O ciberataque que levou à suspensão das operações da maior rede de oleodutos dos EUA pode transformar-se num “grande problema” para o país, arriscando mesmo colocar em causa o abastecimento de gasolina e gasóleo a várias cidades norte-americanas, incluindo Nova Iorque.

Esta segunda-feira, o FBI revelou que o ataque informático foi levado a cabo pelo grupo russo DarkSide, estando a “trabalhar com a empresa e com os parceiros do governo na investigação”. Numa conferência de imprensa esta segunda-feira sobre economia, Joe Biden também acabou por tocar no assunto: “Estamos a levar o assunto muito a sério. O FBI e o departamento de Justiça estão a tentar interromper a atividade e processar estes criminosos”.

O Presidente dos EUA descartou qualquer interferência do governo russo, dado não “haver provas” de que o país esteja envolvido no ataque. Tendo em conta a origem dos hackers, Joe Biden salientou, contudo, que o Kremlin tem “alguma responsabilidade para tratar do assunto”.

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Na mesma conferência, o chefe de Estado norte-americano também divulgou que vai haver uma reunião com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, ainda que não tenha avançado uma data nem qual o assunto a debater.

O resgate e o grupo “apolítico”

O ransomware, um tipo de ataque que se aproveita das falhas de segurança para encriptar os sistemas informáticos e posteriormente exigir um resgate para o desbloquear, aconteceu na passada sexta-feira e a vítima foi a empresa Colonial, que rapidamente divulgou a situação. Segundo algumas fontes ligadas ao processo citadas pelo El País, os hackers conseguiram aceder a 100 gigabytes de informação da empresa.

Ainda não há, no entanto, informação sobre qual é o valor do resgate. Mas, caso a Colonial se rejeite a pagar, o grupo DarkSide ameaçou a empresa de que nunca mais teria acesso ao seus dados e que os tornaria públicos na Internet.

Fundado em agosto de 2020, o grupo de hackers DarkSide disse, no seu site oficial, que era “apolítico” e que não “participava em geopolítica”, descartando estar ligado a qualquer governo. O seu objetivo é “fazer dinheiro e não criar problemas para a sociedade”.

Lior Div, chefe executivo da empresa de cibersegurança Cybereason, revelou à Reuters que este grupo era “novo”, mas estava “muito bem organizado”. Na sua opinião, alguns membros deverão ser experientes em ataques informáticos: “Eles sabem onde está o dinheiro, eles sabem quem são os decisores”.

O “grande problema”: os efeitos na procura

A Colonial abastece o leste e o sul dos Estados Unidos (incluindo Nova Iorque), transportando perto de 45% dos carburantes na costa leste do país. Não é de estranhar, portanto, que tal tenha tido um efeito no preço do petróleo, que subiu cerca de 1,5% na segunda-feira.

Ciberataque à maior rede de oleodutos dos EUA obriga a suspender operações

A empresa ainda não sabe quando vai retomar atividade. Em comunicado citado pelo site Oilprice, a Colonial salienta que o restauro da rede para níveis normais “demora tempo”. 

Para o analista Gaurav Sharma, esta paralisação pode colocar a costa leste dos EUA “num grande problema”. À BBC, o especialista considerou que os primeiros estados a serem afetados pela falta de gasóleo e gasolina seriam a Geórgia e o Tennessee, mas o “efeito dominó poderá afetar Nova Iorque”.

Em resposta aos possíveis efeitos negativos, o governo norte-americano permitiu a condutores de 18 estados no leste e do sul do país que trabalhassem mais horas e houvesse uma flexibilização dos turnos de trabalho quando transportassem produtos petrolíferos.

Ainda assim, realça Gaurav Sharma, isso poderá não ser suficiente para fazer face à procura, numa altura em que a economia dos EUA começa a recuperar os efeitos da pandemia e se avizinha o Memorial Day, uma data que leva os norte-americanos a deslocarem-se pelo país.