predomina o tremoço importado do Peru, um dos grandes produtores mundiais, à semelhança de outros países da América do Sul e da Austrália. “É um produto em que as pessoas procuram pelo preço, então predomina quem vende mais barato. Poucos o cultivam de forma orgânica, precisamente porque há poucas pessoas que o consomem”, completa Pedro.

Os tremoços da Tarwi vêm em embalagens de 70 gramas, hidratados, mas muito menos salgados do que estamos habituados a consumi-los © Divulgação

O trabalho que a Tarwi tem pela frente é árduo, precisamente porque implica reeducar o consumidor em relação à forma de comer este alimento. Noutros mercados, nomeadamente no Reino Unido, onde a marca se quer dar a conhecer por motivos óbvios, a estratégia será outra. O tremoço não é o aperitivo salgado que acompanha a cerveja, daí que faça sentido apresentá-lo diretamente como alternativa a produtos como a soja, a aveia, a quinoa e a lentilha. Os três sócios garantem que este não é só mais um produto da moda, a revolução nas leguminosas está aí, e 2021 pode muito bem ser o ano do tremoço.

Nome: Tarwi
Data: 2021
Ponto de venda: loja online
Preços: 13 euros (conjunto de seis embalagens)

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