No comício que encerra a contra-cimeira “STOP Pobreza, STOP Precariedade”, organizada pelo Bloco de Esquerda durante a Cimeira Social Europeia, no Porto, a coordenador bloquista não esqueceu a polémica em Odemira para atacar o Governo.

“Na última semana, o país viu em Odemira a realidade que o Bloco de Esquerda e as associações de migrantes denunciam desde há muito. Ainda bem que hoje toda a gente reconhece que existe naquelas estufas uma gritante violação dos direitos humanos. Até o Governo, que em 2019, não esquecemos nem perdoamos, decidiu manter, estes trabalhadores migrantes em guetos de contentores.”

Num discurso pautado pelas desigualdades sociais, Catarina Martins alerta que o futuro tem que ser de ação e não de palavras. “Mas se hoje se reconhece o problema, resolva-se o problema. Palavras de ocasião e meias medidas, que humilham mais do que resolvem, não chegam.”

Para a coordenadora do Bloco, “o trabalho escravo tem de ser erradicado das estufas do Alentejo e em todo o país”, sublinhando que em Portugal “qualquer pessoa, independentemente da cor da sua pele ou do passaporte que traz no bolso, tem direito a uma vida digna”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No final da semana passada, o Governo decretou uma cerca sanitária às freguesias de São Teotónio e de Almograve, no concelho de Odemira, devido à elevada incidência de casos de covid-19, sobretudo entre trabalhadores do setor agrícola.

Na altura, em conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro, António Costa, sublinhou que “alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com sobrelotação das habitações”, relatando situações de “risco enorme para a saúde pública, para além de uma violação gritante dos direitos humanos”.

Na segunda-feira, fonte da Procuradoria-Geral da República disse à Lusa que o Ministério Público de Odemira tem em curso 11 inquéritos sobre auxílio à imigração ilegal para efeitos de exploração laboral. A mesma fonte acrescentou que todos os inquéritos “estão em investigação”. No mesmo dia, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) revelou que tem a decorrer 32 inquéritos em diversas comarcas do Alentejo, seis dos quais em Odemira, pelos crimes de tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal e angariação de mão-de-obra ilegal.

Também na segunda-feira, o presidente da Câmara Municipal de Odemira, José Alberto Guerreiro, estimou que, “no mínimo, seis mil” dos 13 mil trabalhadores agrícolas do concelho, permanentes e temporários, “não têm condições de habitabilidade”.