É um novo símbolo da crise migratória e das vítimas que continua a somar — inclusivamente crianças. Seis anos depois da morte do pequeno Alan Kurdi, o menino sírio cujo corpo foi fotografado numa praia da Turquia e acabou por impressionar o mundo, confirma-se a morte de Nabody, uma bebé de apenas dois anos que chegou há dias à costa das Canárias, em Espanha, vinda do Mali e em estado crítico.

A história de Nabody começou por parecer uma história de esperança: a menina alcançou território espanhol na terça-feira passada, na ilha de Gran Canaria, numa embarcação que trazia mais de 50 migrantes, incluindo oito crianças. Nabody chegou, acompanhada pela mãe, já em estado de grave hipotermia e lutando contra uma paragem cardiorrespiratória, pelo que foi assistida logo no próprio barco, por dois enfermeiros da Cruz Vermelha espanhola.

Ao Observador, os enfermeiros, com “pele de galinha”, contaram a experiência e consideraram mesmo que a reanimação da menina, nessa noite, foi um verdadeiro “milagre”. Mas a história não teve um final feliz: o estado de saúde de Nabody era grave e a menina, entretanto internada na ala dos cuidados intensivos de um hospital infantil na ilha espanhola, acabou por não resistir e morrer neste domingo. No mesmo hospital continua a ser tratado outro menino, com uma evolução estável, e um adulto que seguia na mesma embarcação.

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Em Espanha, a história da criança do Mali está a provocar comoção. O poder político já reagiu, tendo o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, recorrido ao Twitter para assegurar que “não há palavras para descrever tanta dor” e rematar: “É um abanão na consciência de todos nós. Nabody tinha 24 meses”. Já o líder da oposição, Pablo Casado, reclamou um acordo para um pacto das migrações, “com um controlo eficaz das fronteiras e cooperação com os países de origem”.

Nabody é a 19º vítima da chamada “rota das Canárias” só desde o início deste ano, segundo a imprensa espanhola. Pelas contas do diário “El País”, desde janeiro já chegaram à costa das Canárias 2.950 pessoas vindas de África, por via marítima (o dobro das que chegaram no mesmo período em 2020), sendo que esta semana já se contabilizam três mortos e mais de 20 hospitalizados.

Como o Observador explicava na semana passada, a viagem, que com o encerramento das fronteiras terrestres por causa da pandemia é toda feita por via marítima, não é fácil, graças às intempéries frequentes e às más condições das embarcações. Para mais, muitas trazem mulheres grávidas e crianças, como no caso de Nabody, que vinha aliás acompanhada pela sua mãe e por outra irmã.