A novela que envolve Lionel Messi e Barcelona é exatamente como todas as novelas. Tem episódios em que parece que tudo acontece; tem episódios em que parece que nada acontece; tem fases em que perder um episódio faz também perder o fio à meada; e tem fases em que perder uma semana inteira de episódios não faz qualquer diferença. Depois de uma fase mais conturbada no início da temporada, logo depois da quase saída durante o verão e de um início de Campeonato abaixo das expectativas, a saída do argentino de Camp Nou parecia praticamente certa. Há uma semanas, com a luta pelo título relançada e vários resultados positivos consecutivos, tudo parecia diferente. Com o aproximar do fim da época, tudo está a mudar novamente.

Depois da eliminação da Liga dos Campeões, da derrota com o Real Madrid e com o calendário a encaminhar-se para o próximo verão, a ideia da saída de Messi do Barcelona está novamente em cima da mesa. E Andoni Zubizarreta, antigo guarda-redes dos catalães que também passou pela direção do clube, garante que o argentino já tem a decisão tomada — ainda que não diga que decisão é. “O Messi ganhou o direito a pensar e decidir. E eu sei que já tem a decisão tomada. Se decidir ficar, maravilhoso. Se decidir ir, é a vida, e é preciso continuar a jogar. Apesar de tudo, há coisas que podem influenciar. Todos temos dias em que achamos que vamos desistir de tudo e depois acontece algo que nos faz mudar completamente de ideias. Nisso, a final da Taça do Rei pode ajudar”, disse o ex-jogador à Rádio Catalunya, acrescentando que os esforços do recém-eleito Joan Laporta pouco ou nada poderão fazer porque, no fim, a escolha de Messi estará relacionada com os títulos conquistados e a perspetiva de conquistar mais.

Ora, a tal final da Taça do Rei que poderia ajudar era este sábado, no Estádio La Cartuja, em Sevilha, e contra o Athl. Bilbao. Ronald Koeman lançava Busquets, De Jong e Alba no meio-campo, com Pedri e Dest mais perto dos corredores, a habitual linha de três centrais e Griezmann perto de Messi. Trincão começava no banco, assim como Dembélé, e o Athl. Bilbao colocava Iñaki Williams e Raúl Garcia no ataque, com Muniain e Berenguer no apoio. A equipa de Marcelino García Toral disputava a segunda final da Taça do Rei no espaço de duas semanas — algo que só poderia acontecer em 2020/21.

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Na época passada, o Athl. Bilbao carimbou a presença na final da segunda competição espanhola, assim como o Real Sociedad, mas o jogo decisivo foi sendo adiado porque ambos os clubes queria discutir o dérbi basco com adeptos nas bancadas. Esse cenário, porém, nunca se realizou: e a final da Taça do Rei 2019/20 teve mesmo de acontecer no passado dia 3 de abril, com a Real a levar a melhor graças a um golo de penálti de Oyarzabal. Nessa altura, o capitão Muniain correu o mundo inteiro por ter sido o único jogador do Athl. Bilbao a permanecer em campo enquanto o adversário levantava o troféu. Este sábado, a principal história era o facto de Lionel Messi ter cortado a barba antes do jogo.

O Barcelona teve a primeira grande oportunidade da partida, com De Jong a acertar no poste depois de um grande cruzamento atrasado de Messi (5′). Iñigo Martínez respondeu, com um desvio de pé esquerdo que quase surpreendeu Ter Stegen depois de um livre batido na direita (12′), mas a verdade é que eram os catalães a dominar o jogo na sua essência, com mais presença no meio-campo adversário e sem deixar que o Athl. Bilbao chegasse com perigo a terrenos mais adiantados. A primeira parte terminou sem golos e sem grandes oportunidades, apesar desse ascendente claro da equipa de Ronald Koeman.

No início da segunda parte, Marcelino García Toral tirou Muniain e lançou Lekue — provavelmente devido a um problema físico, ainda que o jogador tenha realizado um primeiro tempo bem abaixo daquilo que pode fazer, também fruto da pouca posse de bola que o Athl. Bilbao teve. Griezmann teve uma enorme oportunidade para abrir o marcador logo nos primeiros instantes, ao atirar ao lado na recarga a uma boa defesa de Unai Simón depois de um desequilíbrio de Dest na direita (48′). O guarda-redes dos bascos voltou a blindar a baliza em duas ocasiões consequentes, primeiro num remate de fora de área de Pedri (52′) e depois numa perdida inacreditável de Busquets (53′), e o Barcelona ia asfixiando o Athl. Bilbao mas não conseguia chegar ao golo.

Toral voltou a mexer, com a entrada de Vesga para o lugar de Berenguer, mas o golo dos catalães acabou por não tardar muito mais. O Barcelona desenhou outra bonita jogada de futebol coletivo, De Jong recebeu de Messi na direita e cruzou para a pequena área, onde Griezmann apareceu a tocar de primeira para abrir o marcador (60′). O avançado francês marcava na primeira final da Taça do Rei da carreira, apesar de estar desde 2009 em Espanha, e dava o mote para a vitória catalã. Escassos três minutos depois, De Jong aumentou a vantagem: Jordi Alba cruzou na esquerda, Messi surgiu ao primeiro poste a arrastar um defesa e acabou por ser o jovem médio holandês, de cabeça, a encostar (63′).

O treinador do Athl. Bilbao novamente, desta feita com uma tripla alteração e com as entradas de Berchiche, Núñez e Villalibre. O Barcelona, porém, acabou com o jogo: numa jogada perfeita de combinação com De Jong, em que Messi trocou a bola com o holandês em duas ocasiões, o argentino acabou por finalizar com um remate cruzado já no interior da grande área (68′). Logo depois, o capitão catalão deu laivos de goleada à final, ao bisar com um pontapé rasteiro na sequência de uma assistência de Alba na esquerda (72′). Até ao fim, Griezmann ainda voltou a marcar mas o lance foi anulado por fora de jogo do francês (86′).

O Barcelona venceu e conquistou a Taça do Rei pela 31.ª vez e pela primeira desde 2017/18; o Athl. Bilbao, por outro lado, perdeu duas vezes a competição no espaço de duas semanas. Os catalães garantiram o primeiro troféu da época e provaram que existe equipa para lá de Messi, apesar dos dois golos do capitão: uma equipa que começa e acaba em De Jong, que marcou, assistiu e provou que está de volta ao melhor que já mostrou.