Mário Centeno diz que a Europa está “muito longe” de vencer a crise e de poder-se considerar “fora de perigo”, daí que seja necessário juntar estímulos orçamentais aos monetários para apoiar as economias. Em entrevista à agência Reuters, o governador do Banco de Portugal (e membro do Conselho do Banco Central Europeu) defende que a autoridade monetária europeia ainda “não esgotou” as possíveis ferramentas de apoio monetário, “sobretudo medidas que podem ser usadas em complemento a medidas do lado orçamental”.

O governador do Banco de Portugal reconheceu, por outro lado, que a aprovação definitiva dos fundos de emergência (e respetiva chegada às economias) está a “demorar mais tempo do que gostaríamos”. Mas Centeno diz “confiar no processo europeu” e, por essa razão, acredita que o efeito positivo da chamada “bazuca” europeia irá chegar aos países em momento oportuno.

Quanto ao efeito positivo das medidas de apoio monetário tomadas pelo BCE (quando Centeno era, ainda, ministro das Finanças de Portugal), o governador do Banco de Portugal acredita que essas medidas – com o Plano de Compras de Emergência Pandémica, ou PEPP, à cabeça – foram “um sucesso” e nos próximos trimestres será mais claro o impacto favorável dessas medidas na economia europeia como um todo e, individualmente, nos diferentes países que compõem a zona euro.

“Podemos ter esperança de que [os números da economia] no segundo e no terceiro trimestre irão demonstrar que a trajetória foi correta”, afirma Centeno, referindo-se não só a criação deste programa de intervenção do BCE nos mercados de dívida, logo em março, mas também ao seu posterior reforço, no final de 2020.

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Ainda assim, o governador do Banco de Portugal sublinha que os líderes políticos têm de ser “humildes” na avaliação que fazem da evolução económica, designadamente devido ao perigo que é criado pelas novas variantes do vírus ou com os problemas relacionados com o processo internacional de vacinação. “A segunda e a terceira vaga da pandemia mostra que ainda estamos numa situação de emergência, longe de vencermos a crise e, por isso, temos de manter todas as nossas medidas ativas”, afirma Centeno.

Moratórias bancárias. Vai ficar (quase) tudo bem, garantem os bancos

Fim das moratórias não levará a grande aumento no crédito malparado

Na mesma entrevista à Reuters, Mário Centeno voltou a mostrar-se relativamente tranquilo em relação ao possível impacto do fim das moratórias na banca portuguesa, não antecipando que isso provoque um salto na quantidade de créditos problemáticos.

“Não temos sinais que isso possa acontecer”, afirmou o governador do Banco de Portugal, acrescentando que este “é um processo que depende muito de como a atividade económica for recuperando ao longo do ano”.

Em 2020, os rácios de crédito malparado voltaram a cair em Portugal… Os bancos portugueses tem um nível de imparização muito grande destes créditos malparados”.

O responsável comentou, também, que é “natural” que surjam movimentos de fusões e aquisições na banca portuguesa nos próximos tempos. “As fusões são um fenómeno de mercado, elas devem resultar de desenvolvimentos de mercado e devem ser vistos com naturalidade”, assinalou, notando que “elas são mais prováveis em mercados em que há choques negativos à rentabilidade das empresas”, neste caso, dos bancos.

Banco de Portugal pouco preocupado com moratórias (que são, de longe, as mais elevadas da Europa)

Centeno acrescentou, ainda, que o banco central está a acompanhar de perto todos os dados relativos à banca e à economia portuguesa numa base semanal e, nesse âmbito, é muito cedo para dizer se irá rever a sua previsão de um crescimento de 3,9% em 2021, apesar de o primeiro trimestre ser afetado por um novo confinamento.