Quase 60 anos depois de a estátua de Estaline, com 15,5 metros de altura, ter sido demolida do parque Letná, em Praga, uma equipa de arqueólogos descobriu a estrutura de um campo de trabalhos forçados junto ao local. Os investigadores acreditam que o campo terá servido para alojar os prisioneiros que construíram o monumento.

A existência do campo de trabalhos forçados no parque Letná, o maior da cidade de Praga, era desconhecida dos historiadores dado que os vestígios tinham sido destruídos antes de a estátua — que chegou a ser descrita como “um monumento ao amor e à amizade” — ter sido inaugurada.

“É típico dos campos construídos pelos regimes comunistas ou nazis que, se uma demolição foi feita, foi de forma completa (…). Não queriam deixar provas“, diz Jan Hasil, do Instituto de Arqueologia, citado pelo The Guardian.

As fundações do campo foram descobertas por uma equipa da Academia Checa de Ciências, durante as escavações encomendadas para a construção de um lago artificial pela Câmara Municipal de Praga. Jan Hasil revela que descobriu os planos originais para as instalações, assim como fotografias aéreas que confirmam a sua existência, nos arquivos do distrito municipal local.

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Os documentos de planeamento, a que o investigador teve acesso, previam três casas de madeira com capacidade para 40 pessoas, com precárias condições de salubridade. “As pessoas neste campo viviam em más condições”, acrescentou Hasil.

Os investigadores acreditam que os habitantes eram soldados e trabalhadores considerados como “politicamente não confiáveis” pelas autoridades comunistas. Embora se acredite que os trabalhadores tenham sido pagos e possam ter tido permissão para deixar o campo ocasionalmente, a equipa de investigação entende que não tinham outra escolha senão cumprir serviço naquela unidade. Durante as escavações foram ainda encontradas garrafas de vinho e cerveja, o que sugere que os prisioneiros podiam consumir álcool.

Vit Fojtek, responsável pelo Museu da Memória do Século XX, em Praga, considera que a “hipótese” de que o local foi um campo de trabalhos forçados é credível, mas aponta que faltam provas históricas mais robustas. Ainda assim, adianta que estes campos eram comuns no início dos anos 1950, período durante o qual o regime usava cidadãos “ideologicamente suspeitos” para construir grandes obras públicas.

“Praticamente qualquer pessoa poderia ser enviada para lá. O verdadeiro objetivo era arrancar essas pessoas, perigosas para o regime comunista, dos laços sociais e isolá-los. A ideia dos campos era reeducar as pessoas, tanto por meio do trabalho como por meio do treino político”, afirma.