Três quartos dos concelhos portugueses (239) encontravam-se, a 9 de março, com uma incidência abaixo dos 120 novos casos por 100 mil habitantes, acumulados ao longo de 14 dias, uma das linhas vermelhas definidas pelo Governo. Ultrapassar este valor — como acontece com 69 concelhos (60 deles no continente) — implica uma subida do nível de risco e pode ter como consequência uma paragem ou retrocesso no plano de desconfinamento.
Para avaliar se as medidas de confinamento avançam, param ou recuam, o Governo terá em consideração não só a incidência acumulada nos concelhos, mas também dos concelhos limítrofes. Assim, se um concelho ultrapassar o limite do R(t), que é 1, ou a incidência acumulada de 120 casos por 100 mil habitantes, as medidas não aliviam (são as zonas amarelas do quadro de António Costa). Mas se o concelho ultrapassar ambos os limites, tanto este como os concelhos limítrofes podem voltar ao confinamento.
Ora, a DGS não divulgou os R(t) por concelho, mas com a incidência é possível desenhar já um mapa possível dos concelhos limítrofes que, na melhor das hipóteses, travam o desconfinamento. Assim, os 60 concelhos no continente com mais de 120 casos por 100 mil habitantes, podem acabar por condicionar os 127 concelhos vizinhos. Entre estes, 14 tiveram uma incidência de zero casos em 14 dias e, no total, houve 74 concelhos que não chegaram aos 60 novos casos por 100 mil habitantes nesse período.
Dentro destes 239 concelhos abaixo da linha vermelha, 145 tinham menos de 60 casos por 100 mil habitantes, um limite proposto por alguns especialistas, mas que o Governo decidiu não usar.
No total, são 289 concelhos, dos 308 em Portugal continental e insular, que se encontravam no nível de risco moderado (abaixo dos 24o novos por 100 mil habitantes a 14 dias), no dia 9 de março, segundo os dados do boletim Epidemiológico da Direção-Geral da Saúde.
Nos restantes concelhos, 14 estavam no nível de risco elevado (entre 240 e 479,9 novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias), 4 no nível muito elevado e um no nível extremamente elevado (Funchal).
O X que vai determinar se o desconfinamento avança ou volta atrás
Portugal com índice de transmissibilidade de 0,83
Em termos gerais, Portugal registava, a 9 de março, 96 novos casos de infeção por 100 mil habitantes acumulados nos últimos 14 dias anteriores — um valor que desce para 84,2 casos se apenas tivermos em conta o continente. Já o índice de transmissibilidade — o R(t) — é de 0,83 em Portugal ou de 0,79 quando se considera apenas o continente.
Com menos de 120 novos casos por 100 mil habitantes e um R(t) inferior a 1, o país mantém-se no “verde”, de acordo com a matriz de risco apresentada pelo primeiro-ministro, António Costa, na semana passada, aquando a apresentação do plano de desconfinamento.
Não é possível, no entanto, fazer o mesmo tipo de comparação por concelho porque o boletim disponibilizado pela DGS não inclui o R(t) dos municípios.
Amadora, Lisboa e Odivelas acima da linha vermelha
Amadora, Lisboa e Odivelas, são os únicos concelhos, entre os 15 com maior densidade populacional (Censos 2011), que se mantinham acima dos 120 casos por 100 mil habitantes (definido como uma das linhas vermelhas), a 9 de março.
O Porto e restantes concelhos populosos da região Norte estão todos abaixo do limite definido pelo Governo.
Concelhos | Incidência a 14 dias |
Amadora | 149 |
Lisboa | 145 |
Porto | 113 |
Odivelas | 175 |
Oeiras | 110 |
Matosinhos | 55 |
São João da Madeira | 55 |
Almada | 34 |
Barreiro | 105 |
Cascais | 116 |
Vila Nova de Gaia | 77 |
Seixal | 97 |
Maia | 29 |
Espinho | 98 |
Entroncamento | 102 |
Beja, Coimbra, Faro, Lisboa e Setúbal acima dos 120 casos por 100 mil habitantes
Beja, Coimbra, Faro, Lisboa e Setúbal eram as cinco capitais de distrito do continente acima da linha vermelha dos 120 novos casos por 100 mil habitantes, acumulados em 14 dias, no dia 9 de março.
A manutenção deste nível de incidência afetará não só os concelhos respetivos, mas todos os concelhos limítrofes destas cinco capitais de distrito.
Ainda assim, todos estes concelhos se encontravam no nível de risco moderado e a capital de distrito com a incidência acumulada mais alta era Coimbra (187 casos por 100 mil habitantes), que, na semana anterior, era a única no nível de risco elevado.
Capital de distrito | Incidência a 14 dias |
Aveiro | 89 |
Beja | 158 |
Braga | 39 |
Bragança | 27 |
Castelo Branco | 23 |
Coimbra | 187 |
Évora | 36 |
Faro | 139 |
Guarda | 46 |
Leiria | 51 |
Lisboa | 145 |
Portalegre | 36 |
Porto | 113 |
Santarém | 84 |
Setúbal | 146 |
Viana do Castelo | 113 |
Vila Real | 24 |
Viseu | 94 |
Serpa é o único concelho no continente no nível de risco muito elevado
Serpa era o concelho com maior incidência no continente — 517 novos casos por 100 mil habitantes, a 14 dias — e o único no nível de risco muito elevado, no dia 9 de março, segundo o boletim da DGS.
O Funchal e Ponta do Sol são os concelhos com o maior aumento na incidência acumulada no espaço de uma semana — entre 2 e 9 de março —, o pode ser explicado (total ou parcialmente) pelo acerto das notificações reportado pela DGS.
Vidigueira, Serpa e Carrazeda de Ansiães são os três concelhos do continente com o maior aumento no número de novos casos por 100 mil habitantes acumulados durante 14 dias.
Concelhos | Incidência acumulada a 9.Mar | Incidência acumulada a 2.Mar | Variação numa semana |
Funchal | 1128 | 697 | 431 |
Ponta do Sol | 640 | 431 | 209 |
Vidigueira | 272 | 91 | 181 |
Serpa | 517 | 350 | 167 |
Carrazeda de Ansiães | 318 | 159 | 159 |
Santa Cruz | 576 | 477 | 99 |
Armamar | 156 | 69 | 87 |
Porto Moniz | 213 | 128 | 85 |
Câmara de Lobos | 564 | 502 | 62 |
Paços de Ferreira | 95 | 37 | 58 |
Entre os 10 concelhos que apresentam as maiores descidas na incidência acumulada no espaço de uma semana, cinco continuam acima dos 120 novos casos por 100 mil habitantes — Manteigas, Resende, Sobral de Monte Agraço, Bombarral e Castanheira de Pera.
Concelhos | Incidência acumulada a 9.Mar | Incidência acumulada a 2.Mar | Variação numa semana |
Manteigas | 200 | 898 | -698 |
Barrancos | 61 | 734 | -673 |
Resende | 464 | 947 | -483 |
Sobral de Monte Agraço | 225 | 535 | -310 |
Bombarral | 175 | 478 | -303 |
Castanheira de Pera | 230 | 497 | -267 |
Monchique | 0 | 217 | -217 |
Penamacor | 63 | 273 | -210 |
Murtosa | 78 | 282 | -204 |
Arraiolos | 43 | 245 | -202 |
Concelhos da Madeira com maior incidência, mas DGS alerta para acerto nas notificações
Três dos concelhos no nível muito elevado e o concelho no nível extremo, localizam-se no arquipélago da Madeira.
Segundo indicação da DGS, no boletim epidemiológico, para todos os concelhos do arquipélago da Madeira, os “dados devem ser interpretados atendendo ao atraso entre diagnóstico e notificação verificado no período em análise”. O Funchal, por exemplo, registava a 9 de março, 1.128 novos casos por 100 mil habitantes.
Na semana passada, o Governo Regional da Madeira tinha acusado a DGS de apresentar sistematicamente dados incorretos para o arquipélago, ao que a DGS respondeu que houve uma falha de notificação em janeiro, mas que estava a ser resolvida.
Os dados em falta “estão a ser progressivamente introduzidas no sistema, que os assume, naturalmente, como novos casos”, esclareceu na altura a DGS, avisando que “é expectável um aumento dos casos no boletim diário nos próximos dias”.
Nos Açores, todos os concelhos se encontram no nível de risco moderado e o concelho da Ribeira Grande, onde se localiza Rabo de Peixe, é o único acima dos 120 casos por 100 mil habitantes (177 casos, no acumulado de 14 dias até 9 de março).
Atualizado às 21 horas com informação sobre os concelhos limítrofes.