O sucesso da vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido foi “por causa do capitalismo, por causa da ganância”. As palavras — ou melhor, a gaffe — são do primeiro-ministro Boris Johnson, noticiaram as estações televisivas BBC e CNN. Porém, Boris, percebendo a polémica que poderia originar, retirou “muito insistemente” o que dissera.

A frase foi dita numa reunião por videochamada do “Comité 1922”, um grupo de discussão semanal de membros do partido conservador sem assento no parlamento britânico. De acordo com fontes que participaram nesta reunião e que falaram a estes meios de comunicação, o líder do executivo fez este comentário para sustentar que foi a busca do lucro que permitiu que o país ficasse à frente na corrida da vacinação.

Covid-19. Reino Unido com recorde de vacinas administradas em 24 horas

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Inicialmente, estes comentários foram publicados no tablóide inglês The Sun, que cita uma frase completa. “A razão de termos o sucesso com as vacinas é por causa do capitalismo, por causa da ganância, meus amigos” [The reason we have the vaccine success is because of capitalism, because of greed, my friends, em inglês].

À BBC, David TC Davies, que esteve presente na reunião e é político do Partido Conservador pelo País de Gales, disse que Boris Johnson “deixou absolutamente claro que o que disse era uma piada – uma referência ao filme Wall Street”. Depois desta alegada piada, Johnson retirou rapidamente o que disse. “Percebeu que fez asneira assim que disse aquilo, quando não o queria dizer”, disse ao canal outra das pessoas presentes.

[O discurso do filme “Wall Street”, realizado por Oliver Stone, no qual Gordon Gekko, interpretado por Michael Douglas, faz um discurso a elogiar a ganância como motor do bem]

Este tema gerou polémica especialmente devido ao conflito que existe atualmente entre a AstraZeneca, a farmacêutica sueco-britânica que é responsável por uma das principais vacinas contra a Covid-19, e a União Europeia. Nos últimos dias, o primeiro-ministro britânico tem sido uma das caras deste confronto após a Comissão Europeia assumir que pode impor um embargo às exportações das fábricas da AstraZeneca na UE para o Reino Unido de forma a levar a empresa a cumprir o contrato que celebrou com os Estados-membros. A Astra Zeneca, por sua vez, tem alegado que não consegue fornecer todas as doses contratadas com a UE devido a problemas em fábricas nestes países, não estando obrigada a condicionar o fornecimento para o Reino Unido.