Na passada 6ª feira, pelas 23h25, dois homens perderam a vida num acidente em que um Tesla Model S embateu numa árvore de forma violenta e depois se incendiou. O acidente teve lugar no Texas, numa urbanização junto a um campo de golfe próximo de The Woolands e, segundo a polícia local declarou à estação de televisão KPRC 2, o veículo deslocava-se “a alta velocidade” e “não estava ninguém sentado ao volante” do Model S de 2019.

De acordo com a Association for Safe International Road Travel, no mundo, todos os dias morrem cerca de 3700 pessoas em acidentes rodoviários, mas o que fez este saltar para a primeira linha das televisões e jornais em todo o mundo foi o facto de se tratar de um Tesla – dada a notoriedade do construtor e o facto de ser a marca automóvel mais valiosa do mercado – e de podermos estar perante um caso em que a tecnologia que permite aos automóveis deslocarem-se com um certo nível de autonomia ter falhado e, com isso, provocado a morte de quem ia a bordo. Mas vamos analisar o que já se conseguiu apurar sobre o acidente.

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Ninguém ia ao volante?

O facto de ninguém estar sentado ao volante no momento do embate foi a pitada de sal que tornou este acidente mais atractivo para a imprensa mundial. Quem o anunciou foi o agente Mark Herman, que tomou conta da ocorrência, em representação da polícia de The Woolands, nos arredores de Spring, sem especificar como chegou a esta conclusão após o que denominou “análise preliminar”.

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Nas imagens é visível a destruição total do veículo, sendo ainda evidente que os dois bancos anteriores parecem ter resistido ao esforço do embate, uma vez que as costas dos assentos ainda estão na sua posição normal. Todavia, o agente Herman concluiu que dos dois homens a bordo, um com 59 anos e outro com 69, um ocupava o banco do passageiro à frente, enquanto o segundo estava no banco posterior. O lugar atrás do volante estava vazio.

Autopilot ou Full Self Driving?

Todos os modelos da Tesla estão equipados com um dispositivo cuja denominação comercial é Autopilot, que essencialmente consiste numa série de sistemas que mantêm o veículo à velocidade programada pelo condutor, ainda que mantendo a distância de segurança em relação ao carro da frente, travando quando este reduz a velocidade e acelerando assim que este recupera o ritmo. Em caso de emergência, pode mesmo travar para evitar um embate, caso o condutor esteja distraído. Este dispositivo é cada vez mais vulgar nos restantes construtores, que optam por baptizá-lo por cruise control adaptativo, ou termos similares.

Quando os condutores abusam da tecnologia (e se safam)

Esta componente do Autopilot funciona associada a uma outra, que mantém o modelo ao centro da faixa de rodagem, equivalente ao que é apelidado por assistente de faixa de rodagem com lane centering. Só que, ao contrário das marcas europeias, que limita a força aplicada no volante a 2 Nm (manifestamente pouco para as curvas mais fechadas da auto-estrada, mesmo a circular a 120 km/h), a marca norte-americana vai mais longe e, se o Tesla sentir que vai ter de virar o volante mais do que o esperado para descrever a trajectória, reduz ligeiramente a velocidade para manter o controlo do veículo.

Ao Autopilot normal, a Tesla junta por um valor adicional o Autopilot aperfeiçoado, que já faz navegação automática, realizando ultrapassagens e mudanças de faixa sem intervenção do condutor, podendo ainda estacionar automaticamente e deslocar-se até ao condutor num parque, a seu pedido. Agora o construtor está em fase de testes do Full Self Driving (FSD), que continua a ser apontado pela Tesla como um sistema de ajuda à condução, mas já capaz de se deslocar do ponto A ao B, lidando com estrada ou cidade, semáforos, sinais de Stop e as prioridades relativas às regras de trânsito. Há pelo menos 2000 clientes voluntários actualmente a testar uma versão beta deste FSD, que o construtor afirma conseguir realizar todas as funções sozinho e sem intervenção do condutor, apesar de ser sua a responsabilidade.

No caso do acidente do Texas, pensou-se de imediato que o Model S circulava em Autopilot, ou até que seria uma das unidades autorizadas a testar o FSD. Porém, Elon Musk esclareceu na 2ª feira que, de acordo com os dados já recolhidos do veículo acidentado, não só não possuía FSD, como o Autopilot não estava sequer activo no momento do embate.

O CEO da Tesla chama ainda a atenção que o Autopilot nunca poderia ser accionado naquele local porque, ao contrário do FSD, necessita das linhas de limite de faixa para se guiar, o que não existia naquela rua. Para esclarecer quaisquer dúvidas, um proprietário de um Model 3 equipado com FSD publicou um vídeo a mostrar como seria impossível o veículo continuar a circular assim que o condutor tirasse o cinto para passar para o banco traseiro.

Excesso de velocidade?

Segundo a conclusão da polícia, o veículo deslocava-se em excesso de velocidade, o que parece algo inverosímil a acreditar na reportagem da KPRC 2, que mostrou o local do acidente, bem como as marcas deixadas pelos pneus, desde que o carro não descreveu a curva e seguiu a direito, até embater na árvore.

De acordo com as informações prestadas pelo agente Herman ao New York Times, as mulheres dos dois homens que morreram no acidente dizem que os ouviram falar em dar uma volta de carro e experimentar o Autopilot.

A viagem não duraria mais do que umas poucas centenas de metros, uma vez que o Model S partiu do final de uma rua sem saída da urbanização para se despistar na primeira curva que encontrou pelo caminho. As vistas de satélite do Google Maps mostram o local de partida e o ponto onde o embate teve lugar, em frente ao número 18 da rua Hammock Dunes.

Polícia e NHTSA investigam acidente

A polícia local já revelou ter solicitado à Tesla informações sobre o que aconteceu dentro do veículo nos poucos segundos entre o início da viagem e o acidente, provavelmente para tentar perceber onde estavam os dois ocupantes, se o cinto de segurança do condutor estava posto, apesar de ninguém ocupar o assento. Mas a investigação que deverá desvendar ao pormenor tudo o que aconteceu, é a que vai ser levada a cabo pela National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), a entidade oficial a quem cabe atribuir responsabilidades nos acidentes e sobretudo garantir que os veículos funcionaram de forma perfeita, de modo a não comprometer a vida dos seus ocupantes.

Sexo explícito põe Tesla a liderar pesquisas no Pornhub

Nos EUA têm lugar anualmente 6 milhões de acidentes rodoviários, que originam todos os anos 3 milhões de feridos e 90 mortos por dia, sendo que alguns dos acidentes mais graves e a envolver perdas de vidas passam pelo crivo da NHTSA. Há processos em curso envolvendo todas as marcas e, relativamente à Tesla, os responsáveis pela segurança rodoviária dos EUA admitiram ter aberto 27 investigações, 23 das quais ainda decorrem. Contudo, abundam nas redes sociais casos de condutores que abusam das potencialidades do Autopilot, desde mães que filmam filhos enquanto estes dormem ao volante, aos que optam por ter relações sexuais ao volante e publicá-las no Pornhub, passando pelos condutores que se juntam ao passageiro para passar pelas brasas enquanto se deslocam, sem esquecer os que se deixam dormir ao volante ou os que passam para o banco do lado para se sentirem mais à vontade. Tudo depois de utilizar pesos no volante e falsos fechos dos cintos de segurança para enganar o sistema.