O facto de não terem sido incluídos no grupo prioritário de vacinação, como os docentes e funcionários do restante setor educativo, das creches ao terceiro ciclo do ensino básico, causou “um grande desconforto” entre os professores universitários. Alguns já estão mesmo a “recusar dar aulas presencialmente enquanto não forem vacinados”, disse ao Público o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).

Para António Sousa Pereira, médico e durante 14 anos diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto, “não há nenhuma razão científica que justifique” a exclusão dos docentes do Superior do plano de prioridades de vacinação contra a Covid-19, pelo que a motivação “só pode ter sido política”, conclui, apontando o dedo ao ministro da tutela. “As justificações que ele tem apresentado não têm racional possível.”

Contactado esta sexta-feira de manhã pela Rádio Observador, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior recusou quaisquer responsabilidades pela exclusão dos professores universitários e explicou que os critérios para a vacinação são definidos pelas entidades responsáveis pelo processo. “Os critérios de vacinação são definidos pela DGS e pela task force.”

No final de março, em resposta às reclamações que já então eram audíveis por parte dos professores de universidades e politécnicos, Manuel Heitor já tinha dito que o plano de vacinação era “para ser cumprido”. Na mesma altura, disse ainda que estes docentes não deviam “passar outras prioridades”. Esta semana, durante uma visita à Universidade do Porto, o ministro da Ciência e Ensino Superior voltou a recusar a ideia de “discriminação” relativamente à classe; explicou por que motivo acredita que os docentes podem esperar — “Temos períodos de contacto entre os estudantes e os docentes muito inferiores a todos os outros níveis de ensino” —; e classificou as exigências de “intrigas corporativistas”.

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Ao mesmo jornal, a presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (Snesup) garantiu que não será bem assim e que, em aulas práticas, a proximidade entre docentes e alunos será até maior neste nível de ensino do que em quaisquer um dos outros da escolaridade obrigatória.

Mariana Gaio Alves revelou ainda que os professores se sentem “abandonados e injustiçados” e confirmou que, uma semana após o regresso às aulas presenciais, vários colegas recorreram já à hipótese aberta no início do ano pelo aviso de greve apresentado pelo Snesup que prevê que os docentes possam recusar dar aulas de forma presencial sempre que considerem que as condições sanitárias devidas não estejam reunidas.

Entretanto, em comunicado enviado esta sexta-feira para as redações, o CRUP reiterou o que tinha dito ao jornal e garantiu continuar “a mobilizar esforços para sensibilizar os responsáveis técnicos e políticos da campanha nacional de vacinação para a necessidade de corrigir esta inexplicável discriminação dos docentes e não docentes do ensino superior em relação aos restantes profissionais de ensino do país.”

“O risco de transmissão do SARS-CoV-2 é semelhante em qualquer sala de aula ou qualquer estabelecimento de ensino, sabendo que foi precisamente ao nível do ensino superior que se detetaram, em Portugal, os primeiros casos de Covid-19 em contexto escolar”, frisa ainda o documento.

O CRUP afirmou estar há várias semanas a realizar “esforços no sentido de compreender”, junto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da task force para a vacinação, “as razões da exclusão dos profissionais do ensino superior”, tendo em conta a prioridade dada aos restantes níveis de ensino.

A entidade aludiu, no mesmo documento, à norma da DGS sobre o processo de vacinação onde são mencionados os “profissionais de estabelecimento de educação e ensino e respostas sociais de apoio à infância” como um dos grupos prioritários.

“Por definição, deverão estar incluídos neste grupo os docentes e não docentes do ensino superior que, além de serem parte integrante do sistema de ensino nacional, estão envolvidos no esforço de resiliência do Estado na mesma medida que os profissionais do ensino básico e do ensino secundário”, alegou o CRUP.

Artigo atualizado às 13h50 com o comunicado do CRUP