A economia global sofreu a pior recessão em 90 anos e toda uma década de progresso poderá ser perdida devido à pandemia de Covid-19, declarou esta quinta-feira a Organização das Nações Unidas (ONU), num relatório sobre o desenvolvimento sustentável.
Um novo relatório, produzido pela ‘Task Force’ Interinstitucional para Financiamento ao Desenvolvimento, constituída por mais de 60 agências das Nações Unidas e organizações internacionais, indica que cerca de 114 milhões de empregos foram perdidos e 120 milhões de pessoas caíram na pobreza extrema.
A situação nos países mais pobres do mundo é profundamente preocupante e pode atrasar a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) por mais 10 anos no futuro”, lê-se num comunicado da ONU.
A ONU alerta que a pandemia está a criar um “mundo severamente mais desigual, à medida que os ganhos de desenvolvimento para milhões de pessoas em países pobres são revertidos” e com respostas “altamente desiguais” em todo o mundo.
Num total de mais de 16 biliões de dólares (13,5 biliões de euros) aplicados em fundos de estímulo e recuperação serviram para evitar os piores efeitos, “mas menos de 20% dessa quantia foi gasta em países em desenvolvimento“, lê-se no relatório esta quinta-feira publicado.
Para evitar “uma catástrofe” a ONU recomenda “rejeitar o nacionalismo da vacina” e pede mais contribuições para financiar com 20 mil milhões de dólares (quase 17 mil milhões de euros) o acelerador de acesso a ferramentas contra a Covid-19, conhecido como “ACT Accelerator”.
A ONU pede também o cumprimento do compromisso internacional de 0,7% de Assistência Oficial ao Desenvolvimento (ODA, na sigla em inglês) e novos financiamentos concessionais para os países em desenvolvimento, assim como recomenda “evitar o sobre-endividamento, fornecendo liquidez e apoio ao alívio da dívida“.
O investimento sustentável e inteligente, por exemplo em infraestrutura, reduziria os riscos e tornaria o mundo mais resistente a choques futuros”, acrescenta o relatório.
A ONU exemplifica que o gasto de 101 mil milhões de euros nos próximos dois anos e cerca de 34 mil milhões anualmente depois de 2023 “reduziria significativamente a probabilidade de outra pandemia, em contraste com biliões já perdidos em danos económicos durante a pandemia de Covid-19″.
O relatório recomenda a modernização dos mercados de trabalho e políticas fiscais, com um quadro global para responsabilizar as empresas e companhias pelo seu impacto social e ambiental assim como a incorporação de riscos climáticos na regulamentação financeira.
A ‘Task Force’ Interinstitucional para Financiamento ao Desenvolvimento acrescenta ainda, como sugestões, a tributação da economia e comércio digital no quadro de uma solução acordada mundialmente e um melhor uso da tecnologia para combater fluxos financeiros ilícitos.
O que esta pandemia provou sem sombra de dúvida é que ignoramos a interdependência global por nossa conta e risco. Os desastres não respeitam as fronteiras nacionais”, disse a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, citada no comunicado da ONU.
A responsável acrescentou que “para mudar a trajetória” tem de se “mudar as regras do jogo“, porque continuar a trabalhar com as regras pré-crise “levará às mesmas consequências que foram reveladas no ano passado”.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.745.337 mortos no mundo, resultantes de mais de 124,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.