Um empresário consumou burlas de 348.000 euros ao vender papéis sem qualquer valor como se fossem ações de empresas que teriam patenteado um chip injetável para detetar precocemente o cancro, segundo uma acusação levada a julgamento no Porto.

Os lesados foram quatro, incluindo dois médicos, e o arguido é um empresário de 62 anos, natural do Porto e com residência em Madrid, que está acusado por burla qualificada e por falsificação de documento, num processo em que os lesados reclamam os montantes ainda não devolvidos.

Apenas um deles conseguiu atenuar o prejuízo sofrido, reavendo 38.000 dos 60.000 mil euros entregues ao empresário.

Segundo a acusação do processo, consultada pela agência Lusa, o arguido, “usou vários artifícios para levar avante os seus propósitos nomeadamente exibindo documentos que bem sabia não possuírem qualquer validade”.

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Tais documentos, acrescenta, “consistiam apenas em mais um engodo para ludibriar os ofendidos e retardar a apresentação de resultados que bem sabia inviáveis, pois nenhuma investigação [sobre o suposto chip] estava em desenvolvimento”.

Como afiança o Ministério Público (MP), o empresário começava por granjear a amizade das pessoas-alvo, dando sempre de si a imagem de um investidor com grande rasgo e de pessoa “bastante influente”. Declarou-se mesmo amigo da empresária Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola.

O maior lesado foi o responsável de uma clínica de estética do Porto que, em 2012, acabou por transferir 250 mil euros para a conta do arguido, convicto de que, com esse valor, estava a comprar ações da Ulley Group Suisse, SA, que deteria a patente do “Dar Life”, o suposto ‘chip’ de deteção precoce do cancro.

A Ulley Group Suisse, garante o MP, não tinha existência legal.

O julgamento já teve o seu início formal no Juízo Central Criminal do Porto (tribunal de São João Novo), com a identificação do arguido, mas, conforme disse uma fonte judicial, a produção de prova só começa na manhã de 06 de abril.