Portugal marcou três golos mas podiam ter sido seis, sete ou oito. Portugal não sofreu golos e não se pode dizer que tenham existido muitas oportunidades para tal. Em dois jogos, a Seleção Sub-21 colocou-se apenas a um ponto da qualificação para a fase a eliminar do Europeu. Mais do que isso, estando ao nível individual de outras formações como Alemanha, Espanha, França, Itália ou Países Baixos, deixou um cartão de visita que se tornou transversal à imprensa internacional que tem seguido a competição: revelou ser a equipa mais adulta. E essa foi, em paralelo com os bons resultados frente a Croácia e Inglaterra, a grande vitória de Rui Jorge com esta geração.

O início do último capítulo da trilogia começou com Fábio: Portugal vence Croácia no arranque do Europeu Sub-21

O triunfo com os britânicos funcionou como exemplo paradigmático disso mesmo. Portugal entrou com um novo esquema tático que reforçava o meio-campo e colocava duas unidades na frente, conseguindo controlar a maioria do jogo até ao intervalo ainda que sem golos. Para o segundo tempo, as entradas de Daniel Bragança e Trincão deram mais critério na construção e maior largura no jogo ofensivo, a bola andou mais vezes pelos corredores laterais e foi pelo meio que a Seleção fez a diferença na criação de oportunidades como aquela que originou o primeiro golo numa transição rápida conduzida por Pedro Gonçalves antes da assistência para Dany Mota. Tal como tinha acontecido com a Croácia, se a equipa estava bem tornou-se melhor dentro de uma organização coletiva sempre forte mas com espaço para a qualidade individual vir ao de cima. O reflexo estava nos resultados.

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O capital inicial já era bom, o banco tinha ainda mais crédito: Portugal vence Inglaterra e tem pé e meio nos quartos do Europeu Sub-21

Era neste contexto que chegava o encontro com a Suíça, que surpreendeu a Inglaterra no arranque da fase final e perdeu de seguida com a Croácia: em caso de vitória ou empate, Portugal estava apurado e no primeiro lugar; em caso de derrota, ficava a depender do resultado do Croácia-Inglaterra. Ainda assim, havia um objetivo claro de somar a terceira vitória (algo que ninguém conseguiu nos grupos A e B, onde passaram Países Baixos, Alemanha, Espanha e Itália) num encontro com características diferentes dos dois primeiros e que iria colocar outro tipo de problemas ao conjunto comandado por Rui Jorge que até agora não tinham sido tão colocados.

“A Suíça joga em 4x4x2 clássico, é muito agressiva defensivamente, tem um excelente momento de pressão e sai rápida em contra-ataque. O jogo passará muito por aí. Se o fizermos bem, poderemos ter um caminho facilitado; se o fizermos mal, poderemos ser fortemente penalizados. Eventualmente, é o oponente mais forte defensivamente neste grupo e os nossos jogadores dificilmente terão muito tempo para pensar. Parece-me que estão muito bem trabalhados e percebem muito bem o jogo e o momento de pressionar. Podem criar dificuldades ao jogarem com dois avançados e são bons no ataque rápido”, destacara antes do jogo o selecionador nacional.

Sem tanta clarividência no último terço mas com mais qualidade ainda na posse a meio-campo e a segurança no setor recuado de sempre, Portugal passou ao lado do que acontecia no outro encontro do grupo e somou a terceira vitória noutros tantos jogos frente à Suíça, conseguindo pela primeira vez fazer os nove pontos no atual modelo competitivo de fase final e com a particularidade de não ter sofrido qualquer golo nem ter cedido grandes oportunidades aos helvéticos para baterem Diogo Costa que foi um mero espectador em largos períodos.

Com três novidades na equipa inicial, mantendo Daniel Bragança e Trincão nos lugares de Florentino Luís e Gedson Fernandes e trocando Dany Mota (que teve alguns problemas físicos) por Tiago Tomás, Portugal voltou a entrar num 4x4x2 losango que com bola se podia transformar em 4x3x3 mediante os movimentos de Fábio Vieira e Pedro Gonçalves e demorou apenas três minutos a chegar à vantagem: livre lateral na esquerda batido por Fábio Vieira, segunda bola no lado contrário com cruzamento de Vitinha e cabeceamento ao primeiro poste de Diogo Queirós a inaugurar a vantagem (num lance que deixou Diogo Leite, que já tinha um penso no sobrolho de outro jogo, a sair a sangrar do nariz). Se o contexto já era bom, o golo logo a abrir tornou-o ainda melhor. E foi também por isso que Portugal foi gerindo o jogo como quis perante uma única ameaça da Suíça mas muito ao lado.

Vitinha teve um desvio de cabeça após combinação com Tiago Tomás que saiu ao lado, Trincão rematou para uma defesa segura de Anthony Racioppi depois de uma diagonal da direita, Tiago Tomás apareceu bem na área na sequência de uma jogada com Pedro Gonçalves mas o remate voltou a ser travado pelo guarda-redes helvético, Trincão arriscou mais uma vez o mesmo movimento mas saiu ao lado. Entre muita posse, que permitiu apenas um remate em zona perigosa mas muito ao lado de Domgjoni, Portugal somava boas oportunidades mas dava um recital de como controlar um jogo com bola tendo Daniel Bragança como principal destaque no carrossel do meio-campo para a frente que acabou a primeira parte com 471 passes conseguidos em 513 tentados (contra 130 em 164 da Suíça), 70% de posse, mais recuperações (14-12) e 7-4 em remates (nenhum enquadrado do adversário).

A entrada no segundo tempo não foi tão intensa nem dominadora, a Suíça conseguiu subir um pouco as linhas ainda que sem ganhar mais do que um par de cantos mas o primeiro remate com perigo acabou por transformar-se no segundo golo: Fábio Vieira viu bem a entrada de Tiago Tomás nas costas da defesa dos helvéticos, Racioppi conseguiu ainda fazer a “mancha” mas Francisco Trincão encostou na recarga para o 2-0 (60′). O encontro estava decidido, Rui Jorge aproveitou para trocar todo o ataque lançando Francisco Conceição, João Mário e Gonçalo Ramos e o terceiro golo chegou pouco depois, num lance caricato que começou num lançamento de Diogo Dalot, Van der Werff a não conseguir cortar e Francisco Conceição a desviar já em queda na área para o 3-0 (65′). A Suíça já se tinha entregado e pior ficou quando Muheim viu dois amarelos em pouco mais de um minuto (72′).

Com este resultado, Portugal vai agora defrontar a Itália, segunda classificada do grupo B com uma vitória (Eslovénia, 4-0) e dois empates (Rep. Checa, 1-1 e Espanha, 0-0), nos quartos do Campeonato da Europa, num jogo que está marcado para o dia 31 de maio em Ljubljana. Em caso de vitória, a Seleção vai jogar depois a meia-final com o vencedor do encontro entre Espanha e Croácia (que perdeu por 2-1 com a Inglaterra), também a 31 de maio na cidade de Maribor. Portugal foi também uma das duas equipas a par da Dinamarca que não sofreu golos nesta fase, terminou com o segundo melhor ataque (seis golos), só superado pelo Países Baixos (oito), e ficou com o melhor saldo entre os golos marcados e sofridos entre as 16 equipas da fase final a par também da Dinamarca, que repetiu todos os resultados feitos pela Seleção Nacional (seis golos positivos). Nos restantes jogos dos quartos deste Europeu, a Dinamarca vai jogar com a Alemanha e a França defronta os Países Baixos.