A população mais pobre de Palma, que é também a mais numerosa, começou esta terça-feira a chegar em massa a Pemba, em voos especiais e de barco, após o ataque àquela vila no norte de Moçambique, disseram fontes de organizações humanitárias.

Desde domingo já tinham chegado a Pemba cerca de duas mil pessoas, sobretudo funcionários do projeto de gás e trabalhadores de outras empresas e serviços, segundo dados de diferentes fontes, mas sem confirmação oficial. Esta terça-feira foi a vez da população mais vulnerável que sobreviveu a dias de pânico e fome no mato — excluindo feridos e situações de maior debilidade que já estavam a ser transportados em avionetas desde sexta-feira.

Perto de 200 pessoas começaram esta terça-feira à tarde a desembarcar no aeroporto de Pemba, numa operação que continua, enquanto no porto se prepara o desembarque de outras 160 pessoas que chegaram por barco. Os meios estão a ser mobilizados tanto pelas autoridades moçambicanas como por empresas privadas no intuito de socorrer os funcionários locais e suas famílias.

No aeroporto, diferentes organização não-governamentais (ONG) e agências das Nações Unidas acolheram os deslocados. Parte deles esperava pelas suas famílias que residem em Pemba, outros aguardavam por indicações das autoridades para serem levados para espaços de abrigo.

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Para a manhã de quarta-feira está marcada a chegada a Pemba de um navio com cerca de mil deslocados de Palma.

As Nações Unidas são uma das organizações que mantém uma ponte aérea com Afungi com pequenos aviões, mas toda a informação sobre a operação em curso é propositadamente escassa porque os grupos armados continuam a ser uma ameaça na zona de Palma — e Afungi está a apenas meia dúzia de quilómetros. Os deslocados em Afungi serão só uma parte dos milhares em fuga e que avançaram em diferentes direções atravessando o mato desde quarta-feira, alguns chegando à fronteira com a Tanzânia, 50 quilómetros a norte.

Fonte ligada a operações de resgate e segurança disse à Lusa que ainda há população refugiada em praias do distrito de Palma a aguardar transporte e que ainda não há sinais claros de controlo da vila pelas forças militares, apesar de haver operações em curso. Ao contrário do que aconteceu após outros ataques de grupos rebeldes em 2020, desta vez não se verificou uma chegada em massa de embarcações artesanais lotadas às praias de Pemba.

A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.

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Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.