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O acesso a cuidados intensivos está normalizado — este indicador mostra como a pressão diminuiu

Este artigo tem mais de 3 anos

Foi um dos indicadores usados para tomar a decisão de transferir doentes entre hospitais durante o pico da terceira vaga. Agora, está em valores confortáveis, a níveis de abril.

Uma enfermeira transporta material de apoio num dos corredores da Unidade de Cuidados Intensivos Covid 19 do Hospital Santa Maria em Lisboa, 27 de outubro de 2020. A urgência dedicada aos casos suspeitos de covid-19 do Hospital Santa Maria, em Lisboa, reflete a evolução da pandemia em Portugal com doentes a avolumarem-se à porta para realizar o teste e no interior a capacidade quase esgotada. O medo de perder o emprego leva muitos doentes com covid-19 a esconderem que estão infetados e a continuar a trabalhar, disseminando a doença que, nesta fase, começa a ser um caso também social e que leva a muitos internamentos no Santa Maria. (ACOMPANHA TEXTO DA LUSA DE 30 DE OUTUBRO DE 2020) TIAGO PETINGA/LUSA
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O pico da pandemia traduziu-se em perto de 7 mil internados e mais de 900 doentes em cuidados intensivos

TIAGO PETINGA/LUSA

O pico da pandemia traduziu-se em perto de 7 mil internados e mais de 900 doentes em cuidados intensivos

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A terceira vaga da pandemia e a respetiva pressão que foi exercida sobre o SNS em janeiro, deixando vários hospitais encostados às cordas, é uma história que se conta a diferentes velocidades. Se é certo que o número de doentes em cuidados intensivos com Covid-19 teve uma forte subida, ficou, no entanto, aquém da escalada de todos os internamentos hospitalares causados pelo coronavírus. A relação entre os dois números é sintetizada por um indicador que mostra como a capacidade dos cuidados intensivos foi levada ao limite nesse período — e como agora já não é tão difícil aceder a essas unidades, ajudando a aliviar a pressão sobre o SNS.

O número de camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos (UCI) representava 17,2% de todos os internamentos a 1 de janeiro — depois de chegar a superar os 18% na quadra natalícia. Mas, um mês depois, estava já nos 12,6% — após atingir 11,8% na “fotografia” tirada a 26 de janeiro (um mínimo em vários meses).

“Nessa altura, nós tivemos esse rácio extremamente baixo porque havia muitos doentes internados e, embora muitos, proporcionalmente menos em [cuidados] intensivos”, indica João Gouveia, coordenador da comissão de acompanhamento da resposta nacional em medicina intensiva para a Covid-19, em declarações ao Observador.

Os internamentos em cuidados intensivos tiveram uma subida de 79% (382) entre 1 de janeiro e 1 de fevereiro (ou de 87,5% se esticarmos até 5 de fevereiro, quando foi registado o máximo de 904 doentes nestas unidades). Mas se juntarmos a estes doentes os internamentos em enfermaria, a escalada é muito maior — no espaço de um mês, houve mais 4.063 internados com Covid-19 em todas as unidades, um crescimento de 141,9%, até atingir o máximo de 1 de fevereiro (6.869 doentes).

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Cuidados intensivos tiveram “uma espécie de teto”

Este é um indicador que permitirá conclusões diferentes em diferentes momentos da pandemia, mas, no pico da crise, significa que “houve uma altura em que a resposta [em cuidados intensivos] teve uma espécie de teto”, explica João Gouveia. Ou seja, está em causa uma maior dificuldade no acesso às unidades de cuidados intensivos por parte de doentes graves: “Se houvesse vaga, provavelmente estariam em [cuidados] intensivos”, reconhece o especialista.

“Tivemos uma procura muito grande de [doentes] Covid em termos hospitalares, inclusive de medicina intensiva, e conseguimos expandir um bom bocado, mas não o suficiente para acomodar todos os doentes que precisávamos na altura. E isso fez com que estivéssemos a trabalhar com taxas de ocupação muito elevadas”, afirma o ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.

Esta incapacidade de ter mais doentes em cuidados intensivos chegou mesmo a ser reconhecida pela ministra da Saúde, pouco depois de se terem atingidos os valores máximos da pandemia. “Nós não conseguimos aumentar mais a nossa capacidade de cuidados intensivos, isso está à vista”, disse Marta Temido, em entrevista à Visão.

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A pressão na terceira vaga foi particularmente elevada na região de Lisboa e Vale do Tejo. José Artur Paiva, também membro da comissão que monitoriza a resposta do país em termos de medicina intensiva para a Covid-19, lembra que a taxa de esforço nessa região “era diferente claramente do Norte”.

“Em Lisboa e Vale do Tejo, a acessibilidade [aos cuidados intensivos] estava complicada — não estou a dizer que um doente não entrava, mas estava a demorar a entrar”, afirma o médico que dirige o serviço de medicina intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de São João, no Porto.

Face aos constrangimentos de acesso aos cuidados intensivos no período mais crítico da pandemia, criaram-se, por isso, “alternativas válidas, em que eram dados os cuidados que os doentes necessitavam”, mas fora dos cuidados intensivos, esclarece José Artur Paiva. “Quando a oferta é mais escassa criam-se alternativas”.

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Por um lado, foram dadas “respostas ao nível de enfermaria, [de cuidado] intermédio”, para doentes que, apesar de terem gravidade, “não precisam de ventilação invasiva, mas de outras formas de reforços respiratórios”. Em todo o caso, “se a oferta fosse larga, podiam estar em [unidades de cuidados] intensivos”, nota José Artur Paiva.

Além disso, foram transferidos doentes para regiões em que os hospitais não tinham tanta pressão, depois de a comissão de acompanhamento da pandemia ter analisado um conjunto de indicadores, nos quais se inclui a tal proporção de doentes críticos em unidades de cuidados intensivos face ao total de camas disponíveis (em cada hospital), bem como a taxa de doentes ventilados face ao total de doentes em cuidados intensivos.

“Daí decorreu a decisão de transferência inter-regional. O indicador é útil para mudar o curso das coisas”, diz o médico do Hospital de S. João. “Fez-se um ajustamento no sentido de a procura ser reduzida nas áreas em que este esforço estava a ser maior”.

Cuidados intensivos são 22,6% de todos os internamentos — não acontecia desde 7 de abril

Como resposta à terceira vaga, o confinamento em duas fases (primeiro o fecho de quase todas as atividades a 16 de janeiro e depois as escolas a serem encerradas a 22 de janeiro), permitiu que a pressão sobre o SNS começasse a aliviar a partir do início de fevereiro. Desde que foi atingido um valor máximo nos internamentos, no primeiro dia do mês, houve uma queda de 68,3% até este sábado. E nos cuidados intensivos, a redução é de 43,1% no mesmo período (ou de 45,8% se a comparação for feita com o dia 5 de fevereiro, em que estas unidades atingiram um valor máximo).

O que é que isso representa para a relação entre ambos? O indicador subiu progressivamente até que as camas ocupadas em cuidados intensivos atingiram os 22,6% de todos os internamentos este sábado, valor que não era observado desde 7 de abril, durante o primeiro confinamento.

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“A partir do momento em que começa a haver altas nas enfermarias, e em que há também um melhor quadro nos cuidados intensivos, os internamentos são mais prolongados e conseguimos transferir doentes das enfermarias para os [cuidados] intensivos, porque deviam estar nos intensivos”, explica João Gouveia.

Esta normalização no acesso à medicina intensiva “bate certo com as taxas de ocupação [hospitalares] e com as taxas de ventilação”. E apesar de a medicina intensiva estar ainda a ocupar muitos espaços que não lhe pertencem — blocos operatórios, recobro ou enfermaria —, em conjunto, estes indicadores significam, “neste momento, menos pressão sobre o SNS“.

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