O timing ainda não o é de avançar com candidaturas confirmadas, mas o PS começa a mexer-se para definir as suas apostas para as autárquicas e a colocar na equação (e nas sondagens internas) nomes com dimensão nacional, como Ana Catarina Mendes e José Luís Carneiro, dois conhecedores do aparelho do partido. Com diferenças: a líder parlamentar dos socialistas é desejada e até lançada pelo PS de Setúbal, mas falta confirmar a sua vontade (e a da direção); e o secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, terá mostrado disponibilidade para avançar no Porto, mas está longe de reunir consenso junto das bases, uma vez que boa parte prefere uma recandidatura de Manuel Pizarro.

O caso de Setúbal é, neste cenário, mais relevante, uma vez que é uma das capitais de distrito em que o PS vislumbra uma oportunidade para precipitar uma mudança de ciclo e conquistar a ‘jóia da coroa’ do distrito. Os socialistas estão, por isso, a apostar forte em Setúbal.

A nível local, o desejo é que essa vontade se concretize num convite a um nome com dimensão nacional. Mais concretamente, o de Ana Catarina Mendes, assume o líder da concelhia, Paulo Lopes, ao Observador: “É a estrela mais brilhante, um nome extraordinário, dos maiores que temos na região”, elogia.

O dirigente local lembra, aliás, os “resultados estrondosos” que Ana Catarina Mendes conseguiu, como cabeça de lista por Setúbal, nas duas últimas eleições legislativas, em 2015 e 2019 (34% e 7 deputados eleitos no primeiro caso, 38,6% e 9 deputados no segundo). “Qual seria a concelhia deste país que não gostaria de a ter enquanto candidata?”, reforça.

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O tudo por tudo em Setúbal

A vontade que o PS tem de dar tudo em Setúbal é clara: ao Observador, são várias as fontes locais e nacionais que descrevem a corrida como uma das chaves destas eleições em que os socialistas estão, genericamente, a tentar segurar os bons resultados de 2017. O caso de Setúbal (“vamos fazer tudo por tudo”, “é um dos grandes battlegrounds destas eleições”, ouviu o Observador) é diferente: com a atual presidente, Maria das Dores Meira (PCP), de saída por causa da lei de limitação de mandatos – está a completar o terceiro -, esta é vista como a grande oportunidade para “mudar de ciclo”.

Até porque Meira poderá estar a caminho de Almada – pelo menos é essa a vontade da própria, que no ano passado dizia, em entrevista ao jornal “O Setubalense”, ter “disponibilidade” e ver nisso “uma forte possibilidade”, caso o partido quisesse. Nesse cenário, seria a aposta comunista para tentar reconquistar um dos bastiões do PCP, que em 2017 viu Almada ser “roubada” de surpresa, por uns magros 313 votos, pela socialista Inês de Medeiros.

Aliás, a viragem de várias câmaras no distrito do PCP para o PS alimentam, precisamente, a esperança do lado dos socialistas de que esta seja uma eleição de consolidação um pouco por todo o distrito de Setúbal (em 2017, o PS ‘roubou’ também o Barreiro e Alcochete e o PCP perdeu a maioria absoluta no Seixal e em Palmela).

A dúvida é se Ana Catarina Mendes estará com vontade de assumir o desafio em Setúbal, numa altura em que lidera a bancada parlamentar, o que gera dúvidas junto de várias fontes socialistas. Caso não queira, ou a direção do partido não queira arriscar perder esta peça no Parlamento, há vários nomes que são mencionados pelos socialistas: desde logo, o de António Mendonça Mendes, líder da federação de Setúbal, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (e irmão de Ana Catarina Mendes); mas também nomes locais, como o do próprio Paulo Lopes, que é também vereador do PS em Setúbal, e o do deputado Fernando José.

Pizarro, Carneiro e o fantasma de Moreira

No Porto, o cenário é diferente, pelo menos no que toca à gestão de expectativas: no PS, a perceção de que a corrida será para perder e que o ciclo Rui Moreira só terminará mais para a frente, possivelmente em 2025, é geral. Por isso, a corrida não assume a mesma importância. Ainda assim, há vários nomes a correr dentro do partido, dois deles com hipóteses aparentemente mais fortes: o repetente e eurodeputado, Manuel Pizarro, e o secretário-geral adjunto José Luís Carneiro – ainda que o deputado e líder da concelhia portuense Tiago Barbosa Ribeiro e a deputada Rosário Gamboa também sejam mencionados.

Carneiro – que foi, aliás, o sucessor de Ana Catarina neste cargo, como nº2 de António Costa no partido e homem do ‘aparelho’ – mostrou-se disponível junto de Costa para assumir o desafio no Porto, como noticiou o Expresso. Mas junto das bases o nome não gera entusiasmo, e são várias as fontes socialistas no Porto que garantem ao Observador que essa opção abriria um confronto indesejado entre as estruturas locais e a direção nacional, acreditando que a opção mais forte – também testada em sondagens internas – será mesmo uma recandidatura de Manuel Pizarro.

Há outro ponto com potencial para gerar conflitos: os rumores que continuam a correr de que o PS poderá ter a tentação de conversar com Rui Moreira. Localmente, a hipótese é rejeitada – está, aliás, ainda fresca a memória da rutura de Moreira com o PS em 2017, que obrigou Pizarro a avançar como candidato e a acusar o independente embarcar numa “cruzada anti-partidos” – mas fica em aberto a ideia de poder haver conversações futuras, caso Moreira perca a maioria na Câmara. A vitória do independente, essa, é dada por certa, mesmo na cabeça dos socialistas. A outra certeza é que falta conhecer a vontade de António Costa, que recentemente já se reuniu com os presidentes das federações socialistas.