Nuno Fernandes Thomaz, antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos, acredita que a discussão sobre a privatização do banco vai voltar a ser colocada graças à criação do Banco de Fomento que, considera, “abre a porta à privatização”.

Em entrevista à TSF, o ex-administrador — que sempre defendeu a continuidade do banco público — confessa que “amadureceu” e que considerando a existência do Banco de Fomento o cenário pode passar a ser outro, voltando a privatização da CGD a ser uma das hipóteses “em cima da mesa”.

“Se o Banco de Fomento preencher o papel de suprir as falhas todas de necessidade e de estar presente nos financiamentos e capitalização de forma eficiente, acho que sim [que o Banco de Fomento pode substituir a Caixa Geral de Depósitos]”, afirmou o antigo responsável na entrevista.

Nuno Fernandes Thomaz antevê “situações complicadas” com o fim das moratórias já na quinta-feira naquilo que chamou de “reality check para a economia portuguesa”. Alertou para a necessidade de “gerir muito bem o processo, com muita sensibilidade por parte dos bancos”, mas diz estar “confiante” com o papel dos bancos, depois de terem enfrentado a crise em 2011 que “ensinou a reestruturar financiamentos e empurrar com a barriga”.

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Fernandes Thomaz criticou ainda a forma como está a ser gerido o dinheiro da União Europeia para ajudar a recuperar da pandemia da Covid-19. “Estamos a aprofundar assimetrias entre os Estados.membros e isso não é bom. Se os planos demoram a ir para o terreno, os países ficam entregues à sua capacidade orçamental para trazer estímulos à economia”, apontou considerando que o BCE foi “exemplar na resposta monetária robusta e rápida”, mas que a resposta orçamental “tem demorado”.

“Enquanto demora, os países – com todas as suas condicionantes orçamentais pelo endividamento que têm – vão trazendo estímulos à economia e uma Alemanha consegue dar muito mais do que Portugal, que está muito mais endividado”, apontou notando que essa é “mais uma razão para que o PRR tivesse fundos mais orientados para o setor privado”.

PRR devia ser “quatro ou cinco vezes” maior

Fazendo referência à necessidade de injetar dinheiro nas empresas, “melhorando standards de gestão, reconvertendo modelos de negócio”, Nuno Fernandes Thomaz diz que “este é um tempo único para apostas nas indústrias” e que há muito “know how em Portugal”, mas crítica a forma como o investimento está pensado no PRR.

“Quando se está a falar em injetar 4.000 milhões na TAP, o montante de recapitalização é extremamente reduzido, devia ser cinco ou seis vezes mais”, considera.

Fernandes Thomaz antevê ainda um fenómeno de “consumo de vingança” à semelhança do que se viveu nos loucos anos 20, no final da pandemia. “Não tenho dúvidas de que vai acontecer isso — e já se vê nos EUA, que estão mais à frente. Mas depois rapidamente vamos cair na realidade, porque haverá muita perda de rendimento disponível e emprego. Prevejo que vamos assistir a um prolongamento da crise além do que gostaríamos”, disse.

Notícia atualizada às 19h55 com novo subtítulo sobre PRR