Massimiliano Allegri saiu da Juventus em 2019 após cinco anos no comando técnico. Ganhou cinco Campeonatos, quatro Taças, duas Supertaças. Foi a duas finais europeias, ficou uma vez nos oitavos, perdeu por duas ocasiões nos quartos, a última com o Ajax em Turim. Apesar de todo este currículo, saiu. Veio Maurizio Sarri, uma aposta de risco que tinha apenas na carreira uma Liga Europa pelo Chelsea, os bianconeri carimbaram o nono título na Serie A mas caíram nos oitavos da Champions com o Lyon. Caiu a Juventus, caiu Sarri. Chegou Andrea Pirlo, uma aposta ainda mais de risco que nunca tinha orientado uma equipa, que assinou pelos Sub-23 este verão e que nove dias depois foi repescado para o conjunto principal. Tem o scudetto em risco, foi afastado da Champions. “Vou trabalhar de acordo com o projeto inicial, a longo prazo. Este é o início de um novo projeto e estou tranquilo”, disse.

Pepe, o líder que dá a cara na verdadeira equipa portuguesa na Europa (a crónica do Juventus-FC Porto)

O jogo da Juventus voltou a ser um paradoxo, a época da Juventus tem sido um paradoxo, a reação de Andrea Pirlo tornou-se um paradoxo ainda maior tendo em conta o objetivo declarado e assumido de voltar a ganhar a Liga dos Campeões que tem pouco ou nada a ver com um projeto que está a começar numa ótica de longo prazo. E esse é também o grande paradoxo em torno de Ronaldo, a grande aposta da administração liderada por Andrea Agnelli para voltar a ser campeão europeu a curto prazo. Agora, e na sequência de uma exibição marcada pela imagem do virar de costas na barreira no livre que originou o segundo golo do FC Porto, o futuro do português em Itália está mais do que nunca em aberto. E as declarações de Fabio Paratici adensaram ainda mais a incógnita.

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“O Cristiano tem a sua carreira na mão. Com estes grandes jogadores, sabemos que quando eles decidem sair de uma equipa, ter outra experiência, são eles que decidem e temos de respeitar essa decisão. Estamos aqui para cumprir o contrato e ver como ele estará no próximo ano e como se sentirá, para continuar ou não”, assumiu o diretor desportivo da Vecchia Signora à Eleven Sports. Pela primeira vez desde que chegou a Itália, o capitão da Seleção ouviu por parte de um responsável do clube uma ideia de futuro em aberto. E se alguns começavam a dar a possibilidade de haver uma renovação de contrato por mais um ano baixando o atual salário, a realidade agora aponta para um cenário diferente quando Ronaldo está apenas a um ano de acabar a ligação com os italianos.

Antes da eliminatória com o FC Porto, os objetivos do avançado eram claros. “Nos últimos anos fomos para casa antes do que queríamos mas continuamos a apontar cada vez mais alto a cada temporada e este novo anos não será exceção. Vai ser uma eliminatória contra uma equipa muito forte mas espero que seja também o começo de um longo caminho até à final”, referiu. Três semanas depois, está fora da Champions. Se Ronaldo é tantas vezes falado pelos recordes que bate, desta vez também atingiu um registo negativo – pela primeira vez nos últimos 15 anos, não marcou nas eliminatórias da Liga dos Campeões. As críticas foram muitas, logo a começar pelo antigo técnico da Juventus e selecionador Fabio Capello, que visou em particular o português e o livre de Sérgio Oliveira.

“O primeiro golo no primeiro jogo foi uma oferta, agora também há um grande descuido no segundo. Alguns golos não podem ser sofridos. O penálti é outra oferta. Demiral é ingénuo, cometeu um erro gravíssimo. Mas o segundo golo é ainda mais grave: Cristiano Ronaldo a saltar e a virar-se na barreira. Quem está na barreira não pode ter medo de ser atingido. É um erro imperdoável, que não tem desculpas”, apontou na Sky Sports Itália, criticando ainda o facto de não haver elementos mais experientes na zona de entrevistas rápidas por onde passaram Chiesa e De Ligt. “Vimos os mais jovens a entrarem em cena e a darem a cara nos momentos difíceis. Há alguns veteranos que aparecem quando ganham para levar o crédito mas não quando perdem”, acusou Capello.

“Temos de admitir que foi um jogo moderado por parte de Cristiano Ronaldo. Ele tem a sua responsabilidade, é claro que tem. É o líder desta equipa mas não é o único culpado. A Juventus jogou mais de uma hora em superioridade numérica. Tem de haver uma mudança. Não nos cabe a nós dizer o que é preciso mudar mas fica claro que a Juventus tem de encarar isto, olhar para as coisas positivas e concentrar-se na Serie A. Tem de haver uma reação e um momento de mudança”, acrescentou o ex-avançado e capitão da Juventus, Alessandro Del Piero.

O universo Juventus está ainda em choque com mais uma deceção europeia e existem vários cenários em aberto. A continuidade de Andrea Pirlo é cada vez mais uma incógnita, tendo também em conta a possibilidade de falhar a conquista da Serie A, o que levaria o clube a ter quatro treinadores apenas em quatro anos. O jovem técnico, que foi um dos melhores médios nas últimas décadas, tem uma ideia de jogo que mais de meia época depois continua sem encontrar um esquema e um modelo que permitam potenciar o melhor da equipa individual e coletivamente como se viu sobretudo na primeira parte, pelas várias oportunidades do FC Porto aproveitando um adversário partido em dois e sem capacidade de recuperação e pelo excessivo recurso ao jogo pelas laterais que foi “anulando” o peso e a influência que Ronaldo por ter na equipa. Demasiados erros e que não são de agora.

O Corriere dello Sport fez capa com o título “Traída por Ronaldo”, a Gazzetta dello Sport deu a nota mais baixa ao português entre os jogadores da Juventus e falou de uma exibição que desiludiu e comprometeu pelo gesto que teve na barreira. A três meses do final da época no clube antes do Campeonato da Europa de seleções, o futuro do avançado de 36 anos está ainda mais em aberto, falando-se com maior insistência na possibilidade de poder sair já no verão de 2021, um ano antes de terminar contrato. Para onde, é uma incógnita, sendo certo que há três objetivos dos quais Ronaldo não abdica: continuar a lutar por títulos e recordes, coletivos e individuais; tentar chegar a uma sexta Bola de Ouro, igualando Lionel Messi; e estar presente no Mundial de 2022, no Qatar.