O caso rebentou em fevereiro do ano passado. A cúpula do Barcelona, encabeçada pelo então presidente Josep Maria Bartomeu, teria contratado várias empresas que estavam a criar contas fantasma nas redes sociais com o objetivo de denegrir a imagem dos principais jogadores da equipa de futebol, como Messi e Piqué, e das respetivas famílias. O escândalo ficou conhecido como o Barçagate e todos os dirigentes catalães envolvidos negaram qualquer envolvimento. Agora, mais de um ano depois, chegaram as consequências: Bartomeu, antigo presidente, Óscar Grau, atual CEO, Román Gómez Ponti, diretor do departamento jurídico do clube, e ainda Jaume Masferrer, ex-assessor e braço direito do presidente, foram todos detidos esta segunda-feira por alegado envolvimento nesta campanha de desprestígio de pessoas vinculadas à instituição.
Barcelona pagou a empresa que gere “contas-fantasma” nas redes sociais que fez críticas a jogadores
Logo ao início da manhã desta segunda-feira, a imprensa espanhola começou a dar conta de que os Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, estavam a realizar buscas nos escritórios de Camp Nou. A operação, que já tinha acontecido no passado mês de junho, tinha como objetivo a recolha de provas e documentação sobre o chamado Barçagate e acabou por culminar nas primeiras quatro detenções — sendo que, segundo o jornal Marca, não está descartada a possibilidade de serem detidas mais pessoas. Ao final da tarde, depois de perto de um dia inteiro na esquadra de Les Corts, Bartomeu, Gómez Ponti e Masferrer optaram por não prestar declarações, aconselhados pelos advogados.
Em comunicado, o Barcelona já confirmou as buscas nos escritórios do estádio e garantiu acreditar na “presunção da inocência” dos quatro detidos. “Tendo em conta a entrada e as buscas da polícia catalã durante esta manhã nos escritórios de Camp Nou, por ordem do Tribunal de Instrução N.º 13 de Barcelona, que está encarregado do caso relativo ao vínculo com serviços de monitorização nas redes sociais, o Barcelona ofereceu a sua total colaboração às autoridades legais e à polícia para ajudar a aclarar os factos que estão sob investigação. A informação e documentação requisitada pela polícia restringe-se estritamente aos factos relativos a este caso. O Barcelona expressa o maior respeito pelo processo judicial em curso e pelo princípio da presunção da inocência das pessoas afetadas pela investigação”, pode ler-se na nota divulgada ao início da tarde desta segunda-feira.
Presidente do Barcelona apresentou a demissão. Bartomeu era alvo de uma moção de censura
Ora, voltando cerca de um ano atrás, o Barcelona terá então contratado várias empresas para desprestigiar alguns elementos do plantel que estavam contra a direção: o plano, entretanto descoberto, partia de contas fantasma criadas nas redes sociais que alimentavam insultos a jogadores-chave como Messi e Piqué, a antigas figuras de relevo como Guardiola, Puyol e Xavi e a ex-líderes (e agora candidatos) como Joan Laporta e Victor Font, assim como denegriam as respetivas famílias. Na altura, Josep Maria Bartomeu negou todas as acusações mas o rebentar do escândalo originou despedimentos e demissões na cúpula blaugrana. Em junho, o caso chegou aos tribunais através de uma denúncia da plataforma “Dignitat Blaugrana”, por administração desleal e corrupção entre particulares por parte de alguns dirigentes, e a investigação arrancou então com as primeiras buscas aos escritórios do clube. Agora, oito meses depois, surgiram as primeiras detenções.
De recordar que a imagem de Bartomeu ficou irremediavelmente afetada depois deste escândalo, apesar de o ex-presidente ter negado todas as acusações, e foi a primeira causa da queda anunciada que se efetivou em outubro: a quase saída de Messi durante o verão, a contratação falhada de Quique Setién e respetivos fracos resultados desportivos e a moção de censura com que foi ameaçado enquanto ainda estava no poder acabaram por culminar na demissão de Bartomeu, que tinha sido eleito em 2015. De lá para cá, o clube tem sido liderado por uma Junta de Gestão, de forma interina, da qual faz parte o CEO Òscar Grau que também foi detido esta segunda-feira. As eleições para os órgãos sociais do Barcelona estão agendadas para o próximo dia 7 de março e existem três candidatos — Joan Laporta, Toni Freixa e Victor Font.
(artigo atualizado às 18h52 com a informação de que três dos quatro detidos optaram por não prestar declarações)