Os professores e funcionários das escolas deverão ser quase todos vacinados contra a Covid-19 no fim de semana e, apesar de alguma insegurança, a polémica em torno da AstraZeneca não os faz recuar, sobressaindo os benefícios, dizem diretores e sindicatos.
A farmacêutica britânica tem estado envolta em polémica devido ao surgimento de coágulos sanguíneos em vacinados com a sua vacina contra a Covid-19, levando alguns países europeus a suspender temporariamente o seu uso em meados de março, incluindo Portugal.
Nos últimos dias, e novamente em vésperas de milhares de professores e não docentes receberem esta vacina, o tema voltou a marcar o debate público e esta quarta-feira a Agência Europeia do Medicamento (EMA) concluiu que existe uma “possível relação” entre aquela vacina e a formação de “casos muito raros” de coágulos sanguíneos, mas insistiu nos benefícios do fármaco.
“A polémica é pública e os professores não são imunes à polémica”, disse à Lusa Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, relatando que ainda esta quarta-feira se falava sobre isso na sala de professores da sua escola. Por isso, Manuel Pereira disse que muitos docentes preferiam não tomar a vacina da AstraZeneca, mas esse não será motivo suficiente para deixarem de ser vacinados já nos dias 10 e 11 de abril, preferindo focar-se nos benefícios.
Também Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), tem uma perceção semelhante e admite que o recente ressurgimento da polémica não motivou uma reação tão negativa quanto antecipava. Recordando quando, em meados de março, a administração da vacina da AstraZeneca foi temporariamente suspensa em Portugal, o presidente da ANDAEP acredita que “se a vacinação de todos [profissionais do ensino] fosse há três ou quatro semanas, poucos iriam“.
“Agora, não posso dizer o mesmo”, acrescentou, explicando que desta vez os professores não se retraíram, continuando a manifestar vontade em receber a vacina contra a covid-19. Por outro lado, o representante dos diretores acredita que as conclusões da Agência Europeia do Medicamento (EMA) anunciadas também vão ajudar a “sossegar” os mais apreensivos.
Do lado dos sindicatos, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) também sublinha o desequilíbrio da balança, quando se pesa os prós e os contras da vacinação.
“O risco nunca é zero, mas neste caso o benefício não é sequer comparável”, defendeu Mário Nogueira.
Admitindo que a controvérsia possa deixar apreensivas algumas pessoas, o representante dos docentes acredita igualmente que “a grande maioria quer ser vacinada”, uma perceção partilhada pelo secretário-geral de outra estrutura sindical.
Para João Dias da Silva, da Federação Nacional da Educação, a vacinação é uma das ferramentas essenciais para assegurar a segurança sanitária nas escolas, evitando que voltem a encerrar, e por isso mesmo foi uma das principais reivindicações dos sindicatos do setor da Educação.
“Há sempre receios e incertezas, mas acho que há uma grande disponibilidade para aceitar aquilo que é o parecer da comunidade científica”, disse o secretário-geral da FNE, considerando que o número de profissionais a recusar a vacina contra a covid-19 será “muito residual”.
Por outro lado, Mário Nogueira referiu ainda a sugestão do Comité Conjunto de Vacinação e Imunização no sentido de oferecer uma vacina alternativa à AstraZeneca contra a covid-19 às pessoas com menos de 30 anos, afirmando que essa questão nem se coloca no ensino, já que são raros os professores de idades inferiores.
Entre uma classe docente envelhecida, acrescentou João Dias da Silva, a idade é mais um motivo para aceitar a vacina.
O “grande exercício” de vacinação contra a covid-19, como lhe chamou o ministro da Educação, vai decorrer no próximo fim-de-semana e, segundo o presidente da ANDAEP, os professores e funcionários já começaram a ser chamados.
À semelhança daquilo que foi feito para a vacinação dos profissionais do pré-escolar e 1.º ciclo no fim-de-semana de 27 e 28 de abril, a convocatória está a ser feita através de SMS.
“Está tudo a rolar”, sublinhou Filinto Lima, afirmando que a maioria já foi contactada e que aqueles que não receberam ainda a convocatória estão a informar a direção da escola, que comunicará o problema. Outros que não responderam à convocatória no prazo previsto de 24 horas, estão a ser contactados pelos serviços de saúde, segundo Manuel Pereira, da ANDE.
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, afirmou na terça-feira que o objetivo é vacinar todos os docentes e não docentes do 2.º ciclo ao secundário, e aqueles do pré-escolar e 1.º ciclo que não foram chamados há duas semanas.