Responsáveis do Governo dos Estados Unidos da América (EUA) consideraram esta quinta-feira que a designação de ISIS-Moçambique como organização terrorista é um dos instrumentos mais eficazes para desfazer redes de apoio financeiro e impedir futuros ataques terroristas no país.

John Godfrey, novo coordenador interino do Contraterrorismo no Governos dos EUA e enviado especial interino da Coligação Global para Derrotar o Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS) disse esta quinta-feira, numa conferência virtual, que a designação de grupo terrorista “procura negar ao ISIS-Moçambique os recursos de que precisa para financiar atividades terroristas e realizar ataques terroristas”.

“As designações são dos instrumentos mais importantes que temos para quebrar redes financeiras e redes de apoio de que os grupos terroristas precisam para explorar a violência e realizar ataques”, além de dar um aviso à comunidade internacional, acrescentou John Godfrey.

A designação pública de grupos terroristas e outras “linhas de esforços” seguidas pelos EUA no continente africano e em Moçambique, em particular, “refletem uma abordagem abrangente sobre a ameaça terrorista no país”, afirmou o novo coordenador interino do Contraterrorismo.

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Combater o financiamento terrorista tem também efeitos de enfraquecimento de redes de tráfico de droga e juntam-se a outras medidas que os EUA estão a tentar implementar, como segurança acrescida nas fronteiras ou treino e reforço das capacidades antiterroristas no Governo moçambicano.

Michael Gonzales, subsecretário Adjunto do Gabinete de Assuntos Africanos no Departamento de estado norte-americano acrescentou que os EUA dão atenção “também às causas socioeconómicas da ameaça, combatendo mensagens do ISIS e fornecendo mais oportunidades económicas e de resiliência na comunidade, para que a atração à violência extremista seja reduzida”.

Os responsáveis do Governo disseram que há evidências irrefutáveis da ligação entre o ISIS com o ramo em Moçambique, recusando dar outras explicações, por serem “informações confidenciais e sensíveis”.

John Godfrey referiu, no entanto, que entre 2019 e 2020 viu-se uma “importante evolução da ameaça” do Estado Islâmico em toda a África, com mais ataques de ramos fora de Iraque e Síria e que coincidiram com uma “reorganização interna” do grupo, realizada para “delegar decisões e recursos aos ramos e afiliados em todo o mundo”.

Moçambique sofreu a “manifestação mais dramática” desta ameaça em África, considerou Godfrey.

O enviado especial interino da Coligação Global para Derrotar o ISIS declarou que acontecimentos em qualquer parte do mundo que afetam o ISIS têm impactos gerais nesta rede global e que o departamento mediático do Estado Islâmico tem estado sob pressão e enfraquecido por acontecimentos em vários locais.

O Departamento de Estado norte-americano designou na quarta-feira como terroristas a organização ISIS-Moçambique, também conhecida como Ansar al-Sunna, e o seu líder Abu Yasir Hassan.

O ramo africano do Estado Islâmico foi também incluído na classificação de terroristas globais especialmente designados, implicando que todas as suas propriedades sob jurisdição norte-americana “são bloqueadas”.

Assim, os cidadãos e entidades norte-americanas ficam proibidos de se envolver com os designados ou instituições financeiras relacionadas com as atividades terroristas, sob pena de sanções: “É crime fornecer conscientemente apoio material ou recursos ao ISIS-Moçambique, ou tentar ou conspirar fazê-lo”, sublinhou um comunicado do Departamento de Estado.

Desde outubro de 2017, o ISIS-Moçambique, liderado por Abu Yasir Hassan, terá matado cerca de 1.200 civis”, referiu a nota.

Os EUA acrescentaram, no comunicado de quarta-feira, que “os ataques do ISIS-Moçambique também contribuíram para o deslocamento de mais de 670.000 pessoas no norte” do país.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

A violência surgiu em 2017, e algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo jihadista Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.