Casos de uma direção de um clube contra os seus jogadores e vice-versa não são propriamente virgens no futebol. Porém, se não é inédito uma direção pagar a empresas que se dedicam a pôr em causa as estrelas da equipa na internet, não haverá muitos casos públicos como o que esta segunda-feira foi revelado pela estação espanhola Cadena Ser, que envolve o FC Barcelona.

Segundo a estação espanhola, o clube culé tem “uma empresa contratada”, a I3Ventures.sl, que se dedica a “criar estados de opinião nas redes sociais”, ou seja, criar correntes de opinião em determinado sentido. Parte desses estados de opinião consiste mesmo em difundir uma imagem negativa dos próprios jogadores da equipa de futebol sénior do clube catalão.

Parece estranho, mas explica-se facilmente: as contas nas redes sociais criadas e geridas pela empresa I3Ventures.sl, que são consideradas “não oficiais” pelo Barcelona mas que são financiadas pelo clube blaugrana, especializaram-se em “proteger a imagem” do presidente do clube, Josep Maria Bartomeu, e da sua direção. Tal implica, muitas vezes, escolher outros alvos para as críticas — pelo menos assim o entende a I3Ventures.sl, que tem “perfis” que fazem várias críticas a figuras como Leo Messi e Gerard Piqué, duas estrelas do atual plantel do Barcelona, e ainda a ex-elementos como os antigos jogadores Xavi e Puyol e o antigo treinador Pep Guardiola.

Nem todas as figuras públicas que foram alvos de críticas em “perfis fantasma” criados por esta empresa financiada pelo Barcelona são ex-atletas e ex-treinadores do clube, contudo. Também há textos com críticas a Victor Font, candidato anunciado às próximas eleições no clube, e ao antigo presidente Joan Laporta.

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@ Claudio Chaves/Eurasia Sport Images/Getty Images

Ao todo, o Barcelona gastou “um pouco menos de um milhão de euros” com os serviços de esta empresa de influência nas redes sociais, aponta a Cadena SER. A estação diz que os pagamentos foram divididos em seis tranches, “para que fossem pagos por diferentes departamentos” do clube. Dentro do Barcelona, acrescentam ainda, “admitem a contratação destes serviços mas não se assumem como responsáveis pelas publicações, assegurando que pediam que fossem publicadas mensagens em tom positivo”. Há ainda fontes do clube culé que asseguram “que não gostam” do sentido de várias publicações, segunda a estação.

A equipa de futebol sénior masculino do clube catalão já mudou de treinador esta temporada, de Ernesto Valverde para Quique Setién. Neste momento, o Barcelona ocupa o segundo lugar da tabela classificativa do campeonato espanhol, com menos um ponto do que o rival Real Madrid. Na Liga dos Campeões, a equipa apurou-se para os oitavos de final em primeiro lugar do grupo F, onde competiam também Borussia Dortmund (apurado em segundo lugar), Inter de Milão e Slavia de Praga.

Apesar dos resultados parecerem teoricamente positivos, ou pelo menos não catastróficos, a equipa foi eliminada dos quartos-de-final da Taça do Rei pelo Atletico de Bilbau, foi eliminada da Supertaça de Espanha nas meias-finais, pelo Atlético de Madrid, e no campeonato está atrás de um Real Madrid debilitado. Além disso, as exibições não têm convencido os adeptos e as convulsões internas já deram origem a um bate-boca público entre o diretor de futebol catalão, Eric Abidal, e o argentino Leo Messi, que discordaram quanto ao compromisso que os jogadores revelaram ou não com o clube quando este era orientado pelo antigo treinador, Ernesto Valverde.

Estalou a guerra civil no Barcelona: Abidal critica o plantel, Messi puxa dos galões de líder e defende os jogadores