Maria José Valério, a cantora e histórica adepta do Sporting, morreu vítima de Covid-19, afirma o Mais Futebol citando fonte na Casa do Artista. A intérprete que deu voz à “Marcha do Sporting” tinha 87 anos e estava internada no Hospital Santa Maria desde o dia 20 de fevereiro e é mais uma vítima mortal do surto que afetou a Casa do Artista, em Lisboa. 

Maria José Valério Dourado nasceu a 3 de maio de 1933, na Amadora, e era uma das adeptas mais conhecidas do Sporting Clube de Portugal. A madeixa verde que sempre tinha no cabelo era já uma imagem de marca. Apesar de nos tempos do Liceu D. João de Castro sonhar em tirar o curso de Direito, Maria José acabou por se deixar levar pela sua grande paixão, a música. Com a ajuda do tio, o maestro Frederico Valério — uma referência da música na altura — conseguiu passar numa audição na Emissora Nacional que lhe deu acesso Centro de Preparação de Artistas da Rádio.

Esse foi o ponto de partida de uma carreira que logo nos anos 50 viveu um período de grande sucesso, participando em vários espetáculos de variedades da mesma Emissora Nacional mas também nas emissões experimentais da RTP, feitas na Feira Popular, em Lisboa. Foi nesta altura que numa festa de aniversário do “seu” Sporting, que aconteceu no Cinema Tivoli, que estreou  a célebre “Marcha do Sporting”, canção que desde então nunca mais a descolou do universo verde e branco. Essa canção viria a ser editada em disco no ano de 1953. Curiosamente, a música “Ser Benfiquista”, o hino oficial do Sport Lisboa e Benfica, foi editada no mesmo ano e, inclusive, diz-se que terá sido gravada no mesmo sítio que a “Marcha do Sporting”. A gravação original do hino sportinguista conta com a Orquestra Ligeira da Emissora Nacional, dirigida pelo maestro João Nobre.

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De entre a sua vasta lista de sucessos destacam-se as canções como “O Polícia Sinaleiro” ou a “Menida dos Telefones”, canção composta pela dupla Manuel Paião e Eduardo Damas. Entre os seus êxitos musicais destacam-se ainda as canções “Cantarinhas”, “Fado da Solidão” e “As Carvoeiras”.

Em 1958, Maria José Valério faz presença no 1º Festival da Canção Portuguesa da Emissora Nacional com a composição “A Folha da Hera”, da autoria de José Galhardo e Frederico Valério.

Em 1962, dois anos depois de ter sido declarada Rainha da Rádio de Goa, casou com o matador José Trincheira, evento mediático que até mereceu transmissão em direto pela RTP. O casamento foi celebrado pelo então cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Cerejeira, na igreja do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, e diz-se que o próprio Papa da altura, João XXIII, mandou tocar o sinos em Roma em sinal de bênção. A artista viria mesmo a gravar um o ‘pasodoble’  chamado “Trincheira”, em homenagem ao marido. Ainda assim o casal acabou por se separar.

A artista foi uma das cinco pessoas hospitalizadas na sequência do surto de novo coronavírus que afetou a Casa do Artista. No total, 33 pessoas acusaram positivo para infeção com Covid-19. Entre os residentes do espaço havia “18 casos activos, 13 dos quais estão na instituição, devidamente separados dos negativos, e cinco estão internados”, informava a Lusa no dia 19 de Fevereiro. A Casa do Artista tem cerca de 70 residentes e 30 funcionários. Há a lamentar, até agora três mortes na sequência deste surto (não contando com a de Maria José Valério): as atrizes Adelaide João e Cecília de Guimarães e a cantora Maria Andrea Gaspar. Contactada pelo Observador, a Casa do Artista preferiu ainda não se pronunciar sobre o assunto.

O Sporting, entretanto, já fez sentir o seu pesar pela morte da cantora através de uma publicação na sua conta de Twitter.

Ainda no universo sportinguista, o antigo jogador e treinador do clube de Alvalade, Ricardo Sá Pinto, também já lamentou o desaparecimento da artista.

A também apresentadora e conhecida sportinguista Rita Ferro Rodrigues também já veio a público dizer que Maria José Valério será sempre recordada pelos adeptos: “Um exemplo de desportivismo e fair play. Tinha amigos em todos os clubes, amava loucamente o seu Sporting e sabia que seria eterna no seu clube onde será para sempre a voz da festa e da alegria nas bancadas.”

O apresentador Manuel Luís Goucha, que iniciou o seu percurso na RTP, também já recordou a cantora: “Não havia vez que não fosse cantar à televisão que não levasse flores para maquilhadoras, produtoras e senhoras da plateia. Não havia aniversário que lhe escapasse, por isso o telefone tocava sempre para lhe ouvirmos os parabéns, até com a minha mãe o fazia, a sua Lurdinhas como gostava de a chamar. Rapaziada, ouçam bem o que vos digo e gritem todos comigo: Viva a Zé Valério!

Cerimónias fúnebres realizam-se no sábado em Cascais

As cerimónias fúnebres da cançonetista Maria José Valério realizam-se no sábado, em Cascais, disse à agência Lusa fonte da Casa do Artista.

A cerimónia de cremação de Maria José Valério realiza-se no sábado, dia 6, às 18h00, no Centro Funerário de Cascais, distrito de Lisboa.

Reações do Governo

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, manifestou o seu pesar pela morte da artista, que recordou como “notável intérprete” e “a voz do Sporting Clube de Portugal”.

“Foi com tristeza que recebi a notícia do falecimento de Maria José Valério, aos 87 anos, vítima de Covid-19. Calou-se uma voz que me acompanhava desde muito novo”, destacou o presidente do parlamento, numa mensagem de pesar. Eduardo Ferro Rodrigues dirigiu, em seu nome e da Assembleia da República, “sentido pesar” à família e amigos da cantora, recordando a sua carreira.

“Notável intérprete com longa carreira como cantora, Maria José Valério era a voz do Sporting Clube de Portugal, cuja ‘Marcha do Sporting’ tornou inesquecível”, assinalou.

Já ministra da Cultura, Graça Fonseca recorda a cantora como uma “figura inesquecível da canção portuguesa”.

“Entre as várias vozes que animaram a canção portuguesa, Maria José Valério manteve sempre um lugar de especial afeição junto dos públicos, sendo os temas por si popularizados cantados e recordados entre várias gerações”, lê-se na nota de pesar.

Graça Fonseca recorda que, “da rádio ao teatro de revista, a intérprete faz parte de uma galeria de artistas que contribuíram para o imaginário popular português, sendo a sua persistência na prática profissional um exemplo de dedicação ao público que sempre admirou a sua irreverência e a alegria contagiante, que passava nas suas interpretações”.

Presidente da República destaca a sua “paixão clubística” e “estilo emotivo”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou igualmente a morte de Maria José Valério, e destacou-a como “exemplo da sua paixão clubística e do seu estilo emotivo”.

“Apresento as minhas condolências à família de Maria José Valério, com quem tive o gosto de conversar muitas vezes”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem de pesar publicada no portal da Presidência da República na Internet.