O vice-presidente executivo da Comissão Europeia Frans Timmermans defendeu que a Europa tem de “abraçar uma economia circular” e “restaurar a natureza de uma forma proativa“, investindo num “modelo de negócio sustentável”.
Numa mensagem vídeo divulgada na abertura da conferência de alto nível “Alterações Climáticas, Novos Modelos Económicos”, Frans Timmermans alertou para a necessidade de “reequilibrar a nossa vida com o planeta” e de “evitar um ecocídio“. Para isso, defendeu que é necessário “atuar rapidamente” e começar por “dar prioridade a todos os pilares do Pacto Ecológico Europeu”, dissociando o crescimento “não só das emissões, mas também dos recursos”.
Na verdade, metade das emissões de gases com efeito estufa e mais de 90% de perda de biodiversidade vêm da extração dos recursos e do processamento e transformação desses recursos”, pelo que “não será necessário apenas uma energia limpa“, argumentou.
O comissário europeu responsável pelo Pacto Ecológico Europeu assinalou a necessidade de “abraçar uma economia circular e uma economia sustentável e, ao mesmo tempo, de restaurar a natureza de uma forma proativa”. Apontando a bioeconomia como uma parte da economia circular, Frans Timmermans apelou, então, ao cumprimento “em toda a linha” dos mesmos princípios de circularidade, porque “não podemos continuar no mesmo caminho de produção e consumo, pura e simplesmente substituindo os combustíveis fósseis por combustíveis biológicos”.
“O nosso padrão de extrair, utilizar e eliminar tem de mudar. Temos de mudar completamente a forma como os produtos são concebidos, transformados, fabricados e consumidos”, frisou. Por isso, propõe, em primeiro lugar, a redução do “consumo primário” e o investimento “num modelo de negócio mais sustentável”, cumprindo “as normas mais exigentes em termos de sustentabilidade”.
O mercado deve ter produtos que possam ser produzidos, usados, reutilizados, reciclados e novamente reutilizados. Temos de ter produtos que sejam cada vez mais feitos a partir de materiais recicláveis. Isso vai ajudar-nos a crescer, reduzindo, ao mesmo tempo, a pressão sobre o nosso ambiente”, acrescentou.
Nesse sentido, recordou que a Comissão Europeia “está a desenvolver uma política e um quadro legislativo para o efeito”, que vai ser aberto a consulta pública “em breve”. Ao mesmo tempo, Frans Timmermans sugeriu a utilização do pacote financeiro para a recuperação económica da União Europeia (UE), no valor de 750 mil milhões de euros, para “transformar” a economia europeia numa economia “mais circular”.
Se gastarmos de uma forma sensata, podemos garantir que os produtos que produzimos são sustentáveis, que a energia é limpa, que temos uma economia com uma eficiência de utilização dos recursos, em que as nossas cidades são verdes e em que os resíduos são minimizados e a natureza é protegida e restaurada“, disse. “No fim, isto não tem que ver com salvar o planeta, mas com salvarmo-nos a nós mesmos. Só restaurando o equilíbrio com o nosso ambiente é que vamos conseguir ter uma vida melhor para nós e também para todos aqueles que vêm depois de nós”, concluiu.
Frans Timmermans abriu a conferência de alto nível “Alterações Climáticas – Novos Modelos Económicos”, juntamente com o primeiro-ministro, António Costa. Este evento internacional, que conta com a participação de 17 especialistas e autores e é organizado pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE, visa debater a contribuição de novos modelos económicos, incluindo a economia circular e a bioeconomia sustentável, no combate às alterações climáticas e, simultaneamente, na promoção de uma recuperação económica e social, justa e equitativa, dentro dos limites do sistema natural.
Os responsáveis pela pasta do Ambiente dos países que compõem o trio de presidências, nomeadamente a ministra do Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha, Svenja Schulze, o ministro do Ambiente e Planeamento Espacial da Eslovénia, Andrej Vizjak, e o ministro do Ambiente e da Ação Climática de Portugal, João Pedro Matos Fernandes, encerram a conferência. No final, o ministro João Pedro Matos Fernandes dará uma conferência de imprensa.