A dada altura, esta temporada, parecia que a liga espanhola estava totalmente entregue ao Atl. Madrid, graças ao bom arranque de época da equipa de Simeone e aos consecutivos deslizes de Real Madrid e Barcelona nesse período. Nesta fase, a cinco jornadas do fim do Campeonato, a luta pelo título está completamente em aberto — por mérito de Real Madrid e Barcelona, que melhoraram, mas também por demérito da equipa de Simeone, que tirou o pé do acelerador a meio do caminho.

Ainda assim, para o treinador argentino, o facto de a liga espanhola estar a atravessar um dos anos mais competitivos da história recente não deixa de ser algo positivo — apesar de o Atl. Madrid ter tido 14 pontos de vantagem na liderança e ter acabado por desperdiçar essa margem de manobra. “É uma novidade e faz bem ao futebol espanhol, o desempenho desta liga. A possibilidade de muitas equipas estarem a competir para vencer é melhor. Tanto o Sevilha, como o Real Madrid, Barcelona e nós, estamos todos imersos num objetivo e é claro que jogo a jogo se ganha ainda mais importância”, disse Simeone esta semana, na antecâmara da visita ao Elche, uma das equipas que está a lutar para não descer ao segundo escalão.

Ora, também nos últimos dias, João Félix voltou a treinar à margem da equipa, mesmo após ter regressado de lesão no jogo contra o Athl. Bilbao, mas conseguiu recuperar a tempo e integrar novamente a convocatória de Simeone. O internacional português continua a ser o protagonista de muitas notícias na imprensa desportiva espanhola, por ter perdido a titularidade no Atl. Madrid e continuar sem justificar o valor investido pelo clube no verão de 2019, mas agora acabou por ser um antigo treinador de Félix nas camadas jovens do Benfica a explicar a difícil adaptação do jogador. Comparando-o até a Rúben Dias, seu contemporâneo no Seixal, que entrou de estaca no onze do Manchester City.

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“O Rúben é de fácil adaptação, até porque vai para um super treinador que adora ensinar [Guardiola]. É um jogador que tem uma capacidade de liderança e de liderar com a pressão anormal para a idade. E pela qualidade que tem como jogador. Na altura, perguntaram-me sobre o Rúben e estou muito feliz por não me ter enganado, estão encantados com ele. E isto é o início, eu disse na altura a um órgão de comunicação inglês que o City estava a contratar o novo Kompany. E acho que ele, mais cedo ou mais tarde, será capitão do City durante muito tempo. O Félix foi para um contexto que não é fácil. Estagiei no Atl. Madrid durante uma semana, vi o Simeone a trabalhar e é tudo com base no rigor defensivo. É bom, porque vai fazer com que o Félix melhore as questões defensivas, que sempre foram uma das suas lacunas. Mas a forma de jogar do Simeone não potencia as principais qualidades que ele tem”, explicou Renato Paiva, agora treinador do Independiente del Valle do Equador, em entrevista ao jornal Expresso.

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O treinador argentino deixou Koke e Saúl no banco e começou o jogo com Kondogbia e Lemar no onze inicial

Certo é que, este sábado, o Atl. Madrid tinha a oportunidade de voltar a segurar a liderança da classificação — depois de, na jornada anterior, ter beneficiado da derrota do Barcelona contra o Granada para continuar no primeiro lugar, já que os catalães teriam saltado para o topo da tabela se tivessem perdido essa partida. A uma semana de uma visita precisamente ao Barcelona, Simeone deixou Koke e Saúl no banco, provavelmente já a pensar nessa partida, e colocou Kondogbia e Lemar no onze inicial. João Félix também era suplente, com Correa a assumir a titularidade perto de Suárez.

O Atl. Madrid chegou ao intervalo a ganhar graças a um golo de Marcos Llorente (23′), que continua a realizar uma enorme temporada e aproveitou um bom desequilíbrio de Ferreira Carrasco na esquerda. Antes, Suárez já tinha tido um golo anulado pelo VAR, devido a posição irregular (18′). Mesmo à beira do intervalo, o árbitro da partida ainda assinalou grande penalidade de González, por parar um remate de Correa com a mão na grande área do Elche, mas a decisão acabou por ser revertida depois de analisadas as imagens do VAR.

Na segunda parte, o treinador do Elche lançou Barragán e Piatti e Simeone respondeu com João Félix já perto da hora de jogo, com o internacional português a render Lemar. Suárez voltou a ter um golo invalidado por fora de jogo (63′) e o treinador argentino, confrontado com a ausência da dilatação da vantagem e a possibilidade de o adversário conseguir empatar num lance fortuito, lançou Koke para tirar Correa e adicionar alguma solidez ao meio-campo e à posse de bola. Sem que o Elche provocasse muitos calafrios, à exceção de uma enorme oportunidade de Barragán (86′), mas com a equipa a cair em níveis de intensidade e concentração, Simeone voltou a fazer marcha-atrás e trocou Giménez e Suárez por Felipe e Saúl, deixando Félix totalmente isolado no ataque.

Já nos descontos, tudo poderia ter ido por água abaixo. Na sequência de um lance batido na esquerda, Marcos Llorente teve uma péssima abordagem e acabou por parar a bola com o braço no interior da grande área do Atl. Madrid. Na conversão da grande penalidade, porém, Fidel acertou em cheio no poste e desperdiçou a possibilidade de conquistar um ponto para o Elche (90+1′). Os colchoneros venceram depois de uma primeira parte em que mostraram uma qualidade exibicional que só tinham aplicado no início da temporada e uma segunda parte em que entraram desde logo a defender e poderiam ter sido traídos por essa estratégia. Com estes três pontos, o Atl. Madrid fica à condição com mais cinco pontos do que o Real Madrid e o Barcelona, que ainda não jogaram nesta jornada — e viu Marcos Llorente, que marcou o único golo do encontro e quase ofereceu o empate, ir ao céu para ter um poste a salvá-lo do inferno.