O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, só voltará ao tribunal de Jerusalém que o está a julgar por suspeitas de corrupção a 5 de abril próximo, já depois das eleições legislativas antecipadas de 23 de março, anunciou esta segunda-feira fonte oficial.

A sessão foi interrompida a 08 deste mês, quando Netanyahu, 71 anos, se apresentou durante 20 minutos no tribunal de Jerusalém para rejeitar novamente as acusações de corrupção, fraude e abuso de confiança em três casos.

“Aprovo a resposta escrita em meu nome”, declarou então numa alusão à carta redigida pelos seus advogados e apresentada à justiça em janeiro, na qual “nega todas as acusações” que lhe foram dirigidas. Detentor de um recorde de longevidade dos primeiros-ministros israelitas, com 15 anos no poder, Netanyahu é o primeiro chefe de Governo da história de Israel a ser julgado enquanto em funções.

No tribunal, os seus advogados, Boaz Ben Zur e Amit Hadad, acusaram o procurador-geral, Avichai Mandelblit, que foi designado por Netanyahu, de má gestão do caso. Na sua perspetiva, uma parte do inquérito foi aberto sem as necessárias autorizações. Os juízes indicaram que vão analisar estas alegações antes de anunciarem as datas da próxima fase do processo, sugerindo então que Netanyahu não deveria apresentar-se de novo no tribunal antes das legislativas de 23 de março. Previamente, a defesa tinha requerido alguns meses para preparar o dossiê, alegando com a sua complexidade. Netanyahu, que não beneficia de qualquer imunidade, denunciou as acusações “ridículas” na abertura do processo, em maio de 2020.

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O primeiro-ministro está a ser julgado em três casos. O dossiê Bezeg, também designado “Caso 4.000”, em que é acusado de ter tentado assegurar uma cobertura mediática favorável pelo portal na Internet Walla sobre os favores governamentais que poderão ter garantido milhões de dólares a Shaul Elovitch, então o patrão do gigante israelita de telecomunicações Bezeg, do qual o Walla faz parte.

Netanyahu, que à época também acumulava a pasta das Comunicações, negou ter procurado obter uma cobertura favorável do Walla em troca da sua aprovação em 2015 a uma fusão do Bezeg com o distribuidor de televisão por satélite Yes.

No “Caso 2.000”, ou Mediagate, é acusado de ter também procurado assegurar uma cobertura favorável pelo Yediot Aharonot, o diário pago mais lido em Israel, em troca de uma eventual lei que limitasse a difusão do jornal gratuito Israel Hayom, o seu principal concorrente.

No terceiro dossiê, o “Caso 1.000”, Netanyahu e membros da sua família são suspeitos de terem recebido presentes – charutos de luxo, garrafas de champanhe e joias – avaliados em mais de 700.000 shekels (cerca de 175.000 euros), por parte de diversas personalidades em troca de favores financeiros ou pessoais.

Netanyahu disse ter recebido um conselho jurídico de peritos que conclui ter o direito em aceitar os presentes de amigos próximos, e negou a concessão de favores. No início do seu processo, Netanyahu acabava de formar um Governo de união com o seu rival Benny Gantz. No entanto, as manifestações contra o primeiro-ministro reforçaram-se, e a coligação colapsou.

Na sequência desta nova crise política, foram convocadas eleições legislativas para 23 de março, as quartas em menos de dois anos, e que estão a suscitar receios no círculo próximo do primeiro-ministro sobre o impacto do processo na votação.

Yariv Levin, presidente do parlamento e próximo de Netanyahu, declarou recear uma “interferência sem precedentes nas eleições” caso o tribunal apresente “a partir de agora” elementos de prova contra o primeiro-ministro. No entanto, a batalha eleitoral está longe de estar ganha por Netanyahu, que espera garantir uma maioria de lugares, para eventualmente fazer aprovar uma lei que lhe assegure imunidade judicial.

O seu partido, o Likud (direita), permanece à frente nas sondagens com 29 lugares de deputados em 120, mais do que o centrista Yair Lapid (17), e o direitista Gideon Saar (14). Uma projeção que não lhe garante, com os seus diferentes aliados, alcançar o patamar da maioria de 61 deputados.