Não será no papamobile, por trás de vidros blindados, que o Papa Francisco fará as suas aparições no Iraque. Quando chegar ao país, onde aterra na próxima sexta-feira, 5 de março, o líder religioso da Igreja Católica irá viajar em carros cobertos. O motivo desta mudança de planos é evidente: a pandemia não dá tréguas e esta será uma forma de evitar aglomerados de pessoas, numa altura em que juntar multidões vai contra todas as regras de combate à Covid-19

Esta terça-feira, o Vaticano defendeu a decisão de manter a ida do Papa ao Iraque: é um “ato de amor por esta terra, o seu povo, os seus cristãos”, argumentou o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni.

Presidente do Iraque considera que visita do papa ao Iraque é mensagem de “paz e tolerância”

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As críticas à viagem de Francisco — a primeira deslocação ao estrangeiro desde o início da pandemia — prendem-se com facto de os contágios estarem, de novo, a aumentar naquele país do Médio Oriente. A resposta de Bruni passou por minimizar os factos: cerca de 4.ooo contágios diários numa população de 40 milhões é um valor baixo. Por outro lado, garantiu, todos os eventos seguirão as regras de contenção da pandemia: participação limitada, distanciamento social, e uso obrigatório de máscara.

“Toda uma comunidade e um país inteiro poderão acompanhar a visita através dos media e saber que o Papa está ao seu lado, trazendo a mensagem de que é possível ter esperança mesmo nas situações mais complicadas”, disse o porta-voz do Vaticano.

A situação complicada de que Bruni fala é outra que para muitos críticos devia servir de travão à viagem que é já apontada como uma das mais arriscadas de sempre para um líder da Igreja Católica.

Num país dividido pela guerra civil, a insegurança nas ruas está em crescendo e esta segunda-feira várias centenas de manifestantes reuniram-se nas cidades de Nassíria, Bassora, Diwaniya e Amara. Na sexta-feira anterior, vários manifestantes foram mortos em confrontos com as autoridades na cidade iraquiana de Nassíria, onde há vários dias se regista uma onda de protestos contra o governo.

A Intifada Iraquiana começou em 2019 com o objetivo de protestar contra a corrupção e o desemprego no país, fazendo mais de 600 mortos e de 30 mil feridos no país. Durante 2020, as manifestações quase desapareceram, mas a poucos dias da visita do Papa foram retomadas em Nassíria.

Mas esse cenário não demove Francisco. O objetivo da visita, explicou o porta-voz do Vaaticano, é encorajar a comunidade cristã no Iraque, cada vez menor, e promover um maior diálogo com a maioria xiita do país muçulmano. “Talvez a melhor forma de interpretar esta viagem seja como um ato de amor por esta terra, o seu povo, os seus cristãos”, disse Bruni, considerando que “cada ato de amor pode ser interpretado como extremo, mas como uma confirmação extrema de ser amado e confirmado nesse amor”.