Uma rusga que descobriu vacinas escondidas, que afinal não estariam escondidas e até se destinavam a quem tinha pedido a rusga. Parece o argumento de um filme, mas faz parte do clima de tensão entre a Comissão Europeia e a farmacêutica AstraZeneca — e, indiretamente, o Reino Unido. O antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, classifica a situação como o “dia mais embaraçoso na história da União Europeia”, em declarações ao jornal The Telegraph — frase que foi destacada numa newsletter do editor Chris Evans.

No artigo sobre o tema, o político português questiona o acontecimento. “A polícia italiana invade uma fábrica de vacinas por sugestão da Comissão Europeia para descobrir que são para uma iniciativa global que visa fornecer acesso equitativo às vacinas a algumas das regiões mais pobres do mundo?”, pergunta. “Acho que vamos precisar de uma explicação para o facto de a polícia militar italiana ter invadido uma fábrica de vacinas por motivos falsos.”

O caso começou quando o comissário para o Mercado Interno, Thierry Breton, sugeriu ao governo italiano que a fábrica perto de Roma, onde as doses da AstraZeneca são embaladas, poderia estar a receber material para a manufatura das vacinas de uma fábrica na Holanda que ainda não tem as devidas autorizações da Agência Europeia do Medicamento.

Com base nesta informação, o ministro da Saúde italiano ordenou uma rusga ao local. Foram encontrados 29 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 que a Comissão Europeia disse terem como destino o Reino Unido, num esquema de exportação que privilegiaria o antigo Estado-membro.

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Itália descobre 29 milhões de vacinas escondidas. AstraZeneca nega que fossem para o Reino Unido

A farmacêutica, por sua vez, negou que as vacinas fossem para o Reino Unido e disse que seriam distribuídas pelos países da União Europeia e pelos países que beneficiam do programa de apoio Covax. Assim, as vacinas não estariam reservadas, mas à espera de luz verde do controlo de qualidade para serem distribuídas na Europa. O Reino Unido também negou estar a receber vacinas daquela fábrica.

Os 29 milhões de vacinas encontrados correspondem quase ao dobro daquelas que a AstraZeneca já entregou à União Europeia (16,6 milhões) e quase metade das que ainda estão em falta. A Comissão Europeia quer ver aprovado um bloqueio à exportação de vacinas produzidas nos Estados-membros para minimizar o impacto dos incumprimentos nas entregas por parte das farmacêuticas.