Há uma semana que o reencontro dos dois irmãos se adivinhava tenso. Harry voou prontamente de Los Angeles para Londres, de forma a estar presente no último adeus ao avô paterno. William nunca deixou de estar perto da família e terá sido com alguma perplexidade que, no início de março, assistiu à entrevista dos Sussex a Oprah Winfrey — foi nessa conversa que casal tornou públicos os comentários de índole racista no seio da família real britânica e que Harry se referiu ao pai e ao irmão como prisioneiros de uma estrutura centenária.
É certo que a morte de um ente querido ajuda a relevar a maioria das cisões, mas o receio de constrangimentos maiores terá levado Isabel II, em pleno luto, a proibir o uso de uniformes militares no funeral do marido, como forma de esbater as diferenças entre o núcleo duro da família e o famoso dissidente (mesmo que quisesse, Harry não poderia usar farda depois de ter abdicado dos títulos militares honoríficos na sequência do Megxit).
O resultado foi um cortejo democrático, que não distinguiu royals de primeira, nem de segunda. Como previsto — tudo neste cerimonial foi planeado por Buckingham ao milímetro e ao minuto — William e Harry ocuparam a terceira fila na comitiva que seguiu a urna de Filipe. Percorreram Windsor com um primo entre eles, Peter Philips, o mais velho dos netos de Sua Majestade. Um trajeto já de si suficientemente pesado, que dispensaria um eventual litígio entre irmãos.
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Harry não pisava solo britânico há mais de um ano, desde os últimos afazeres reais, desempenhados ao lado de Meghan, em março de 2020. A duquesa ficou em casa. Tudo leva a crer que estará na fase final da gravidez e terá sido por conselho médico que não se deslocou ao Reino Unido para apoiar o clã com que conviveu durante cerca de dois anos. Enquanto isso, do lado de cá do Atlântico, o nervosismo entre funcionários da casa real só aumentava com o aproximar da cerimónia fúnebre deste sábado. Alguns sentiram-se menos a pisar um terreno minado, no receio de ferir suscetibilidades ou de contribuir para o reacender de disputas.
No interior da igreja William e Harry sentaram-se em lados opostos — o primeiro ficou ao lado da mulher, Kate Middleton, à esquerda do altar, o segundo partilhou a fila com a rainha (que estava na outra ponta), sozinho, a dois metros da princesa Ana e do marido. Se recuarmos a outubro de 2018, data da última cerimónia a juntar Cambridge e Sussex na Capela de São Jorge, veremos que os casais se sentaram lado a lado.
Mas o silêncio quebrou-se, por fim. Já fora da capela, tomados pela natural descompressão do momento, os irmãos iniciaram uma (aparentemente) tímida interação. Com Kate Middleton no meio, o trio pôs pés a caminho, entre uma família dividida em grupos para a retirada final. De forma intencional ou não, a duquesa deixou-se ficar para trás proporcionando o momento que muitos esperavam — William e Harry conversaram descontraidamente e, em poucos minutos, colocaram a expressão reconciliação nos cabeçalhos da imprensa britânica.
A ocasião pode ter resultado de um impulso genuíno, mas também do interesse em restaurar a imagem de um clã unido, apesar da distância geográfica. Este sábado, a dupla poderá não ter enterrado apenas o avô, mas também as diferenças que a separavam.