A frase mais simples para descrever o início de semana do Barcelona foi encontrada pelo jornal AS: “O Barçagate passará a ser o Bartogate“. Josep Maria Bartomeu, antigo presidente do clube catalão, e Jaume Masferrer, antigo chefe de gabinete e braço direito do anterior, foram libertados esta terça-feira em liberdade condicional depois de terem decidido não prestar declarações. Ambos tinham passado a noite detidos, depois de terem sido levados pela polícia catalã para a esquadra de Les Corts, sendo que o diretor executivo Òscar Grau e o diretor do departamento jurídico Román Gómez Ponti foram libertados ainda esta segunda-feira.
De acordo com a imprensa espanhola, o Tribunal de Instrução 13 de Barcelona decidiu levantar o segredo do processo e ilibar o clube da acusação, tornando o caso uma investigação de particulares — com Bartomeu e Masferrer à cabeça. No ofício de levantamento do segredo, o Barcelona surge então como “pessoa jurídica prejudicada”, não “investigada”: os investigados, este momento, continuam a ser o ex-presidente e o ex-chefe de gabinete, sobre os quais recaem acusações de administração desleal e corrupção entre particulares. A defesa de ambos irá agora ter acesso à documentação do processo e só depois disso é que Bartomeu e Masferrer devem prestar declarações.
A juíza Alejandra Gil, a responsável pelo caso, recusou ainda que a plataforma “Dignitat Blaugrana” — que fez as primeiras denúncias sobre o Barçagate em 2020 — continue a exercer o papel de acusação particular, abrindo a porta a que o movimento se constitua como acusação popular sob o pagamento de uma fiança. O Barcelona reagiu às quatro detenções ainda durante o dia desta segunda-feira, garantindo acreditar na “presunção da inocência” dos envolvidos. “Tendo em conta a entrada e as buscas da polícia catalã durante esta manhã nos escritórios de Camp Nou, por ordem do Tribunal de Instrução N.º 13 de Barcelona, que está encarregado do caso relativo ao vínculo com serviços de monitorização nas redes sociais, o Barcelona ofereceu a sua total colaboração às autoridades legais e à polícia para ajudar a aclarar os factos que estão sob investigação. A informação e documentação requisitadas pela polícia restringem-se estritamente aos factos relativos a este caso. O Barcelona expressa o maior respeito pelo processo judicial em curso e pelo princípio da presunção da inocência das pessoas afetadas pela investigação”, podia ler-se no comunicado oficial divulgado pelo clube.
De recordar que, enquanto ainda era vice-presidente de Sandro Rosell (também já o tinha sido de Joan Laporta), Josep Maria Bartomeu foi incluído no lote de pessoas acusadas pelo Ministério Público espanhol de fraude fiscal e branqueamento de capitais na transferência de Neymar do Santos para o Barcelona. Defendeu sempre que nada tinha que ver com os eventuais valores inflacionados e em 2016, já como presidente dos catalães, propôs às autoridades um pacto que o ilibava a ele e a Rosell, imputando a culpa ao Barcelona enquanto clube por dois delitos fiscais e o pagamento de 5,5 milhões de euros e demais custos judiciais. Agora, cinco anos depois, a história inverteu-se: o Barcelona foi ilibado e é Bartomeu quem está sob fogo.
Explodiu o “Barçagate”: ex-presidente Bartomeu e CEO do clube detidos depois de buscas em Camp Nou